segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Operação Invasão 2


 A continuação do singular filme de ação do diretor Gareth Evans troca a situação básica e brutal do primeiro por uma intrincada trama de épico gangster repleta de conspirações, traições e conluios –a preencher todo esse esqueleto bem mais minimalista está a primorosa e desigual percepção de ação que Gareth Evans revelou ao mundo montando, dirigindo e roteirizando o primeiro filme (funções repetidas aqui) obrigatoriamente ampliada para ambições mais comerciais.

A ação é a filosofia que norteia a narrativa de “Operação Invasão 2” e, em sua compreensão, ela dispõe os personagens como corpos em movimento e a trama detalhada como propósitos que explicam, justificam e qualificam a ação assim deflagrada.

O policial Rama (Iko Uwais), herói do primeiro filme, mal se recupera das atribulações e a premissa, enxuta e calibrada ao filme anterior com perfeição, já o coloca em outra situação, dando prosseguimento aos eventos, e descartando inesperadamente alguns tópicos narrativos; como a irmão de Rama, essencial ao outro filme, logo abandonado aqui.

Rama cai nas malhas de um departamento de assuntos internos da polícia de Jacarta, e tem de arcar com uma missão ingrata: Disfarçar-se, por meses, como detento a fim de ganhar a confiança do filho de um chefão mafioso, e infiltrado na gangue, rastrear, sobretudo, a identidade dos policiais corruptos.

Inicialmente, ele crê que ficará alguns meses longe da esposa dele, mas os imprevistos da missão fazem Rama ficar encarcerado por dois anos (!). Ao sair, contudo, ele ganhou a confiança de Uco (Arifin Putra), filho do mafioso Bangun (Tio Pakusadewo), cuja controle do crime organizado se dá pela trégua mantida entre outras duas famílias, as de Goto (Kenichi Endo, de “Visitor Q”) e Reza (Roy Marten).

Rama passa a trabalhar para Bangun como braço de direito de Uco; entretanto, surge o ardiloso Bejo (Alex Abbad) que conquista a cumplicidade do traiçoeiro e afoito Uco para trair seu pai e levar todas as famílias a um confronto mortal que não se abatia nas ruas há pelo menos trinta anos.

Embora repleta de elementos, informações e desdobramentos, a trama deste novo “Operação Invasão” surge como perfumaria: O diretor Evans deixa claro que todo o melindroso roteiro  a esboçar o comportamento e as ações dos personagens (embora executado com espantosa e comovente primazia) serve aos propósitos das cenas cinéticas que ele desenvolve.

E que cenas!

Indo além do surpreendente e cultuado primeiro filme, “Operação Invasão 2” é uma evolução sangrenta, violenta, brutal e impecável dos filmes de pancadaria e artes marciais do wuxia; não tão estilizadas e infinitamente mais despojadas e truculentas, as técnicas de lutas realizadas aqui fazem o expectador ciente de cada golpe, cada lesão sofrida em cena, e nem por isso, os atores diminuem sua intensidade. A fisicalidade de seu elenco é algo espantoso –os lutadores fluem nas imagens com precisão estudada e dinamismo estarrecedor.

Yayan Ruhian, um dos grandes destaques no primeiro filme ressurge aqui noutro personagem (o anterior, afinal, havia morrido), mais ambíguo e certamente mais comovente, indicando com isso o zelo dos envolvidos nutrido também pela dramaturgia da obra.

Mas, é o balé visceral de socos, pontapés, ossos quebrados e sangue espirrado –exponencialmente multiplicado, expandido, aprofundado e, por fim, superado nesta continuação –que define “Operação Invasão” em sua postura enquanto cinematografia, a registrar os corpos em movimento e em colisão com uma câmera disfarçadamente irrequieta, mas incondicionalmente atenta, numa das mais primorosas exibições de habilidade física do cinema moderno.

Nenhum comentário:

Postar um comentário