A continuação do singular filme de ação do diretor Gareth Evans troca a situação básica e brutal do primeiro por uma intrincada trama de épico gangster repleta de conspirações, traições e conluios –a preencher todo esse esqueleto bem mais minimalista está a primorosa e desigual percepção de ação que Gareth Evans revelou ao mundo montando, dirigindo e roteirizando o primeiro filme (funções repetidas aqui) obrigatoriamente ampliada para ambições mais comerciais.
A ação é a filosofia que norteia a narrativa de
“Operação Invasão 2” e, em sua compreensão, ela dispõe os personagens como
corpos em movimento e a trama detalhada como propósitos que explicam,
justificam e qualificam a ação assim deflagrada.
O policial Rama (Iko Uwais), herói do primeiro
filme, mal se recupera das atribulações e a premissa, enxuta e calibrada ao
filme anterior com perfeição, já o coloca em outra situação, dando
prosseguimento aos eventos, e descartando inesperadamente alguns tópicos
narrativos; como a irmão de Rama, essencial ao outro filme, logo abandonado
aqui.
Rama cai nas malhas de um departamento de
assuntos internos da polícia de Jacarta, e tem de arcar com uma missão ingrata:
Disfarçar-se, por meses, como detento a fim de ganhar a confiança do filho de
um chefão mafioso, e infiltrado na gangue, rastrear, sobretudo, a identidade
dos policiais corruptos.
Inicialmente, ele crê que ficará alguns meses
longe da esposa dele, mas os imprevistos da missão fazem Rama ficar encarcerado
por dois anos (!). Ao sair, contudo, ele ganhou a confiança de Uco (Arifin
Putra), filho do mafioso Bangun (Tio Pakusadewo), cuja controle do crime
organizado se dá pela trégua mantida entre outras duas famílias, as de Goto
(Kenichi Endo, de “Visitor Q”) e Reza (Roy Marten).
Rama passa a trabalhar para Bangun como braço
de direito de Uco; entretanto, surge o ardiloso Bejo (Alex Abbad) que conquista
a cumplicidade do traiçoeiro e afoito Uco para trair seu pai e levar todas as
famílias a um confronto mortal que não se abatia nas ruas há pelo menos trinta
anos.
Embora repleta de elementos, informações e
desdobramentos, a trama deste novo “Operação Invasão” surge como perfumaria: O
diretor Evans deixa claro que todo o melindroso roteiro a esboçar o comportamento e as ações dos
personagens (embora executado com espantosa e comovente primazia) serve aos
propósitos das cenas cinéticas que ele desenvolve.
E que cenas!
Indo além do surpreendente e cultuado primeiro
filme, “Operação Invasão 2” é uma evolução sangrenta, violenta, brutal e
impecável dos filmes de pancadaria e artes marciais do wuxia; não tão
estilizadas e infinitamente mais despojadas e truculentas, as técnicas de lutas
realizadas aqui fazem o expectador ciente de cada golpe, cada lesão sofrida em
cena, e nem por isso, os atores diminuem sua intensidade. A fisicalidade de seu
elenco é algo espantoso –os lutadores fluem nas imagens com precisão estudada e
dinamismo estarrecedor.
Yayan Ruhian, um dos grandes destaques no
primeiro filme ressurge aqui noutro personagem (o anterior, afinal, havia morrido),
mais ambíguo e certamente mais comovente, indicando com isso o zelo dos
envolvidos nutrido também pela dramaturgia da obra.
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