terça-feira, 27 de outubro de 2020

O Mistério de Grace


 O filme contido, de baixo orçamento e estranhamente intimista do diretor Paul Solet pode ser visto como uma derivação, potencializada num filme inteiro, da cena escabrosa do ‘bebê-zumbi’ em “Madrugada dos Mortos”, ou então, uma refilmagem velada do cult “Nasce Um Monstro”.

Em qualquer caso, a sensação de que o resultado final não atinge todas as suas possibilidades é recorrente.

Com lentidão ora propícia, ora prejudicial à narrativa, nos é mostrada a dinâmica ligeiramente conflituosa no casamento de Madeline (Jordan Ladd, de “Cabana do Inferno” e “A Prova de Morte”), com Michael (Stephen Park). A mãe dele (Gabrielle Rose) impõe controle intrusivo na vida dos dois, o que frequentemente leva ela e Madeline a alguns atritos. A mais nova rusga diz respeito ao médico pretendido para acompanhar a gravidez de Madeline: Ela quer sua amiga –e antigo caso amoroso (!) –Patricia (Samantha Ferris), uma médica especializada em partos humanizados ocorridos dentro de casa; já, a sogra deseja o Dr. Sohn (Malcolm Stewart), médico da família (ainda que nitidamente negligente), por meio do qual será ainda mais fácil manter controle sobre o jovem casal.

Durante uma crise de madrugada, esses atritos se acirram –o Dr. Sohn impõe seus ditames no hospital local e entra em choque com Patricia –e, na viagem de volta, Madeline e Michael sofrem um acidente de carro. Michael morre na hora e o bebê, ainda na barriga de Madeline, é dado como morto. Ainda assim, ela insiste na continuidade da gestação e no parto humanizado. Ao dar a luz, um milagre: O bebê, chamado Grace, que aparentou nascer sem respirar dá sinais de vida!

Nos dias seguintes, a medida que tenta cuidar sozinha da filha, Madeline percebe nela comportamentos estranhos, como a predileção por sangue em detrimento às comidas convencionais para uma criança, e a quantidade espantosa de moscas que ela atrai.

Explorando cada instante dessa mescla entre terror e drama, o diretor Paul Solet cria uma narrativa de tensão restrita exclusivamente à casa da protagonista a partir de certo ponto, e se atende (às vezes até demais) a detalhes minuciosos. O grande lapso nesse preciosismo insistente vem a ser que o expectador presume os acontecimentos de seu roteiro antes que eles aconteçam exatamente por sua demora em ocorrerem. Somando-se a isso uma percepção fatalista de sua premissa, em contraponto a sua inexperiência em aprofundá-la, o trabalho do diretor Paul Solet, embora exemplifique um certo empenho em se fazer notável, não se desvencilha de armadilhas pontuais que comprometem seu filme.

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