terça-feira, 24 de setembro de 2019

Madrugada dos Mortos

Ainda um cineasta desconhecido, Zack Snyder não chegou a gerar expectativas de muita gente com esta refilmagem de “O Despertar dos Mortos”, de George Romero, segunda parte da sua “Trilogia dos Mortos-Vivos” e tido como o melhor de todos.
A surpresa veio por conta da qualidade que o trabalho de Snyder impôs à nova versão que espelhava, por sua vez, a qualidade existente (e também surpreendente) presente na refilmagem da primeira parte “A Noite dos Mortos-Vivos” lançada por Tom Savini num já longínquo 1990.
A trama segue o trabalho de Romero com relativa proximidade: A jovem Ana (Sarah Polley) acorda um belo dia crente de que sua vida seguirá normal como no dia anterior. No entanto, surpresas desagradáveis lhe aguardam –a filha da vizinha está transformada num ameaçador zumbi, e seu marido, ao ser mordido por ela. já de início, acaba convertido também ele em um morto-vivo; cadáveres funcionais interessados somente em alimentar-se de carne humana. Escapando por pouco, Ana encontra um dos poucos sobreviventes,  confiável Kenneth (Ving Rhames, sempre ótimo) e mais tarde, vários outros –o sensato Michael (Jake Webber, de "Encontro Marcado"), o perplexo Andre (Mekhi Phifer) e sua esposa grávida Luda (Inna Korobkina) –compondo um grupo de estranhos colhidos num súbito apocalypse zumbi.
Eles precisam se refugiar nas dependências de um shopping center, no qual terminam encontrando os guardas J.C., Bart e Terry (Michael Kelly, Michael Barry e Kevin Zegers), enquanto os dias aflitivos se passam e hordas de zumbis se acotovelam, cada vez mais famintos, do lado de fora. Logo, faz-se necessário elaborar um plano para sair dali e ir para algum outro lugar, talvez, mais seguro.
Entretanto, os sobreviventes não fazem ideia da situação em que está o mundo lá fora.
Esbanjando um talento que ele sempre teve, apesar dos pesares, Snyder revela estilo particular e larga capacidade ao optar por diferenças contundentes em seu andamento, conceber com serenidade e convicção cenas marcantes (como a do bebê zumbi), e construir ótimos personagens (melhores que no filme de Romero) cuja empatia leva o expectador a experimentar tensão real diante dos acontecimentos inclementes reservados a muitos deles na segunda metade.
Os puristas adoradores de Romero gostam de afirmar que a alegoria que justapõe os zumbi e a massa de consumo da era moderna (daí a ambientação num shopping center) está mais presente na obra original, mas Snyder não parece nem um pouco interessado em traçar simbolismos ou metáforas –ele deixa isso por conta daqueles que quiserem refletir sobre sua obra –ele quer é assombrar com sua tensão, provocar com suas ideias e entreter com suas emoções.

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