A pequena garota chinesa Fei Fei (voz de Cathy Ang) vive um luto: A morte prematura da mãe, o que levou-a, à propósito, a podar desordenadamente as longas madeixas pretas. Entretanto, seu pai (voz de John Cho) lhe despertar perplexidade ao demonstrar ter superado a perda; já ronda pela casa, com prudência e cautela, uma nova namorada e que traz, a tiracolo, ainda por cima, um garotinho, Chin (voz de Robert G. Chiu), candidato à irmão de Fei Fei.
Como toda adolescente que se preze, Fei Fei não
reage bem à mudança e, numa tentativa de se reconectar com a mãe falecida, ela
monta uma nave espacial (!?) com planos de chegar até a Lua, onde viveria a
deusa Chang’a, das histórias que ela lhe contava. Fei Fei acredita que,
provando a existência da deusa, seu pai deixaria a nova namorada e seguiria
enaltecendo o espírito da esposa anterior.
Lá pelas tantas, Fei Fei, de uma maneira um
pouco torta, consegue seu objetivo de ir à Lua com sua coelhinha de estimação,
Pulinho –não sem antes levar consigo Chin como clandestino –e acaba descobrindo
que lá há todo um reino, Lunária, governado pela própria Chang’A (voz de
Phillipa Soo).
Contudo, Chang’A não é exatamente o que se
esperava: Vaidosa e egocêntrica, ela é idolatrada como uma superstar pelos
seres que vivem lá, bolinhos da lua (!), produzidos inclusive a partir de suas
próprias lágrimas.
A presença de Fei Fei ali nada mais é, para
Chang’A, do que uma conveniência: A menina sem saber traz uma espécie de
presente mágico com o qual Chang’A pode obter uma poção que permitirá o retorno
de seu amado Houy, o amante mortal de Chang’A cuja lenda diz que ficou na Terra
enquanto ela, em sua imortalidade, ascendeu para a Lua.
É curiosa a abordagem do luto, da vaidade e da
idolatria nesta animação produzida exclusivamente pela Netflix –estão em pauta
muitos assuntos atuais como o empoderamento (nesse sentido, a personagem
Chang’A tem mal-disfarçadas semelhanças com Elsa, de “Frozen”), as famílias
disfuncionais, a percepção da morte em meio à infância e a sublinhada beleza da
cultura oriental chinesa. Visualmente, “A Caminho da Lua” não poupa recursos
para se fazer deslumbrante num jogo de cores tão intenso e intermitente que
deve até exacerbar os expectadores mais adultos. Esse empenho visual, a
estrutura de seu roteiro, a metodologia que norteia seus personagens, e até
suas mensagens morais seguem à risca a fórmula estabelecida pelos Estúdios
Disney –inclusive com o acréscimo um tanto desnecessário de um bichinho fofo
para cada um dos protagonistas –e. nesse sentido, não é a toa que a direção da
obra leva a assinatura do animador Glen Keane (veterano das fileiras da Disney
e vencedor do Oscar 2018 de Melhor Curta-Metragem pelo emocionante “Dear
Basketball”).
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