Embora sempre belíssima, o auge da beleza de Cameron Diaz se deu entre os sucessos “O Máskara” (aquele que a revelou) e “Quem Vai Ficar Com Mary?” (aquele que consolidou-a como estrela) –entre esses dois, um dos projetos dos quais ela participou foi “Amor Alucinante” que revelou-se indicativo do critério incomum de escolha que ela tinha como atriz; diferente das belas de sua geração, Cameron não procurava por romances ou comédias de apelo fácil, mas sim roteiros instigantes, não raro pertencentes a gêneros improváveis como, neste caso, a comédia de humor negro.
Roteirizado por uma certa Theresa Marie (que
não possui outros créditos o que pode indicar ser ela um pseudônimo), a partir
do roteiro de uma produção norueguesa escrita por Eirik Ildahl e Geir Eriksen,
e dirigido por Jim Wilson (produtor oscarizado por “Dança Com Lobos”), “Amor
Alucinante” segue a cartilha que o mestre Alfred Hitchcock estabeleceu com “O
Terceiro Tiro”: A busca paulatina e comprometedora dos perplexos protagonistas
para tentar ocultar um cadáver e livrar-se das acusações de assassinato.
Esse intrigante novelo de lã começa a
desenrolar-se na cena inicial, um traveling de câmera que flagra, numa enseada,
uma denúncia do roubo de um barco. Tal barco se encontra agora com o
almofadinha Kent (Billy Zane) que o utiliza para chegar à ilha onde o casal
Nathalie (Cameron Diaz) e George (Harvey Keitel) fogem de seus problemas. Ela
tem um histórico de dependência química; ele é juíz da Suprema Corte, e tem o
dobro da idade dela. Ali por perto, sempre está Lance (Graig Sheffer, de “Nada É Para Sempre”), velho amigo de Nathalie (e é de se supor, ainda apaixonado por
ela) que leva George para uma noite de pescaria em alto-mar.
Nesse meio-tempo, Nathalie, que fica sozinha na
casa à beira-mar, recebe a visita de Kent, seu ex-amante. Eles bebem, dançam,
conversam. E na manhã seguinte, quanto George e Lance estão para chegar,
Nathalie descobre que Kent está morto (!).
Eis o início, portanto, de toda a confusão: A
fim de evitar uma crise homérica de ciúmes em George (até porque não fica muito
claro se ela e Kent transaram ou não naquela noite) Nathalie resolve esconder o
corpo no porão da casa, bem como todos os indícios de que ele esteve ali.
Entretanto, ainda assim, George desconfia e termina achando o cadáver. Disposto
a preservar sua reputação, ele intenciona consumir com o corpo –naquele ponto,
Nathalie já tentou atrapalhadamente jogar no mar as roupas e desfazer-se do
barco –encontrando um grande problema na presença constante, ingênua e (diante
das circunstâncias) inconveniente de Lance.
Durante essas idas e vindas temperadas de
acidez, tensão e humor em igual proporção, Nathalie começa a desconfiar que a
morte de Kent não é, para George, tão casual assim: Se no início, tudo indica
que Kent morreu de ataque cardíaco, logo depois ela descobre que ele pode ter
sido envenenado por metanol –que bebeu pensando ser vodca, numa garrafa que
pode ou não ter sido deixada por George com esses mesmos propósitos, visto que
talvez ele já tivesse ideia da visita de Kent à eles.
A medida que a cumplicidade de Nathalie e
George se converte em desconfiança, novas revelações e confusões vão se
sucedendo com relativo primor; sempre quando algo parece definido no roteiro,
uma nova reviravolta desponta no horizonte, o que aponta a habilidade dos
realizadores ao moldar um filme cheio de espertas guinadas ambientado num
cenário tão longínquo e imutável, e munido de tão somente quatro protagonistas.
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