Embora tivesse sido uma época de ebuliente experimentação artística e temática, os anos 1970 não eram um período no qual arroubos técnicos tiveram tanto espaço –se desconsiderarmos as inovações de “Star Wars”, é claro –daí o fato de ser tão festejada esta realização técnica (unicamente interpretada por animais), adaptada pelo diretor Hall Bartlett do famoso livro filosófico de Richard Bach.
Sem indícios de humanos por perto, o trabalho
de Bartlett tem como ‘elenco’ várias gaivotas que ganham as vozes em ‘off’ de
atores (James Franciscus; Juliet Mills, de “Avanti!”; Philip Ahn; Dorothy
McGuire) a fim de expressar os pensamentos animais –também a narrativa recebe o
acréscimo das canções de Neil Diamond que, em sua melodia e melancolia, traduzem
algumas impressões acerca do tom reproduzido no livro (não à toa, o filme
conquistou o Globo de Ouro de Melhor Trilha Sonora).
Apesar de tudo, é inescapável a sensação de
estranhamento quando acompanhamos um grupo de gaivotas vivendo pelos mares sempre
regido pelas mesmas leis de buscar constantemente comida.
Um deles, entretanto, chamado Fernão Capelo
ignora a própria fome para dedicar-se ao que realmente deseja: Voar cada vez
mais alto, almejando assim uma espécie de grandeza por meio desse objetivo
alcançado.
Se as demais gaivotas contentam-se em planar
rente ao chão, Fernão quer flertar com o perigo nas maiores altitudes, fazer
valer as asas que a natureza lhe deu, ignorando a fome que lhe desatina as
entranhas para obter uma conquista de ordem mais abstrata e existencial.
No entanto, crentes de que essa não é sua
natureza, as demais gaivotas o repudiam, e ele é banido, ganhando os céus
intermináveis do mundo para voar.
Em seu percurso, Fernão encontra outras
gaivotas também desgarradas. Algumas trazem respostas a suas perguntas, outras
são como aprendizes que, em sua mentoria, também fornecem meios do próprio
Fernão descobrir mais.
Como no livro, em algum momento, a reflexão
existencialista embutida no texto vai além do raciocínio de alguns expectadores,
vislumbrando improbabilidades que exigem demais da narrativa.
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