sábado, 27 de julho de 2019

Avanti! Amantes À Italiana

Se o filme “O Candelabro Italiano” é um clássico do romantismo, inclusive por aproveitar amplamente os cenários turísticos e a atmosfera lírica da Itália, este trabalho do diretor Billy Wilder, sempre de um tom cáustico para com as relações humanas, pode ser visto como um quase anti-romance.
Não há, por exemplo, em Jack Lemmon (nem em seu personagem), maiores intenções de capturar a afeição do público feminino; com efeito, também a personagem de Juliet Mills surge tratada dentro do filme por todos os personagens que a cercam como uma mulher gorda e sem atrativos –características às quais, curiosamente, a escalação da bela, deliciosa e encantadora Juliet Mills não correspondem nem um pouco, coisas de Hollywood...
“Avanti!”, enfim, parte de uma peça de teatro escrita por Samuel A. Taylor, na qual o empresário Wendell Armbruster Jr. (Jack Lemmon), chega à região italiana de Ischia para reconhecer e levar para os EUA o cadáver do próprio pai, Wendell Armbruster Sr., que morreu em um acidente de carro.
Todavia, surpresas logo complicam seus planos e acirram seus nervos: Ao que parece, seu pai não estava sozinho no momento do acidente. Estava acompanhado da amante, a qual também veio a falecer. E vem a ser consequentemente a filha dela, Pamela (Juliet Mills) que Wendell encontra seguidamente até chegar ao hotel onde estavam hospedados.
As circunstâncias os aproximam, mas Wendell, irritadiço e mal-humorado, não quer saber de conversa –este é certamente um dos personagens mais apáticos e rabugentos já interpretados pelo normalmente divertido e carismático Lemmon.
Ao menos, Juliet Mills consegue contrabalançar a apatia dele com uma presença radiante e lívida: É uma ironia, portanto, que ele tenha conquistado o Globo de Ouro de Melhor Ator em Comédia ou Musical, enquanto que Juliet tenha sido somente indicada.
É claro que, em algum momento, o romance haverá de falar mais alto –estamos, afinal, na Itália, e o clima paradisíaco, e todas as situações características irão operar uma ligeira mudança em Wendell; que começará a enxergar Pamela com outros olhos.
Não esperem, contudo, uma comédia romântica com altas doses de sacarose: Antes de mais nada, a produção exala sarcasmo, inclusive para com o próprio gênero a que pertence.
O filme em si, na gama de assuntos que aborda e nas cenas que a partir deles materializa, é uma espécie de conquista tardia de Billy Wilder. Por anos, o diretor de “Crepúsculo dos Deuses” e “Quanto Mais Quente Melhor” entregou filmes (comédias em sua maioria) que desafiavam a moral e os costumes de seu tempo; e teve, no famigerado Código Hays, um constante obstáculo para expressar a totalidade de suas ideias.
Lançado em 1972, quando há tempos a censura já não era capaz de ditar restrições como antigamente, “Avanti” é um filme onde Wilder, mais até do que estruturar uma narrativa com zelo, tem a chance de se esbaldar moldando sua trama e suas cenas ao seu bel-prazer: Ele se dá o luxo de abordar um tema espinhoso como o adultério; faz sucessivas menções de cunho sexual sem ocultar malícia, faz questão de mostrar-se politicamente incorreto e ainda confere algumas cenas de nudez à Juliet Mills.
Simplesmente porque pode. Porque o Código Hays não tem mais força para impedi-lo de fazer o que quer.
Com efeito, “Avanti” resulta num filme não tão esplêndido quanto outros que Wilder entregou no auge de sua carreira. Entretanto, ele ainda consegue divertir, inclusive porque sua receita, no fim das contas, é mais graciosa do que ferina.

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