Se o filme “O Candelabro Italiano” é um
clássico do romantismo, inclusive por aproveitar amplamente os cenários
turísticos e a atmosfera lírica da Itália, este trabalho do diretor Billy
Wilder, sempre de um tom cáustico para com as relações humanas, pode ser visto
como um quase anti-romance.
Não há, por exemplo, em Jack Lemmon (nem em seu
personagem), maiores intenções de capturar a afeição do público feminino; com
efeito, também a personagem de Juliet Mills surge tratada dentro do filme por
todos os personagens que a cercam como uma mulher gorda e sem atrativos
–características às quais, curiosamente, a escalação da bela, deliciosa e
encantadora Juliet Mills não correspondem nem um pouco, coisas de Hollywood...
“Avanti!”, enfim, parte de uma peça de teatro
escrita por Samuel A. Taylor, na qual o empresário Wendell Armbruster Jr. (Jack
Lemmon), chega à região italiana de Ischia para reconhecer e levar para os EUA
o cadáver do próprio pai, Wendell Armbruster Sr., que morreu em um acidente de
carro.
Todavia, surpresas logo complicam seus planos e
acirram seus nervos: Ao que parece, seu pai não estava sozinho no momento do
acidente. Estava acompanhado da amante, a qual também veio a falecer. E vem a
ser consequentemente a filha dela, Pamela (Juliet Mills) que Wendell encontra
seguidamente até chegar ao hotel onde estavam hospedados.
As circunstâncias os aproximam, mas Wendell,
irritadiço e mal-humorado, não quer saber de conversa –este é certamente um dos
personagens mais apáticos e rabugentos já interpretados pelo normalmente
divertido e carismático Lemmon.
Ao menos, Juliet Mills consegue contrabalançar a
apatia dele com uma presença radiante e lívida: É uma ironia, portanto, que ele
tenha conquistado o Globo de Ouro de Melhor Ator em Comédia ou Musical,
enquanto que Juliet tenha sido somente indicada.
É claro que, em algum momento, o romance haverá
de falar mais alto –estamos, afinal, na Itália, e o clima paradisíaco, e todas
as situações características irão operar uma ligeira mudança em Wendell; que
começará a enxergar Pamela com outros olhos.
Não esperem, contudo, uma comédia romântica com
altas doses de sacarose: Antes de mais nada, a produção exala sarcasmo,
inclusive para com o próprio gênero a que pertence.
O filme em si, na gama de assuntos que aborda e
nas cenas que a partir deles materializa, é uma espécie de conquista tardia de
Billy Wilder. Por anos, o diretor de “Crepúsculo dos Deuses” e “Quanto Mais
Quente Melhor” entregou filmes (comédias em sua maioria) que desafiavam a moral
e os costumes de seu tempo; e teve, no famigerado Código Hays, um constante
obstáculo para expressar a totalidade de suas ideias.
Lançado em 1972, quando há tempos a censura já
não era capaz de ditar restrições como antigamente, “Avanti” é um filme onde
Wilder, mais até do que estruturar uma narrativa com zelo, tem a chance de se
esbaldar moldando sua trama e suas cenas ao seu bel-prazer: Ele se dá o luxo de
abordar um tema espinhoso como o adultério; faz sucessivas menções de cunho
sexual sem ocultar malícia, faz questão de mostrar-se politicamente incorreto e
ainda confere algumas cenas de nudez à Juliet Mills.
Simplesmente porque pode. Porque o Código Hays
não tem mais força para impedi-lo de fazer o que quer.
Com efeito, “Avanti”
resulta num filme não tão esplêndido quanto outros que Wilder entregou no auge
de sua carreira. Entretanto, ele ainda consegue divertir, inclusive porque sua
receita, no fim das contas, é mais graciosa do que ferina.
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