Uma co-produção chilena e argentina, “A
Dançarina e O Ladrão”, de Fernando Trueba, herda assim as características
notáveis de ambas essas vertentes de cinema moldando uma história poderosa de
drama humano e intrincados percalços do destino.
Ambientado no Chile, o filme tem seu princípio
básico baseado em suas circunstâncias políticas frequentemente inusitadas:
Devido a uma lei, segundo a qual os presidiários por crimes médios com dois
terços de sua pena já cumpridos poderiam ser libertados, saem da cadeia, no
mesmo dia, o famoso arrombador de cofres Nicolas Vergara Grey (Ricardo Darín) e
o jovem Angel Santiago (Abel Ayala).
Desejoso de se reintegrar à sociedade, Nicolas
procura por sua esposa e filho, no entanto, o seu reconhecimento como ladrão se
reflete em vergonha para a família, e tanto a esposa quanto o filho já
providenciaram um substituto de classe média alta para colocar em seu lugar
nesses cinco anos em que ficou encarcerado.
Também o dinheiro que supostamente havia ficado
sob o cuidado de um amigo já não existe mais: Desvaneceu-se em negócios
mal-sucedidos e hipotecas desvantajosas.
Angel, por outro lado, não tinha maiores
ligações com o crime –havia sido preso por tentar roubar um cavalo, pelo qual
nutria um apego especial. Entretanto, um assunto pendente com o diretor do
presídio (uma questão que se mantém sempre nebulosa) coloca em seu encalço uma
espécie de assassino de aluguel.
No percurso dos acontecimentos, as duas linhas
narrativas encontram um jeito de se encontrar. Angel se apaixona por Victoria
(Miranda Bodenhöfer), um bailarina muda –devido ao trauma de ver, quando
criança, os pais serem assassinados pelas milícias de Pinochet –talentosa,
porém, à beira da mendicância, e passa a almejar uma vida melhor, não apenas para
si próprio, mas agora para ela também.
Nicolas busca um afastamento de sua
especialidade no crime, mas quanto mais tenta se apoiar em outras esperanças,
mais a fragilidade delas o empurra de volta ao que era antes.
E Angel tem um plano.
Já havia saído da cadeia com ele: Um
companheiro de cela, um anão, compartilhara com ele o plano, cheio de astúcia,
no qual Nicolas Vergara Grey é imprescindível, e do qual sairiam todos
milionários, desde que fossem hábeis o bastante para se esquivarem dos perigos.
Como é habitual no cinema
chileno e no argentino, o roteiro constrói com minúcia habilidosa grandes
personagens, temperando a narrativa com a satisfação de ve-los interagir:
Embora as dinâmicas mais sensacionais e envolventes sejam as do trio central
(Nicolas, Angel e Victoria), existem outros personagens como Wilson (Mario
Guerra), o chofer de taxi, fã inveterado do ladrão e que dele se torna um
aliado; ou a ex-esposa de Nicolas, Teresa (Ariadna Gil), em cujos encontros se
percebe um conflito entre amor e desconfiança.
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