Steve Segal ainda era um ex-guarda-costas
quando tentou carreira no cinema como mais um dos muitos heróis de ação que
buscaram seguir o caminho traçado por Arnold Schwarzenegger e Sylvester
Stallone.
Nos anos 1980 –onde a cultura pop de então era
um terreno fértil para astros inexpressivos, mas bons de briga –Segal se tornou
um especialista de médio porte do gênero: Não chegava nem perto do estrelato
conquistado por Schwarzenegger ou Stallone, mas seus filmes rendiam bem no
nicho a que se dirigiam, mais ou menos como ocorria com Jean Claude Van Damme.
Dentre as dezenas de produções rasteiras e
esquecíveis estreladas por Segal na época, “Nico” se sobressai apontada como
uma das melhores.
A razão para isso é o diretor Andrew Davis que
anos depois entregaria o formidável “O Fugitivo”. Competente, Davis é um
diretor que sabe dosar com sensatez as deficiências inevitáveis desse tipo de
produção e consegue conjuga-las sabiamente com as qualidades técnicas de que
dispõe.
O roteiro de “Nico” não é e nem quer ser um
primor de escrita –todo o objetivo do prólogo capenga é, quando muito,
contextualizar o herói do filme (intenção que atende mais ao ego de seu ator
principal do que às demandas da narrativa): Nico Toscani é um italo-americano. Apesar dessas raízes, porém, ele é fascinado na cultura oriental, razão pela qual especializou-se em
artes marciais. Logo sabemos que ele serviu como agente da CIA em plena guerra
do Vietnam –repare como esse protagonista meio agente secreto, meio “Rambo”,
obedece todas as características absolutamente implausíveis que compõem um
herói daqueles tempos: No Vietnam, uma espécie de desilusão para com seus
superiores o leva a abandonar o ofício (!) e, alguns anos depois, Nico está em
Chicago onde trabalha como policial (!).
No entanto, a desilusão com os superiores (e
com o próprio sistema) vai tornar a ser um problema, quando Nico esbarra por
acaso numa venda ilegal de explosivos C4.
Ele mal tem tempo de prender os meliantes –numa
cena de tiroteio e perseguição que só não esbarra no desleixo de sua execução
porque o diretor Davis soube dar a ela a devida urgência na sala de montagem –e
o FBI aparece para tomar-lhes os prisioneiros e a investigação.
Os criminosos são liberados, o caso é arquivado
e os policiais outrora envolvidos, como Nico e sua parceira Delores Jackson
(Pam Grier, sensacional como sempre), são silenciados.
Trocando em miúdos: Alguém com as costas largas
no FBI está envolvido nas atividades criminosas.
Nem chega a ser um grande mistério. Não demora
para descobrirmos que é Zagon (Henry Silva), o mesmo detestável oficial que se
indispôs com Nico no Vietnam.
Dessa maneira, sem os recursos policiais a sua
disposição, Nico deve navegar por uma trama nebulosa que envolve um grupo de
refugiados da América do Sul e um senador americano devidamente marcado para
morrer.
Segundo consta, o roteiro de “Nico-Acima da
Lei”, escrito por Andrew Davis e pelo próprio Steve Segal, inspirou-se em
notícias do período que davam conta de executivos da CIA e do FBI que
utilizavam o tráfego de drogas para manipular as guerras deflagradas em países
de terceiro mundo.
A despeito dessa forçosa tentativa de pedigree,
a trama é rasa feito um pires e seus objetivos não vão além do genérico: Tiros,
bordoadas, perseguições. Tudo manuseado para enfatizar o dinamismo e a
desenvoltura física de Segal nessas ocasiões.
No que se espera dele (a presença física
exuberante), Segal se sai bem, contornando até mesmo a evidente incapacidade
interpretativa devido à astúcia de seu diretor.
O curioso mesmo é notar que
neste filme –e em vários outros que vieram depois –prevalece uma estranha
personalidade da parte de seu astro principal, que insiste em usar jaquetas de
couro, e adotar uma mesma postura diante das situações (características humanas
como medo, vulnerabilidade ou dúvida passam longe dele), além de um estilo
marrento perceptível até mesmo nas coreografias de luta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário