segunda-feira, 29 de julho de 2019

Nico - Acima da Lei

Steve Segal ainda era um ex-guarda-costas quando tentou carreira no cinema como mais um dos muitos heróis de ação que buscaram seguir o caminho traçado por Arnold Schwarzenegger e Sylvester Stallone.
Nos anos 1980 –onde a cultura pop de então era um terreno fértil para astros inexpressivos, mas bons de briga –Segal se tornou um especialista de médio porte do gênero: Não chegava nem perto do estrelato conquistado por Schwarzenegger ou Stallone, mas seus filmes rendiam bem no nicho a que se dirigiam, mais ou menos como ocorria com Jean Claude Van Damme.
Dentre as dezenas de produções rasteiras e esquecíveis estreladas por Segal na época, “Nico” se sobressai apontada como uma das melhores.
A razão para isso é o diretor Andrew Davis que anos depois entregaria o formidável “O Fugitivo”. Competente, Davis é um diretor que sabe dosar com sensatez as deficiências inevitáveis desse tipo de produção e consegue conjuga-las sabiamente com as qualidades técnicas de que dispõe.
O roteiro de “Nico” não é e nem quer ser um primor de escrita –todo o objetivo do prólogo capenga é, quando muito, contextualizar o herói do filme (intenção que atende mais ao ego de seu ator principal do que às demandas da narrativa): Nico Toscani é um italo-americano. Apesar dessas raízes, porém, ele é fascinado na cultura oriental, razão pela qual especializou-se em artes marciais. Logo sabemos que ele serviu como agente da CIA em plena guerra do Vietnam –repare como esse protagonista meio agente secreto, meio “Rambo”, obedece todas as características absolutamente implausíveis que compõem um herói daqueles tempos: No Vietnam, uma espécie de desilusão para com seus superiores o leva a abandonar o ofício (!) e, alguns anos depois, Nico está em Chicago onde trabalha como policial (!).
No entanto, a desilusão com os superiores (e com o próprio sistema) vai tornar a ser um problema, quando Nico esbarra por acaso numa venda ilegal de explosivos C4.
Ele mal tem tempo de prender os meliantes –numa cena de tiroteio e perseguição que só não esbarra no desleixo de sua execução porque o diretor Davis soube dar a ela a devida urgência na sala de montagem –e o FBI aparece para tomar-lhes os prisioneiros e a investigação.
Os criminosos são liberados, o caso é arquivado e os policiais outrora envolvidos, como Nico e sua parceira Delores Jackson (Pam Grier, sensacional como sempre), são silenciados.
Trocando em miúdos: Alguém com as costas largas no FBI está envolvido nas atividades criminosas.
Nem chega a ser um grande mistério. Não demora para descobrirmos que é Zagon (Henry Silva), o mesmo detestável oficial que se indispôs com Nico no Vietnam.
Dessa maneira, sem os recursos policiais a sua disposição, Nico deve navegar por uma trama nebulosa que envolve um grupo de refugiados da América do Sul e um senador americano devidamente marcado para morrer.
Segundo consta, o roteiro de “Nico-Acima da Lei”, escrito por Andrew Davis e pelo próprio Steve Segal, inspirou-se em notícias do período que davam conta de executivos da CIA e do FBI que utilizavam o tráfego de drogas para manipular as guerras deflagradas em países de terceiro mundo.
A despeito dessa forçosa tentativa de pedigree, a trama é rasa feito um pires e seus objetivos não vão além do genérico: Tiros, bordoadas, perseguições. Tudo manuseado para enfatizar o dinamismo e a desenvoltura física de Segal nessas ocasiões.
No que se espera dele (a presença física exuberante), Segal se sai bem, contornando até mesmo a evidente incapacidade interpretativa devido à astúcia de seu diretor.
O curioso mesmo é notar que neste filme –e em vários outros que vieram depois –prevalece uma estranha personalidade da parte de seu astro principal, que insiste em usar jaquetas de couro, e adotar uma mesma postura diante das situações (características humanas como medo, vulnerabilidade ou dúvida passam longe dele), além de um estilo marrento perceptível até mesmo nas coreografias de luta.

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