A carreira de Neil Blomkamp padece de um
problema parecido com a de Frank Darabont (diretor de “Um Sonho de Liberdade”):
Seu filme inaugural (no caso, o vibrante e inventivo “Distrito 9”) ostenta
tanto brilho que todas as suas obras subsequentes se revelam pálidas na
comparação.
Assim como “Elysium”, este “Chappie” parece
espernear na direção de uma temática diferenciada (ainda que também futurista)
sem conseguir ocultar o fato de que é um filme feito nos mesmos moldes daquele.
Na mesma cidade sul-africana de Johanesburgo,
em um futuro próximo, a população comemora a implantação de policiais robôs que
reduzem dramaticamente o índice de criminalidade.
O jovem gênio por trás do projeto, Deon (Dev
Patel), no entanto, não deseja se acomodar nesse êxito: Ele quer ir além e
conceber o primeiro autômato dotado de inteligência e consciência artificial.
Quando seus ideais são inibidos pelo raciocínio
corporativo de sua empregadora (Sigourney Weaver), Deon não hesita em testar a
inteligência artificial na carcaça de um policial robô avariado. É assim que
ele cria Chappie (personagem a quem o ator Sharlto Copley dá uma riquíssima e
expressiva gama de maneirismos gestuais).
Deixado aos cuidados de um grupo marginal,
Chappie –que ostenta em princípio, a ingenuidade e a inocência de uma criança
–é colhido no fogo cruzado de interesses dos ‘adultos’ ao seu redor: Para Deon
(que ele chama de ‘Criador’), ele é uma obra de arte que definirá o futuro, e
deve ser instruído com zelo e critério; para Yo-landi (Yolandi Visser), que
assume o papel de sua mãe, ele é alguém a ser protegido e em quem ela pode
depositar seu frustrado instinto materno; e para o hostil Ninja (Watkin Tudor
Jones), uma improvável e inclemente figura paterna, ele é um meio de
arregimentar um indivíduo tão poderoso quanto os policiais robôs para seu
próprio lado.
Em meio a tudo isso, Chappie deve aprender a
encontrar seu próprio papel a ser desempenhado no destino de todos.
Ao fundir uma premissa que
remete ao enredo básico do filme oitentista “Um Robô Em Curto-Circuito” com seu
estilo arrojado e adepto de ação explosiva, Blomkamp certamente não realizou
uma obra ruim –de modo geral, “Chappie” entretém e captura a atenção o bastante
para não ofender nem a inteligência, nem o tempo investido do expectador –no
entanto, mais do que qualquer outro filme, ele deixa bem evidente a pouca
disposição de seu realizador em abandonar sua própria zona de conforto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário