segunda-feira, 29 de julho de 2019

Chappie

A carreira de Neil Blomkamp padece de um problema parecido com a de Frank Darabont (diretor de “Um Sonho de Liberdade”): Seu filme inaugural (no caso, o vibrante e inventivo “Distrito 9”) ostenta tanto brilho que todas as suas obras subsequentes se revelam pálidas na comparação.
Assim como “Elysium”, este “Chappie” parece espernear na direção de uma temática diferenciada (ainda que também futurista) sem conseguir ocultar o fato de que é um filme feito nos mesmos moldes daquele.
Na mesma cidade sul-africana de Johanesburgo, em um futuro próximo, a população comemora a implantação de policiais robôs que reduzem dramaticamente o índice de criminalidade.
O jovem gênio por trás do projeto, Deon (Dev Patel), no entanto, não deseja se acomodar nesse êxito: Ele quer ir além e conceber o primeiro autômato dotado de inteligência e consciência artificial.
Quando seus ideais são inibidos pelo raciocínio corporativo de sua empregadora (Sigourney Weaver), Deon não hesita em testar a inteligência artificial na carcaça de um policial robô avariado. É assim que ele cria Chappie (personagem a quem o ator Sharlto Copley dá uma riquíssima e expressiva gama de maneirismos gestuais).
Deixado aos cuidados de um grupo marginal, Chappie –que ostenta em princípio, a ingenuidade e a inocência de uma criança –é colhido no fogo cruzado de interesses dos ‘adultos’ ao seu redor: Para Deon (que ele chama de ‘Criador’), ele é uma obra de arte que definirá o futuro, e deve ser instruído com zelo e critério; para Yo-landi (Yolandi Visser), que assume o papel de sua mãe, ele é alguém a ser protegido e em quem ela pode depositar seu frustrado instinto materno; e para o hostil Ninja (Watkin Tudor Jones), uma improvável e inclemente figura paterna, ele é um meio de arregimentar um indivíduo tão poderoso quanto os policiais robôs para seu próprio lado.
Em meio a tudo isso, Chappie deve aprender a encontrar seu próprio papel a ser desempenhado no destino de todos.
Ao fundir uma premissa que remete ao enredo básico do filme oitentista “Um Robô Em Curto-Circuito” com seu estilo arrojado e adepto de ação explosiva, Blomkamp certamente não realizou uma obra ruim –de modo geral, “Chappie” entretém e captura a atenção o bastante para não ofender nem a inteligência, nem o tempo investido do expectador –no entanto, mais do que qualquer outro filme, ele deixa bem evidente a pouca disposição de seu realizador em abandonar sua própria zona de conforto.

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