Com a possível exceção das artimanhas do grupo
Monty Python, este é o filme inaugural das fases de comédias abiloladas, mais
apoiadas em esquetes e gags visuais que propriamente na história. Ainda assim
este filme tem um fio narrativo que orienta sua sequência de cenas a despeito
dos filmes que vieram depois, cada vez mais aparados em referências a sucessos
cinematográficos e outros filmes.
É, portanto, ao trio de roteiristas Jim
Abrahams, Jerry Zucker e David Zucker que se deve a iniciativa da realização
desta comédia hoje icônica ante o estilo que origina. Mais roteiristas do que
realizadores (isto é, diretores e produtores), o trio responsável pelo show
“The Kentucky Fried Theater” (logo convertido no longa-metragem para cinema
“The Kentucky Fried Movie”) inspirou-se num filme dos anos 1950 intitulado
“Entre A Vida e A Morte” para elaborar esta comédia: Parte do filão claudicante
dos filmes-catástrofes, “Entre A Vida e A Morte” é aquele tipo de produção cujo
tom pomposo das atuações, o clima geral de perigo e tensão somado às motivações
da premissa soam ridículos nos dias de hoje.
A rigor, “Entre A Vida e A Morte” e “Apertem Os
Cintos, O Piloto Sumiu” têm a mesma trama: Um avião tripulado, repleto de
passageiros enfrenta graves complicações em seu voo, quando sua tripulação
sofre intoxicação alimentar (!). A esperança recai sobre os ombros de um dos
passageiros, um ex-piloto que abandonou a aviação devido a um trauma do
passado.
A diferença: Se “Entre A Vida e A Morte” foi
uma produção pretensamente séria tornada uma comédia involuntária pelo efeito
do tempo sobre suas caracterizações equivocadas, “Apertem Os Cintos, O Piloto
Sumiu” é, por sua vez, uma comédia completamente assumida, e que ainda por cima
aproveitou a oportunidade para satirizar a nova onda de filmes-catástrofes dos
anos 1970 de então, iniciada por produções como “Aeroporto” –com o qual, este
filme estabelece similaridades propositais de objetivos satíricos.
Veterano de guerra, daqueles tipicamente
abalados por suas experiências traumáticas (e não tenha dúvidas, esse pretexto
também serve à tiração de sarro), o protagonista, Ted Striker, vivido por
Robert Hays (de “Olhos de Gato”), toma um voo com destino a Chicago disposto a
convencer sua amada, Elaine (Julie Hagerty), uma das comissárias de bordo, a
reatar o namoro.
No decorrer da viagem, um peixe servido no
jantar causa intoxicação na tripulação e em boa parte dos passageiros –algo que
realmente ocorre em “Entre A Vida e A Morte” –comprometendo o voo que se
encontra em pleno ar. A única pessoa a bordo apta para aterrissar o avião em
segurança e salvar a vida de todos é Ted, desde que ele consiga superar os
traumas do passado que criaram uma espécie de bloqueio que o impede de pilotar
um avião.
Se algo na premissa sugere alguma seriedade,
tanto em “Apertem Os Cintos, O Piloto Sumiu” como em “Entre A Vida e A Morte”
ela soa impagável de tão nonsense –o mais impressionante é o filme dos anos
1950 ostentar suas impressões de drama em torno de um enredo tão risível.
Já, o trabalho dos comediantes
vai no sentido oposto: Ao conceber uma obra onde o elenco é orientado a
expressar uma improvável seriedade, eles entregam uma produção frequentemente
hilariante.
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