segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Grito de Pavor

 


Esta realização do diretor britânico Seth Holt tem peculiar e bem-vinda característica a partir da qual toda e qualquer informação fornecida de seu plot pode comprometer a apreciação da obra, tão cheia de mistérios e de surpresas ela é.

“Grito de Pavor” une, com perícia insuspeita e algumas pequenas coincidências, elementos de três filmes de Alfred Hitchcock: Temos a trama nebulosa, de propósitos multifacetados que se descortinam de modo surpreendente ao expectador conforme progridem os eventos, extraída de “Psicose”; o(a) protagonista confinado(a) numa cadeira de rodas, cuja condição, acima de tudo, potencializa o suspense, como em “Janela Indiscreta”; e o enigma algo mirabolante (e por isso mesmo, instigante no público pela busca de respostas) de um cadáver que desaparece e reaparece o tempo todo, como em “O Terceiro Tiro”.

Desses tópicos se constrói o filme de Holt –e, a partir daqui, detalhá-lo significará entregar invariavelmente algumas de suas surpresas: A trama começa, antes mesmo dos créditos, com a descoberta de um cadáver num país estrangeiro (nem mesmo os diálogos dos policiais, em outra língua, ganham legendas); trata-se de um elemento que será, depois, reaproveitado de maneira esperta pelo roteiro.

Afastada a dez anos do seio familiar, a jovem cadeirante Penny Appleby (Susan Strasberg, a garotinha de “Férias de Amor”) volta da Itália, onde passou a última década, para ficar junto do pai, em sua mansão na França.

Penny requerer cuidados especiais, desde que ficou paralítica, anos antes, ao cair de um cavalo: E o galante motorista da família, Bob (Ronald Lewis), parece mais do que disposto a fornecer esses cuidados. Ao chegar na mansão da família, Penny é surpreendida com algumas revelações: Seu pai foi viajar misteriosamente –sem avisar Penny, sem dizer para onde ia nem quando voltaria –e sua madrasta, Jane (Ann Todd, de “Daqui A Cem Anos”), que até então nunca tinha visto, a cobre de suspeitas gentilezas: Parecem ser menos para fazê-la se sentir em casa, e mais para que Jane controle cada movimento que faz.

Ao longo dos dias, em meio à uma atmosfera a sugerir que algo errado está acontecendo, Penny flagra, em momentos fortuitos, o que parece ser o cadáver do próprio pai (!), entretanto, toda a vez que uma testemunha surge, o cadáver não está mais lá. Desaparece!

Para o médico da família, Dr. Gerrard (Christopher Lee), tais visões podem ser surtos que alguma loucura que está prestes a dominar Penny. E tal loucura, ao menos para a Jane vem bem a calhar: Na impossibilidade de Penny administrar o dinheiro da família, após a morte de seu pai, seria Jane quem receberia toda a fortuna.

A jovem, contudo, está plenamente lúcida, e certa de que as aparições do cadáver do pai fazem parte de uma conspiração, e ela tem somente o auxílio do prestativo Bob para encontrar o corpo, escondido em algum lugar da mansão, e provar junto à polícia essas tramóias.

Construindo uma narrativa de suspense notável e saborosa, com eficaz utilização de sustos abruptos em quantidade muito maior do que o habitual, o diretor Holt molda uma pequena e injustamente pouco conhecida pérola do gênero, agraciada com pontuais reviravoltas, indicativas da criatividade e requinte nas mentes férteis daqueles realizadores de então.

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