“Picnic” foi uma peça teatral escrita por
William Inge e estreada em meados de 1953. Imediatamente, sua mistura
inteligente de intrigas amorosas, sensualidade e observação moral de
comportamentos provincianos capturou o fascínio do público que transformou-o
num sucesso dos palcos.
Dois anos depois, ele seguiu o caminho natural
ao ser adaptado para cinema num filme que, em 1955, disputou o Oscar com o
vencedor “Marty”.
Dirigido pelo mesmo realizador da montagem
teatral, Joshua Logan (que mais tarde dirigiu “Nunca Fui Santa” e “Ao Sul do
Pacífico”), “Férias de Amor” começava com a trajetória erradica de andarilho do
não tão jovem Hal Carter (William Holden, usando e abusando de seu sex-appeal).
Promissor quando jovem, Carter deixou que seu ímpeto o conduzisse por caminhos
desregrados: É na qualidade de um desempregado sem eira nem beira que Carter
chega, de carona num trem, a Independence, uma cidadezinha do Kansas, onde
pretende localizar um ex-colega da faculdade, Alan Benson (Cliff Robertson), e
obter algum emprego.
Na chegada, ao prestar auxílio a uma
hospitaleira senhora cuidando de seu jardim em troca do café da manhã, Carter
tem contado com suas vizinhas, as irmãs Owens, a mais nova e diletante Millie
(Susan Strasberg) e a mais velha e assombrosamente linda Madge (Kim Novak, uma
verdadeira aparição!).
Por meio de co-relações comuns em comunidades
menores e por ironias típicas da ficção, Madge é namorada de Alan, e quando
Carter enfim o encontra, muito do efeito causado pelo visitante já está em
andamento: Viril e exuberante, Carter chama a atenção das duas irmãs e desperta
impulsos desconfortáveis da hóspede da casa delas, a solteirona Rosemary
(Rosalind Russell).
Estão em andamento as comemorações do Festival
de Neewollah –o “Picnic” mencionado no título original, ampliado na versão
cinematográfica para um grande evento –e eventualmente Carter é chamado para
acompanhar Millie enquanto Alan planeja ostentar Madge (certamente, a mulher
mais linda da cidade), a grande favorita ao posto de Rainha do Baile.
As dinâmicas se estabelecem com parcimônia e
zelo: A mãe delas (Betty Field) almeja a todo custo um casamento de Madge com o
endinheirado Alan; Millie se ressente pela superestima excessiva que Madge
recebe de todos em função de sua grande beleza; Rosemary não deixa de perceber
(e ser afetada pelo) charme másculo de Carter e, em sua perplexidade, derrama
suas neuroses no único homem que a atura, o boa-praça Howard (Arthur O’Connell,
indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante e único oriundo da montagem teatral);
e Alan demonstra (inicialmente em olhares quase imperceptíveis, depois em
comentários de descaso mais evidente) o profundo ressentimento que nutre pela
capacidade natural que o carismático Carter tem de chamar as atenções para si.
Amparada nessas impressões, a narrativa segue
ao longo do festival, entremeada de uma notável tensão que a direção deixou
curiosamente nítida desde o princípio.
A partir mais ou menos de sua metade, quando as
festividades ganham a noite, as músicas e danças se tornam mais íntimas, e
aqueles que beberam se deixam exasperar pela embriaguez, o filme de Joshua
Logan dá sua pequena e decisiva guinada, ao mostrar que Carter e Madge se
deixaram levar pela atração experimentada desde o primeiro momento, e todos os
personagens ao redor deles têm uma dramática reação à esse amor.
Alan responde com violência, Millie com
tristeza e Rosemary com tal inveja injustificada que termina insultando Carter
e acusando-o de todos os contratempos ocorridos na noite: Ela diz que ele levou
o uísque com o qual Millie se embebedou (não foi, quem levou foi Howard).
É a deixa perfeita para Alan hostilizá-lo e, em
última instância, tentar livrar-se dele.
Ainda que a direção de
Joshua Logan não seja de todo perfeita –ele não tocava um projeto cinematográfica
há pela menos 17 anos, desde “Tinha Que Ser Tua”, de 1938, e, com efeito,
alguns atores (como o próprio Holden) interpretam no limiar do histrionismo
–“Férias de Amor” é notável justamente por essa ciranda de dramas e amores que
envolvem do início ao fim o expectador, e também pela excelência técnica que
exibe (ele venceu os Oscar de Melhor Montagem e Melhor Direção de Arte em
Cores).
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