quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Marty


Nos créditos iniciais de “Marty” a trilha sonora de Roy Webb é retumbante. No entanto, ela contrasta radicalmente com o filme que começa logo depois.
Marty Piletti (vivido com naturalidade, carisma e transparência por Ernest Borgnine) é um açougueiro de trinta e cinco anos. Com todos os seus numerosos irmãos mais novos casados e com filhos, é habitual para Marty ouvir desaforos o tempo todo de pessoas indignadas com o fato de ainda ser solteiro.
Sua mãe, seus amigos, seus clientes do açougue; todos palpitam intrometidamente em sua vida pessoal.
Marty até tenta: Joga seus flertes acanhados numa ou noutra ocasião. Mas, ele próprio tem consciência de sua falta de atrativos, dos anos de juventude já passados que buscou por uma companheira (e que se mostraram paulatinamente infrutíferos), e da sensação desgostosa de se conviver com a constante rejeição feminina.
Numa noite desiludida como outra noite qualquer, Marty, porém, conhece Clara (Betsy Blair), uma jovem professora, tímida e insegura. E um vínculo inesperado parece então se formar: Marty encontrou aquela que parece corresponder a ele.
No entanto, as mesmas pessoas que antes cutucavam Marty por sua solteirice crônica começam a frustrar suas expectativas de felicidade: Como Angie (Joe Mantell), seu melhor amigo que, constatando a injúria da solidão por não ter mais seu amigo de farra ao lado, chama Clara de ‘bagulho’, dizendo que ela é feia; ou a própria mãe de Marty (Esther Minciotti) que, se antes perturbava o filho para arrumar uma garota, depois de vê-lo com uma começa a ser acometida por todos os tipos de paranoia da mãe que pensa estar sendo abandonada –não ajuda em nada sua própria irmã (Augusta Ciolli) estar sendo mandada embora de casa pelo primo de Marty (Jerry Paris) e sua esposa (Karen Steele) –e começa, também a verbalmente atacar Clara, encontrando argumentos implicantes para não gostar dela.
Realizado com uma simplicidade poderosa, o filme dirigido por Delbert Mann e produzido pelo astro Burt Lancaster, é uma crônica agradável e competente sobre pessoas comuns (tanto Borgnine quanto Betsy Blair passam longe, por exemplo, de arquétipos de beleza) e suas angústias e incertezas corriqueiras de apelo universal –sua execução equilibrada e acertada e a inteligente despretensão de não ser mais do que de fato é fascinou os membros da Academia a ponto de lhe premiarem com quatro Oscars (entre eles, os de Melhor Filme, Melhor Diretor para Mann e Melhor Ator para Borgnine).

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