quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Megamente


Alvo de chacota e humilhação desde quando era pequeno, o alienígena azul Megamente (voz de Will Ferrell) seguiu o caminho que se esperava dele: Tornou-se um supervilão, sempre às turras com o outro alienígena enviado à Terra, o bonitão, heróico e idolatrado Metroman (voz de Brad Pitt).
Porém, um belo dia, após uma vida inteira de planos megalomaníacos que jamais deram certo, Megamente, praticamente por acaso, derrota seu arquiinimigo.
Tendo então dominado a cidade de Metrocity, ele se descobre insatisfeito sem seu eterno adversário por perto. E “Megamente”, o longa-metragem de animação do qual é protagonista encontra seu grande enredo: De que serve, afinal, um grande vilão depois que dele é tirado aquilo que o confronta e paradoxalmente lhe dá um propósito, o grande herói?
Ao dar corpo hilário à essa questão –e um sem-fim de ramificações bem sacadas –o diretor Tom McGrath mal disfarça este exercício de imaginação onde um ‘Lex Luthor’ hipotético realiza seu sonho, dando cabo de um ‘Superman’ hipotético, para daí perceber que a existência de um alimentava a existência do outro.
Enquanto descobre-se atraído por Rosane (voz de Tina Fey), a bela repórter que até então o odiava e adorava Metro Man (e que deliberadamente tem toda a pinta de Lois Lane), Megamente decide elaborar um plano (tão mirabolante quanto todos os outros, diga-se) para criar outro super-herói. Contudo, as coisas dão errado quando, num erro de julgamento, ele dá poderes a um zé ninguém rancoroso e inconseqüente que, ao descobrir-se poderoso, não manifesta qualquer interesse em ser herói e ajudar os outros, mas sim em satisfazer as suas próprias vontades.
É quando a animação chega num ponto em que deve afrouxar sua sátira para a ela incorporar algum valor moral: Diante de um vilão de fato, Megamente, agora, tem de esforçar-se para enxergar o herói em si mesmo.
Nesse ponto, o ritmo, o frescor e a graça só não decaem porque o filme jamais abre mão de um humor contagiante e bem dosado, e porque Megamente é um personagem sempre pulsante na forma com que acredita no próprio clichê.
Tão notável quanto “Os Incríveis”, da Pixar –ou talvez até mais! –na maneira com que questiona reflexos involuntários de um gênero que com tanta empolgação abraça, e infinitamente mais interessante do que “Meu Malvado Favorito” (animação lançada no mesmo período, com tema semelhante e que rendeu desde então duas continuações), “Megamente” é um refinadíssimo conto do bem contra o mal, onde tanto o bem quanto o mal se manifestam em tópicos inesperados, permitindo às crianças uma reflexão mais profunda sobre os fatores que realmente nos definem.

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