segunda-feira, 23 de março de 2020

Vítimas de Uma Paixão

Em 1984, Al Pacino havia protagonizado um dos maiores fracassos de sua carreira em “Revolução”, dirigido pelo mesmo Hugh Hudson de “Carruagens de Fogo” –mas, de um resultado inverso ao bom desempenho daquele filme –Pacino deu a volta por cima quatro anos depois, graças ao sucesso deste competente drama policial que o colocou de volta ao topo de Hollywood para, no ano seguinte, estrelar os aclamados “Dick Tracy” e “O Poderoso Chefão-Parte 3”, uma trajetória de brilho impecável que, ao adentrar os anos 1990, muito contribuiu para levá-lo ao Oscar de Melhor Ator finalmente conquistado por “Perfume de Mulher”.
Mas... voltemos ao filme de 1989. Dirigido pelo habilidoso Harold Becker (de “Toque de Recolher”), “Vítimas de Uma Paixão” parte da premissa um tanto batida da procura por um assassino em série.
É a morte de dois homens que fornece ao policial nova-iorquino Frank Keller (Pacino) o indício de uma conexão: Ambas as vítimas, além de serem mortas em circunstâncias semelhantes, colocaram seus nomes no mesmo anúncio de revista, à procura de companhia feminina.
No decurso da investigação, Keller e seu parceiro Sherman (John Goodman) colocam, também eles, anúncios nas revistas a fim de atrair as prováveis suspeitas de terem praticado os crimes.
O roteiro sucinto e desigual de Richard Price (o mesmo de “A Cor do Dinheiro”) demanda um tempo incomum na humanização de seu protagonista: Além da solidão contumaz da cidade grande e dos aborrecimentos inerentes do recente divórcio, Keller é mostrado padecendo de desglamourizadas frustrações na execução de seu trabalho, quando uma pista aparentemente quente leva a uma desiludida perda de tempo.
É o que aparenta acontecer quando ele se encontra com Helen (a sensualíssima Ellen Barkin), também divorciada, mãe solteira e loira extraordinariamente voluptuosa que lhe responde um dos anúncios.
O encontro programado e repleto de escutas para todos os lados não dá muito certo. Contudo, algum tempo depois, Keller reencontra Helen casualmente, sem a companhia de seus companheiros do trabalho; e o flerte antes mal-sucedido acaba levando os dois para a cama.
A medida que os dias seguem e a relação afetiva e sexual dos dois vai ganhando mais expressão, a paranóia de Keller também se amplifica diante da possibilidade nunca refutada de que Helen possa ser autora dos crimes –e Keller, por conseguinte, sua próxima vítima!
Além da presença certeira de Pacino como seu perplexo protagonista –nuances de desorientação e de desilusão às quais ele dá soberba expressão –“Sea Of Love” (título que remete à uma canção de Phil Phillips que toca toda a vez que os crimes são executados, e que é regravada por Tom Waits nos créditos finais) também vale a conferida graças a participação espetacular da loiraça Ellen Barkin, uma das mais vulcânicas femme fatales da década de 1980.

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