O diretor mexicano Robert Rodriguez sobe
adaptar sua personalidade e seu ímpeto criativo às mais diversas parcerias ao
longo de sua carreira: Ele realizou um belo exemplar de terror e ficção
científica para adolescentes nos anos 1990 junto do roteirista Kevin Williamson
(“Prova Final”); fez uma adaptação de histórias em quadrinhos revolucionária em
termos visuais e narrativos ao lado de Frank Miller (“Sin City-A Cidade da
Pecado”); ele moldou, com Quentin Tarantino, uma das mais desiguais tentativas
em formato cinematográfico de peitar o mainstream hollywoodiano (“Projeto
Grindhoude”).
Aqui, desta vez, Rodriguez trabalha sob a
produção de James Cameron, e o resultado do encontro entre dois notáveis estilo
de se fazer cinema é um filme arrojado, cheio de humanidade e uma certa acidez
para com os rumos convencionais que assombram sua trama.
Desde os anos 1990, a adaptação dos quadrinhos
japoneses, “Alita”, de autoria de Yukito Kishiro, vinha sendo o projeto
acarinhado por James Cameron –ele chegou até mesmo a criar a série de TV “Dark
Angel” (que revelou Jessica Alba) para testar vários conceitos que seriam
manejados em “Alita”.
O tempo passou e o período cada vez maior de
produção e pós-produção adotado por Cameron entre seus projetos inviabilizou a
possibilidade dele dirigir “Alita” –no momento, Cameron trabalha a onze anos
(!) nas continuações de seu sucesso “Avatar” –o que o levou a assumir a
produção e deixar a direção do projeto a cargo de Robert Rodriguez.
Não obstante a experiência de Rodriguez com
produções de baixo orçamento –em contraponto, à Cameron cujas produções sempre
são hiperlativas –“Alita” exigia um certo desembaraço na lida com os efeitos
digitais: Uma das razões pelo longo tempo de maturação do projeto foi a espera
para que a tecnologia fosse capaz de materializar em cena a protagonista do
modo com que ela é no mangá –Alita é uma síntese entre humano e máquina, e essa
característica está em seu designer desafiador no qual ela é expressiva e
vívida sugerindo ao mesmo tempo uma, digamos, artificialidade sintética em seu
aspecto.
Estamos no futuro, mais necessariamente no ano
de 2563. A gigantesca e futurista cidade de Zalem flutua muito acima da
superfície. Nela há uma espécie de ralo por onde caem dejetos de tecnologia
descartados. Todos vão parar no aterro da Cidade de Ferro, uma gigantesca
favela high-tech surgida à sombra de Zalem povoada de pessoas que alimentam a
vã esperança de um dia subir à cidade voadora.
Em meio a esses escombros, o cientista Dr.
Dyson Ido (Christoph Waltz) encontra a carcaça de uma andróide de uma
tecnologia avançada e perdida. Ele a repara, dando-lhe próteses cibernéticas e
batizando-a de Alita (nome de sua filha que morreu).
Inteligência cibernética extremamente avançada
dotada de um cérebro humano, Alita (vivida por meio de captura de performance
pela jovem Rosa Salazar, de “Maze Runner”) não retém as lembranças de quem um
dia foi; ela é, em vez disso, uma criança: Absorve e aprende com assombro e
inocência tudo o que se passa a sua volta.
Contudo, ela aprende rápido: Logo descobre que
seu pai, um benevolente e caridoso consertador de ciborgues defeituosos de dia,
é um dos muitos caçadores de recompensas que patrulham as ruas à noite, a
procura de perigosos bandidos com a cabeça à prêmio.
Ao descobrir isso –e no processo descobrir
também a formidável aptidão que possui para lutar –Alita almeja ser uma
caçadora de recompensas também, mas, isso não dura muito; convencido pelo
namoradinho Hugo (Keean Johnson), ela resolve se tornar uma jogadora de
Motorball, um esporte violento e brutal, no qual os campeões estão entre os
raros indivíduos agraciados com a chance de ascender para Zalen.
No decurso de descoberta de suas origens e de
se firmar nesse admirável novo mundo, Alita chama a atenção de alguns homens
poderosos e influentes nesse mundo tecnológico a que ela pertence, como é o caso
de Vector (o fantástico Mahershala Ali), financiador do Motorball, e o
misterioso Nova, provavelmente grande vilão do filme e até mesmo das vindouras
continuações, se elas chegarem a serem produzidas...
De fato, são muitos os elementos em comum entre
“Alita” e as inúmeras obras marcantes de filmografia de James Cameron: Uma
protagonista feminina extraordinariamente carismática, uma visão espetacular do
futuro rica em textura e minimalismo; uma premissa que, a sua maneira, coloca a
personagem central no cerne de um embate que pode mudar os rumos do mundo; um
arranjo emocional e humano para dar algum tempero; e uma conjugação perfeita e
impactante entre o espetáculo da ação e o arrojo dos efeitos visuais.
A esse sedutor cardápio de
escapismo hollywoodiano, o diretor Robert Rodriguez acrescenta seu próprio e
instigante estilo e reserva espaço para deixar o material bastante fiel à sua
fonte, uma história tipicamente cyberpunk, como é habitual em realizações
oriundas de mangás como “Akira” ou “Ghost In The Shell”.
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