sexta-feira, 15 de março de 2019

Carruagens de Fogo

Talvez, nem o próprio produtor David Puttnam se imaginasse saindo vencedor do Oscar 1982, tendo ele concorrentes tão expressivos como o épico “Reds”, de Warren Beatty, o esplêndido “Atlantic City”, de Louis Malle, e até o clássico moderno de aventura “Os Caçadores da ArcaPerdida”, de Steven Spielberg.
Mas, a verdade é que, numa das maiores surpresas (as más línguas preferem o termo ‘zebra’) da Academia de Artes Cinematográficas, o drama esportivo “Carruagens de Fogo” levou o Oscar de Melhor Filme, junto ao de Melhor Roteiro Original, Melhor Trilha Sonora (seu elemento mais marcante, dizem alguns) e Melhor Figurino.
O filme fala do compromisso e da trajetória de dois corredores ingleses nas Olimpíadas de 1924, também eles colegas na faculdade de Cambridge, e observa assim as índoles distintas desses dois protagonistas às voltas com seus desafios particulares: O competitivo, beligerante e esforçado Harold Abrahams (Ben Cross, de imensa adequação ao personagem), descendente de imigrantes judeus, numa luta para prevalecer num meio inevitavelmente discriminatório; e o prodígio Eric Liddell (Ian Charleson, de “Magnicídio, de Derek Jarman), um missionário escocês e protestante.
No retrato belo, detalhado e rico em minúcia que faz dos meandros profissionais do atletismo, o roteiro de Colin Welland não nega o conhecimento de causa de seu autor –Welland fez carreira como jornalista esportivo. Com efeito, é de uma compreensão contundente a sua percepção das frustrações, dúvidas, vaidades e júbilos em jogo durante competições de ordem tão honorável quanto as Olimpíadas.
É pura verdade, contudo, que, a despeito de seus méritos estéticos e de sua clareza de intenções, o filme é dirigido por Hugh Hudson de modo ginasiano, valendo-se de expedientes hoje ainda mais óbvios do que eram à época, e conduzido sem muita profundidade em seu drama ou tensão em seus conflitos –no sentido de arrebatar o expectador, as cenas (poucas até) em que isso chega a acontecer, se devem pela memorável música incidental composta pelo grego Vangelis (o mesmo de “Blade Runner”) que, aqui no Brasil, acabou virando tema da Corrida de São Silvestre (!).

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