Talvez, nem o próprio produtor David Puttnam se
imaginasse saindo vencedor do Oscar 1982, tendo ele concorrentes tão
expressivos como o épico “Reds”, de Warren Beatty, o esplêndido “Atlantic City”,
de Louis Malle, e até o clássico moderno de aventura “Os Caçadores da ArcaPerdida”, de Steven Spielberg.
Mas, a verdade é que, numa das maiores
surpresas (as más línguas preferem o termo ‘zebra’) da Academia de Artes
Cinematográficas, o drama esportivo “Carruagens de Fogo” levou o Oscar de
Melhor Filme, junto ao de Melhor Roteiro Original, Melhor Trilha Sonora (seu
elemento mais marcante, dizem alguns) e Melhor Figurino.
O filme fala do compromisso e da trajetória de
dois corredores ingleses nas Olimpíadas de 1924, também eles colegas na
faculdade de Cambridge, e observa assim as índoles distintas desses dois
protagonistas às voltas com seus desafios particulares: O competitivo,
beligerante e esforçado Harold Abrahams (Ben Cross, de imensa adequação ao
personagem), descendente de imigrantes judeus, numa luta para prevalecer num
meio inevitavelmente discriminatório; e o prodígio Eric Liddell (Ian Charleson,
de “Magnicídio, de Derek Jarman), um missionário escocês e protestante.
No retrato belo, detalhado e rico em minúcia
que faz dos meandros profissionais do atletismo, o roteiro de Colin Welland não
nega o conhecimento de causa de seu autor –Welland fez carreira como jornalista
esportivo. Com efeito, é de uma compreensão contundente a sua percepção das
frustrações, dúvidas, vaidades e júbilos em jogo durante competições de ordem
tão honorável quanto as Olimpíadas.
É pura verdade, contudo,
que, a despeito de seus méritos estéticos e de sua clareza de intenções, o
filme é dirigido por Hugh Hudson de modo ginasiano, valendo-se de expedientes
hoje ainda mais óbvios do que eram à época, e conduzido sem muita profundidade
em seu drama ou tensão em seus conflitos –no sentido de arrebatar o expectador,
as cenas (poucas até) em que isso chega a acontecer, se devem pela memorável
música incidental composta pelo grego Vangelis (o mesmo de “Blade Runner”) que,
aqui no Brasil, acabou virando tema da Corrida de São Silvestre (!).
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