terça-feira, 27 de março de 2018

A Cor do Dinheiro


Paul Newman já merecia o Oscar pela sua interpretação de Eddie Felson em “Desafio À Corrupção”, de 1961, mas quis o destino (e os equivocados votantes da Academia) que ele só o recebesse mesmo por esta espécie de continuação, onde ele torna a viver Felson, vinte e cinco anos depois.
Cinéfilo que ele só, Martin Scorsese constrói um belo exercício de suspense e ironia sobre as dissimulações nunca esclarecidas do procedimento golpista amparado na curiosidade de também dar continuidade à um ótimo filme já não muito lembrado pelo público.
Outrora um hábil jogador de bilhar, Felson (que Paul Newman de fato vivencia com compreensão desigual) já acumulou cinismo e desilusão para com seu ofício suficiente para toda uma vida; ele agora vive da venda de bebidas e seus momentos de glória –que correspondem aos eventos de “Desafio À Corrupção” –ficaram no passado.
Igualmente inverso ao seu descaso é o entusiasmo do jovem Vincent Lauria (Tom Cruise, particularmente empenhado ao lado de Newman) que o deseja como mentor em sua intenção de lançar-se como jogador. Vincent leva a tiracolo Carmen (Mary Elizabeth Mastrantonio), ambos ostentam uma superficial e vazia expressão de esperteza típica dos jovens. E Felson por vezes se policia para não usar de sua desenvoltura para enganá-los.
Ele propõe uma sociedade com Vincent, ciente da habilidade do jovem, e juntos eles iniciam uma maratona através de inúmeros salões profissionais dos EUA, em busca de dinheiro (para Felson) e de experiência (para Vincent).
É, pois, dessa dinâmica que o filme de Scorsese se embevece: O interesse que o diretor compartilha com o expectador ao pode acompanhar personagens que lhe são preciosos é tão autêntico e genuíno que ele chega a pulsar em sua narrativa –o filme convulsiona a cada rompante inesperado vindo de suas inesperadas índoles (como quando Felson confronta Carmen, num momento de ausência de Vincent, em um quarto de motel acerca de suas reais intenções de sedução), a cada crise que pontua suas relações (quando inevitavelmente o pupilo e o professor têm um desentendimento que os conduz à rivalidade) e, sobretudo, a cada fachada dissimulada que cai, revelando por trás dela um novo golpe, uma nova jogada que ninguém –nem o público –estava esperando (como podemos conferir na audaz e brilhantemente elaborada disputa final).

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