Paul Newman já merecia o Oscar pela sua
interpretação de Eddie Felson em “Desafio À Corrupção”, de 1961, mas quis o
destino (e os equivocados votantes da Academia) que ele só o recebesse mesmo
por esta espécie de continuação, onde ele torna a viver Felson, vinte e cinco
anos depois.
Cinéfilo que ele só, Martin Scorsese constrói
um belo exercício de suspense e ironia sobre as dissimulações nunca
esclarecidas do procedimento golpista amparado na curiosidade de também dar
continuidade à um ótimo filme já não muito lembrado pelo público.
Outrora um hábil jogador de bilhar, Felson (que
Paul Newman de fato vivencia com compreensão desigual) já acumulou cinismo e
desilusão para com seu ofício suficiente para toda uma vida; ele agora vive da
venda de bebidas e seus momentos de glória –que correspondem aos eventos de
“Desafio À Corrupção” –ficaram no passado.
Igualmente inverso ao seu descaso é o
entusiasmo do jovem Vincent Lauria (Tom Cruise, particularmente empenhado ao
lado de Newman) que o deseja como mentor em sua intenção de lançar-se como
jogador. Vincent leva a tiracolo Carmen (Mary Elizabeth Mastrantonio), ambos
ostentam uma superficial e vazia expressão de esperteza típica dos jovens. E
Felson por vezes se policia para não usar de sua desenvoltura para enganá-los.
Ele propõe uma sociedade com Vincent, ciente da
habilidade do jovem, e juntos eles iniciam uma maratona através de inúmeros
salões profissionais dos EUA, em busca de dinheiro (para Felson) e de
experiência (para Vincent).
É, pois, dessa dinâmica que o filme de Scorsese
se embevece: O interesse que o diretor compartilha com o expectador ao pode
acompanhar personagens que lhe são preciosos é tão autêntico e genuíno que ele
chega a pulsar em sua narrativa –o filme convulsiona a cada rompante inesperado
vindo de suas inesperadas índoles (como quando Felson confronta Carmen, num
momento de ausência de Vincent, em um quarto de motel acerca de suas reais
intenções de sedução), a cada crise que pontua suas relações (quando
inevitavelmente o pupilo e o professor têm um desentendimento que os conduz à
rivalidade) e, sobretudo, a cada fachada dissimulada que cai, revelando por
trás dela um novo golpe, uma nova jogada que ninguém –nem o público –estava
esperando (como podemos conferir na audaz e brilhantemente elaborada disputa
final).
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