Mas, não aquele que você pode estar pensando...
na verdade, o filme italiano!
Isso mesmo, talvez, você não saiba, mas o tão
conhecido filme que deu finalmente o Oscar de Melhor Ator para Al Pacino
trata-se da refilmagem de um filme original italiano produzido em 1974, e
indicado, inclusive, ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Roteiro
Adaptado naquele ano.
Recentemente, consegui obter uma cópia em DVD
do tal filme para conferir, e tive uma bela surpresa:
O italiano, veja só, é muito melhor do que o
norte-americano!
Nunca entendi, para falar bem a verdade, a
razão para tanto confete em cima daquele filme: Para mim, embora faça um
trabalho realmente bom, Al Pacino deveria ter mesmo ganhado o Oscar de Melhor
Ator por "Serpico" (aliás, estamos falando de um ator com tantos
trabalhos lendários que é de se impressionar que "Perfume de Mulher"
seja sua única vitória! Coisas do Oscar, mesmo...)
Apesar de ter sido indicado até para o Oscar de
Melhor Filme, "Perfume de Mulher" naquele ano (1992) era o mais fraco
dos indicados. E a trama, realmente, parecia pedante, melodramática no mal
sentido, e abarrotada por moralismo edificantes bem americanos que enfraqueciam
muito o conjunto, uma forte característica, diga-se, de todos os filmes do
diretor Martin Brest que vieram depois (ele que havia feito um tão divertido
"Um Tira da Pesada" em 1984).
Mas, falemos um pouco mais sobre Al Pacino.
Muito comum no meio artístico é a opinião de
que dois trabalhos de interpretação não podem ser devidamente julgados, uma vez
que são textos diferentes em histórias diferentes e tal. O quê livra muitos
deles de comentar sobre as vitórias e derrotas que ocorrem no Oscar, por
exemplo (para se ter um ideia, no ano em que Al Pacino levou seu Oscar por
"Perfume...", um dos outros competidores dele era simplesmente Clint
Eastwood por "Os Imperdoáveis"!)
Mas, já que, no caso, estamos falando de um
filme original e sua refilmagem, com os mesmos personagens, a comparação me
parece mais do que justa. E comparando, o trabalho de Vittorio Gassman no filme
italiano é melhor que o de Al Pacino.
Sério. Gassman não apela para sentimentalismos
em momento algum do filme (o quê acontece muitas vezes no caso americano...), e
até mesmo a trama, sobre um ex-militar cego que faz uma viagem à cidade grande,
acompanhado por um jovem e recém-conhecido ajudante, e no percurso aproveitam,
e muito para cair na farra, faz muito mais sentido (só agora eu percebo) com
aquela ambientação européia onde, sabemos, beber muito vinho e desfrutar do
mulherio é uma atividade bem mais constante. Aquela espécie de boemia...
Isso soa forçado e inadequado no filme
americano.
Claro que há coisas boas no filme de 1992. E
acredito que, todo mundo, a essa hora deve estar pensando na cena da dança de
tango. Provavelmente, o momento mais marcante do filme e que NÃO existe no
filme italiano. Mas, quer saber? Não precisa. Tudo é tão prazeroso, tão bem
amarrado, tão passional no primeiro filme, que ele dispensa a necessidade de
cenas emblemáticas.
Um dos aspectos mais fracos do filme americano,
também, constatei com certa felicidade que não existe no original: a
dispensável trama sobre o dilema enfrentado pelo rapaz em delatar ou não seus
colegas acadêmicos. É algo que não acrescenta nada ao filme, e o estende por
mais uns vinte minutos.
No filme italiano, quase nada sabemos sobre o
rapaz, (que aqui é um jovem cadete) ele é, definitivamente, um coadjuvante para
o magnífico Vittorio Gassman, que por este trabalho fabuloso, ganhou o prêmio
de Melhor Ator em Cannes.
Agora, por quê ele não ganhou (ou pelo menos, concorreu)
o Oscar, como Al Pacino?
Bem, a resposta, nada satisfatória, é que o
Oscar é, e sempre foi, uma festa do cinema americano. E, no fundo, uma forma de
tentarem dizer que eles são os melhores, dignos dos prêmios principais. Isso,
pouco a pouco, pode estar mudando: tivemos dois mexicanos vencendo o Oscar de
Melhor Direção nos últimos dois anos consecutivos, a francesa Marion Cotillard
levou o Oscar de Melhor Atriz por "Piaf" em 2007, assim como seu
conterrâneo Jean Dujardin levou o de Melhor Ator em 2012, por "O
Artista".
Mas, a questão é que, em 1992, a Academia meio
que já estava DEVENDO um Oscar à Al Pacino. E acabaram lhe dando, por um
trabalho bom, metódico e dedicado, mas perderam a chance de prestigiar suas
atuações realmente sensacionais, caso da trilogia "Poderoso Chefão",
o já citado "Serpico" ou, sei lá, o sensacional "Justiça Para
Todos".
Algo parecido veio a
ocorrer em 2006, quando a Academia rendeu-se a Martin Scorsese, e deu-lhe não
só o Oscar de Melhor Diretor, mas o de Melhor Filme, também, por uma obra
menor: "Os Infiltrados" que vinha a ser uma refilmagem do chinês
"Conflitos Internos" (e que também é MElHOR que o filme americano!).
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