segunda-feira, 23 de março de 2020

Treze Dias Que Abalaram O Mundo

É curioso como os filmes que tenho escolhido, mesmo que sem essa intenção, acabam refletindo a situação atual: Foi assim com “Contágio”, foi assim com a minissérie “Chernobyl”, e é assim com “Treze Dias Que Abalaram O Mundo” –cada um deles, à sua maneira, evocava um aspecto desses dias incertos que vivemos.
Lançado em 2007, “Treze Dias...” representava um das inúmeras tentativas de reinvenção que a carreira de Kevin Costner experimentou ao longo dos anos. Vindo de dois fracassos homéricos de bilheteria e crítica nos anos 1990 –“Waterworld-O Segredo das Águas” e “O Mensageiro” –o astro aceitou dividir o protagonismo deste eletrizante thriller político (por anos incluso na lista de melhores roteiros jamais filmados a circular em Hollywood) que esmiúça o fato real da Crise dos Mísseis de Cuba –pano de fundo histórico usado em “X-Men Primeira Classe”.
Outubro de 1962. Sobrevoando Cuba, uma avião U2 da Força Aérea Norte-Americana registra fotos de uma atividade em solo cubano que os especialistas de Washington não tardam a identificar: São bases militares erguidas por soviéticos, construindo mísseis balísticos cujo local estratégico permite aos russos um ataque imediato em várias cidades no solo americano.
A Casa Branca fica alarmada e o presidente John F. Kennedy (vivido com precisão estudada por Bruce Greenwood) chama seus homens de maior confiança, seu irmão Bobby (Steven Culp) e seu principal assessor e melhor amigo Kenny O’Donnell (Costner). Os militares esperam que o presidente declare guerra contra a URSS, e que dê a ordem para a invasão de Cuba, no entanto, Kennedy e seus assessores estão cientes do perigo que ronda a situação.
A Primeira Guerra Mundial gerou condições sócio-políticas que terminaram deflagrando a Segunda Guerra Mundial, como ele bem leu no livro “Armas de Agosto”, e agora, poucas décadas depois, circunstâncias da guerra anterior empurravam novamente o mundo em direção à Terceira Guerra Mundial. Um ciclo vicioso que eles precisavam interromper com bom senso e diplomacia, caso contrário, a Humanidade não chegaria a terminar o Século XX.
Diante de indecisões, dilemas e uma pressão política absurda, Kennedy acata uma controversa sugestão do Secretário de Defesa Robert McNamara (Dylan Baker, de “Homem-Aranha 2 e 3”): Realizar um bloqueio marítimo em Cuba, impedindo assim os navios enviados da URSS com utensílios para que os mísseis fossem terminados e se tornassem operacionais.
A situação do bloqueio, porém, é extremamente desvantajosa e sujeita a toda sorte de erro humano –é, entretanto, a melhor alternativa entre as opções radicais que podem culminar numa bola de neve cujo desfecho será a guerra.
Diante disso, os EUA precisam obter o aval unânime das Nações Unidas (o quê eles conseguem!), e Kennedy, Bobby e O’Donnell precisam conter a sanha por combate de seus militares que inventam pretextos para levar ao conflito: Como sucessivos voos rasantes sobre as bases cubanas sob a justificativa de tirar novas fotos de reconhecimento –na verdade, os militares aguardam que um piloto americano seja abatido para poderem atacar Cuba.
Durante duas semanas, o mundo nunca esteve tão próximo de um verdadeiro apocalipse deflagrado pelos senhores da guerra; e para tanto, além do temor irreprimível dos personagens, o filme registra também a comoção pública, as prateleiras de mercado sendo esvaziadas por pessoas querendo estocar alimento em casa, as filas nas igrejas de fiéis querendo prestar suas últimas confissões –uma atmosfera muito familiar, não?
Conduzido pelo veterano Roger Donaldson (que dirigiu Kevin Costner em “Sem Saída” nos anos 1980), “Treze Dias...” é uma reconstituição eletrizante dos mais diversos aspectos ocasionados no gabinete presidencial durante aquele tenso episódio. Sua narrativa vale-se de muitas cenas documentais (perceptíveis, sobretudo, na resolução full HD) e de um aparato informativo extremamente rico que dá conta de dezenas de personagens pertinentes, além de um belo roteiro que amarra essa miríade de fatos e informações com admirável polimento dramático.

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