É curioso como os filmes que tenho escolhido,
mesmo que sem essa intenção, acabam refletindo a situação atual: Foi assim com
“Contágio”, foi assim com a minissérie “Chernobyl”, e é assim com “Treze Dias
Que Abalaram O Mundo” –cada um deles, à sua maneira, evocava um aspecto desses
dias incertos que vivemos.
Lançado em 2007, “Treze Dias...” representava
um das inúmeras tentativas de reinvenção que a carreira de Kevin Costner
experimentou ao longo dos anos. Vindo de dois fracassos homéricos de bilheteria
e crítica nos anos 1990 –“Waterworld-O Segredo das Águas” e “O Mensageiro” –o
astro aceitou dividir o protagonismo deste eletrizante thriller político (por
anos incluso na lista de melhores roteiros jamais filmados a circular em Hollywood)
que esmiúça o fato real da Crise dos Mísseis de Cuba –pano de fundo histórico
usado em “X-Men Primeira Classe”.
Outubro de 1962. Sobrevoando Cuba, uma avião U2
da Força Aérea Norte-Americana registra fotos de uma atividade em solo cubano
que os especialistas de Washington não tardam a identificar: São bases
militares erguidas por soviéticos, construindo mísseis balísticos cujo local
estratégico permite aos russos um ataque imediato em várias cidades no solo
americano.
A Casa Branca fica alarmada e o presidente John
F. Kennedy (vivido com precisão estudada por Bruce Greenwood) chama seus homens
de maior confiança, seu irmão Bobby (Steven Culp) e seu principal assessor e
melhor amigo Kenny O’Donnell (Costner). Os militares esperam que o presidente
declare guerra contra a URSS, e que dê a ordem para a invasão de Cuba, no
entanto, Kennedy e seus assessores estão cientes do perigo que ronda a situação.
A Primeira Guerra Mundial gerou condições
sócio-políticas que terminaram deflagrando a Segunda Guerra Mundial, como ele bem
leu no livro “Armas de Agosto”, e agora, poucas décadas depois, circunstâncias
da guerra anterior empurravam novamente o mundo em direção à Terceira Guerra
Mundial. Um ciclo vicioso que eles precisavam interromper com bom senso e
diplomacia, caso contrário, a Humanidade não chegaria a terminar o Século XX.
Diante de indecisões, dilemas e uma pressão
política absurda, Kennedy acata uma controversa sugestão do Secretário de
Defesa Robert McNamara (Dylan Baker, de “Homem-Aranha 2 e 3”): Realizar um
bloqueio marítimo em Cuba, impedindo assim os navios enviados da URSS com
utensílios para que os mísseis fossem terminados e se tornassem operacionais.
A situação do bloqueio, porém, é extremamente
desvantajosa e sujeita a toda sorte de erro humano –é, entretanto, a melhor
alternativa entre as opções radicais que podem culminar numa bola de neve cujo
desfecho será a guerra.
Diante disso, os EUA precisam obter o aval
unânime das Nações Unidas (o quê eles conseguem!), e Kennedy, Bobby e O’Donnell
precisam conter a sanha por combate de seus militares que inventam pretextos
para levar ao conflito: Como sucessivos voos rasantes sobre as bases cubanas
sob a justificativa de tirar novas fotos de reconhecimento –na verdade, os
militares aguardam que um piloto americano seja abatido para poderem atacar
Cuba.
Durante duas semanas, o mundo nunca esteve tão
próximo de um verdadeiro apocalipse deflagrado pelos senhores da guerra; e
para tanto, além do temor irreprimível dos personagens, o filme registra também
a comoção pública, as prateleiras de mercado sendo esvaziadas por pessoas
querendo estocar alimento em casa, as filas nas igrejas de fiéis querendo
prestar suas últimas confissões –uma atmosfera muito familiar, não?
Conduzido pelo veterano
Roger Donaldson (que dirigiu Kevin Costner em “Sem Saída” nos anos 1980),
“Treze Dias...” é uma reconstituição eletrizante dos mais diversos aspectos
ocasionados no gabinete presidencial durante aquele tenso episódio. Sua
narrativa vale-se de muitas cenas documentais (perceptíveis, sobretudo, na
resolução full HD) e de um aparato informativo extremamente rico que dá conta
de dezenas de personagens pertinentes, além de um belo roteiro que amarra essa
miríade de fatos e informações com admirável polimento dramático.
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