O mar. Ambiente em que dez entre dez diretores de cinema garantem ser o lugar mais infernal para se realizar um filme (que o diga Kevin Reynolds e as catastróficas filmagens de “Waterworld-O Segredo das Águas”...). certamente foi o mar, e as lembranças caóticas da experiência em lá filmar que levaram Steven Spielberg a recusar sem pestanejar a direção da continuação de seu grande sucesso de 1976, “Tubarão”.
Como estava se tornando via de regra naquele
emergente cinema comercial norte-americano da segunda metade dos anos 1970 –e
viria a contaminar irreversivelmente todo o cinema comercial nas décadas
vindouras –os filmes de maior sucesso e apelo de público, estavam a ganhar algo
que, em outros tempos, dificilmente seria cogitado: Continuações. E olha que
tudo começou com uma obra autoral sem muita cara de filme-pipoca –“O Poderoso Chefão”, de Francis Ford Copolla, foi quem mostrou à Hollywood as
possibilidades promissoras em dar continuidade à um filme de sucesso com os
mesmos personagens e um prosseguimento da trama. Como acontece sempre, é normal
sofrer uns tropeços antes de, por fim, caminhar, e os estúdios imaginaram que,
diante da recusa de Spielberg, não haveria o menor problema em continuar o
filme com outro diretor, julgando que não havia sido seu estilo inconfundível,
e nem sua visão particular de cinema os responsáveis por aquele êxito. Assim
sendo, quem ocupou a cadeira vaga foi o francês Jeannot Swarc (que depois faria
“Em Algum Lugar do Passado”) que, se entrega um trabalho um pouco mais burocrático
e sem muita personalidade, ao menos compreende, melhor que os executivos do
estúdio, uma necessidade tênue em evocar o trabalho que Spielberg fez.
Ele não consegue realizar esse intento plenamente,
até porque lhe falta uma certa singularidade que Spielberg sempre esbanjou, mas
ele traz para esta continuação elementos que persistem do filme original, como
a trilha sonora feita de grandiosidade sinfônica –com direito ao retorno de
John Williams, ganhador do Oscar por aquele trabalho, construindo aqui uma
partitura com ênfase mais na aventura do que no suspense –e, sem dúvidas, os
personagens protagonistas, no caso, o casal formado pelo Xerife Martin Brody e
sua esposa Ellen (Roy Scheider e Lorraine Gary, ela na verdade tendo seu papel
estendido em relação à curta participação no original); os produtores até
tentaram trazer Richard Dreyfuss de volta, mas ele preferiu continuar ao lado
do diretor Spielberg e juntos fazerem o fenomenal “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”.
A sequência de “Tubarão” não escapa da fórmula
da repetição; em linhas gerais, toda a premissa do primeiro filme se refaz
durante este daqui –são em pequenos detalhes que as diferenças são
estabelecidas, como as circunstâncias das mortes (nenhuma delas memorável o
bastante para ombrear as cenas do original) e o tratamento fornecido pela
direção. Já calejado pela experiência com o tubarão do filme anterior, o Xerife
Brody identifica, de pronto, o surgimento de outro predador marinho na
cidadezinha de Amity, cerca de quatro anos depois de sua tensa aventura. Como antes,
o descaso das autoridades responsáveis se repete, com o prefeito, vivido por
Murray Hamilton, mais uma vez incorporando as características do hoje chamado
negacionismo –desta vez, o filho adolescente dele (David Elliot) ganha um papel
mais proeminente. Aliás, a família adquire, no enredo deste novo filme, um
enfoque mais palpável, com a presença notável de Ellen, como dito antes, e com
as importâncias mais salientadas dos filhos deles, agora mais crescidos (e
interpretados por Mark Gruner e Marc Gilpin) em especial no desfecho
pirotécnico.
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