Desde sempre um cineasta engajado com as observações morais do ser humano em coletividade –e de como comportamentos justificados pela tradição fomentam atitudes inclinadas a uma violência injustificável para os dias de hoje –o italiano Francesco Rossi (diretor do sublime “O Bandido Giuliano”), assim que cravou os olhos no romance homônimo de Gabriel Garcia Marquez enxergou ali uma contraparte perfeita, diferenciada, coerente e genuína de todas as inquietações às quais almejou dar voz em sua sólida filmografia.
Da iniciativa em transformar “Crônica de Uma
Morte Anunciada” em filme –sempre um desafio para qualquer diretor de cinema
tendo em vista o teor romanticamente abstrato e a linguagem essencialmente
literária das obras de Garcia Marquez –surgiu esta produção cujo orçamento,
financiado por variadas fontes européias distintas, terminou moldando uma
realização cheia de curiosas complexidades linguísticas e étnicas: Falado parte
em espanhol, parte em inglês (e posteriormente dublado em outros idiomas), com
um elenco multinacional e uma equipe técnica igualmente diversificada, isso
tudo, acarretando uma inesperada personalidade dúbia ao projeto.
Em uma cidadezinha colombiana do início do
Século XX, um fidalgo chamado Santiago Nasar (Anthony Delon, filho do astro
francês Alain Delon) tem seu assassinato pré-determinado pelos irmãos da
belíssima Angela Vicario (a sempre estonteante Ornella Mutti). O motivo:
Durante sua noite de núpcias, Angela se vê prontamente repudiada por seu noivo,
o rico forasteiro Bayardo San Roman (Rupert Everett), devido à constatação de
que ela não é mais virgem (!).
Com Angela desonrada e devolvida ao seio da
família, resta aos seus dois irmãos gêmeos Pablo e Pedro (os também gêmeos
Rogerio e Carlos Miranda) lavar sua honra com sangue, permitindo assim que a
notícia do assassinato iminente transcorra por dias pela comunidade colombiana
que, à sombra da prática arcaica e violenta do acerto de contas, tratam a tudo
com indiferença.
O narrador do filme –personagem a quem o livro
primordial de Garcia Marquez nega qualquer identidade, mas no filme de Rossi é
colocado como sendo Cristo Bedoya (Gian Maria Volonté, da “Trilogia dos Dólares”, de Sergio Leone), melhor amigo do assassinado –relata o antes, o
durante e o depois do acontecimento, indo e vindo no tempo, procurando criar
uma rica impressão sobre os costumes e hábitos de flagrante peculiaridade na
pequena comunidade.
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