domingo, 9 de outubro de 2022

Fantasma 2


 Era de se supor que, com a acalorada recepção que o primeiro “Fantasma” teve, em 1979, sobretudo entre os amantes de filmes de terror, o diretor e criador, Don Coscarelli, logo realizasse uma continuação. Todavia, Coscarelli não o fez; ao menos, não imediatamente: Ele estava preocupado em ficar atrelado num único gênero e investiu, em vez disso, na realização da fantasia “O Senhor das Feras”, o que acabou atrasando a continuidade das tenebrosas aventuras de Mike e Reggie em, pelo menos, uns oito anos!

Quando as estrelas se alinharam para que “Fantasma 2” ganhasse vida, porém, isso se deu com pomba e circunstância: Por volta de 1987, um grande estúdio, a Universal Pictures, acabou financiando e distribuindo o projeto –à época, a Universal era presidida por um entusiasta de filmes de terror, Tom Pollock, que aproveitou para revitalizar diversas franquias do gênero, como “Uma Noite Alucinante” e “Brinquedo Assassino”. Era questão de tempo que o notável e instigante “Fantasma” viesse a chamar sua atenção.

Com uma produção mais endinheirada a sua disposição –o que se nota especialmente no capricho e no empenho dos efeitos práticos de maquiagem –Don Coscarelli experimentou também o revez desse mesmo privilégio: O estúdio lhe impôs um jovem ator em ascensão para o papel protagonista de Mike, impedindo-o de reescalar o mesmo Michael Baldwin do filme anterior, e colocando no lugar James Le Gros (de “Drugstore Cowboy” e “À Salvo”) que até se sai muito bem. O mesmo vale para o caráter muitas vezes ambíguo e misterioso do enredo de “Fantasma” que, aqui, ganha inserções de narração em off e outras manobras narrativas que deixam algumas explicações mais didáticas e mastigadas ao expectador. Algo que definitivamente não faz o gosto do diretor Don Coscarelli.

Mas, todos esses, são fatores irrelevantes perto da empolgação vívida que Coscarelli compartilha com o público por finalmente conseguir dar continuidade à sua criação, ou da euforia incontornável com a qual ele dá um passo a mais na construção de sua mitologia –que aqui nos brinda com um aprofundamento maior em relação ao mundo sinistro que cerca o Tall Man.

Começando na exata cena em que, quase uma década antes, o primeiro “Fantasma” terminou, o novo filme mostra como Reggie e um ainda garoto Mike foram capazes de escapar das garras de Tall Man, para então passarem alguns anos sem se encontrar. Saído de uma clínica psiquiátrica, Mike (agora com 19 anos e vivido por Le Gros) reencontra seu grande amigo, o ex-sorveteiro Reggie (o sensacional Reggie Bannister) para juntos ganhar a estrada, armados até os dentes, na tentativa de rastrear e, se possível, neutralizar a assombração denominada Tall Man (o magnífico Angus Scrimm, indissociável do personagem).

Como pista, Mike tem os sonhos envolvendo Tall Man e suas vítimas que têm lhe perseguido nos últimos anos, mas ele não é o único. Também em sonhos, ele vê e se comunica com a jovem Liz (a cândida Paula Irvine), outra pessoa igualmente conectada por uma espécie de telepatia, ao Tall Man.

Dessa forma, Mike e Reggie pegam a estrada, num gesto que converte “Fantasma 2” em um road-movie. Seu caminho termina os levando à cidadezinha de Perigord, no Oregon, cenário convertido pela ação irrefreada do Tall Man e seus asseclas (uns anõezinhos horrorosos) praticamente num ambiente pós-apocalíptico.

Completando o grupo de protagonistas a se opor à entidade do mal, estão também o Padre Meyers (Kenneth Tigar, de “Os Vingadores”), um personagem promissor que podia até ter rendido um pouco mais se sua participação não fosse tão abreviada, e a jovem Alchemy (Amanda Phillips, iniciando timidamente aqui uma carreira mais voltada para filmes eróticos), um breve affair de Reggie que guarda algumas surpresas para os heróis.

Deixando ligeiramente de lado o clima contagiante de mistério que tornava (e ainda torna) o primeiro “Fantasma” uma experiência fascinante, o segundo filme agrega alguns elementos que viriam a predominar na saga daqui por diante, como o senso muito mais apurado de ação no que diz respeito ao embate entre as forças do bem e do mal –Reggie e Mike surgem aqui não como protagonistas improváveis colhidos de surpresa pelos acontecimentos, mas como combatentes genuínos e convictos contra as ameaças do além. Nas mãos de Don Coscarelli e de seus intérpretes, eles finalmente se transformam em dois homens numa jornada, abrindo as portas para novos filmes que de fato vieram, trazendo ainda mais surpresas e assombros a esta bem-vinda, inspirada e empolgante franquia de terror.

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