Lançado no mesmo ano (1982) de “Conan-O Bárbaro”
(e de certa forma perdido em meio à tantas produções genéricas e oportunistas
que tentaram pegar carona no sucesso do filme com Schwarzenegger), este curioso
“The Beastmaster” guarda algumas semelhanças com aquela obra, como a pegada
descompromissada dos anos 1980, na qual princípios politicamente corretos eram
até saudavelmente ignorados, deixando de lado a auto-censura, para moldar um
épico de aventura com todas as características de um cult.
Embora seja um entretenimento familiar (como é
inclusive discriminado na classificação livre indicada na capa do DVD), ele não
se isenta de ter cenas de nudez, alguma malícia e um nível de violência e
fatalismo alto para os padrões das aventuras de fantasia atuais.
Percebe-se um tratamento bastante semelhante
(guardadas as devidas proporções entre os orçamentos díspares, claro) dado à “O
Senhor dos Anéis”, que Peter Jackson só viria a adaptar quase trinta anos
depois. A razão é simples: Tanto Don Coscarelli (o diretor deste filme) quando
Peter Jackson foram diretores formados essencialmente nas fileiras de filmes de
terror de baixo orçamento (Coscarelli ficou famoso entre os cinéfilos, pelas
cultuadas produções da saga de terror com cinco longa-metragens, “Phantasm”, e o
desigual “Bubba Ho Tep”). Logo, é inerente à sua natureza, que esses
realizadores enfatizassem as características mórbidas e o tom sombrio de seus
trabalhos, concedendo a eles um peso dramático distinto –é também, novamente, a
mesma coisa que ocorreu à “Conan-O Bárbaro” que, sob a batuta de John Millius,
preservou realismo a autenticidade, elementos que até hoje o tornam memorável.
Pode-se dizer que a mesma coisa ocorreu à “The
Beastmaster”, ainda que este trabalho seja bem mais obscuro para o público
leigo.
Sua trama acompanha a trajetória de Dar (Marc
Singer, uma escolha adequada ao papel, e dirigido de maneira correta o
suficiente para ocultar sua canastrice), um príncipe deposto ainda na barriga
da mãe, quando seu pai, o rei, tem o trono usurpado pelo sanguinário e fanático
Maax (Rip Torn, o tipo de ator perfeito para interpretar vilões).
Adotado por um camponês, Dar cresce
desenvolvendo espantosos (e mal explicados) poderes com os quais se comunica
com os animais, além de poder ver e sentir o quê eles vêem e sentem. Após de
ter sua aldeia chacina por tropas de Maax, Dar se refugia na floresta, entre os
animais (em particular, na companhia de dois furões, um falcão e uma pantera),
até conhecer uma escrava chamada Kiri (Tanya Roberts, um espetáculo de
formosura), que acaba servindo como motivação para ele enfrentar Maax, e
cumprir uma antiga profecia.
É um filme cheio de características bastante
próprias, datado, mas que usa esse fato em seu favor –o tom de aventura
oitentista, somado ao bom trabalho de direção proporciona a ele um apelo dos
mais charmosos.
A confusão envolvendo o título deste filme é
algo que também não ajudou muito o público que o prestigiou na época do VHS, em
encontrá-lo agora, na era digital: Em VHS, período em que fez grande sucesso
nas videolocadoras, este filme chamava-se “O Senhor das Feras”.
Todavia, quando foi exibida na TV uma
continuação bastante picareta feita anos depois –e que, de tão ruim, continuou
inédita em vídeo –o título dado foi “O Príncipe Guerreiro 2”. Para o lançamento
em DVD, em retrocesso, a distribuidora resolveu intitulá-lo “O Príncipe
Guerreiro”, mantendo uma ligação (ainda que desnecessária) com a sequência.
Quando vemos a atuação de Marc Singer nessa
continuação –bem como o desenvolvimento de toda a trama, na qual Dar e seus
animais são injustificadamente teleportá-los para o NOSSO mundo (!!!) –percebemos
o quanto é competente e equilibrada a direção de Don Coscarelli neste primeiro
filme.
Mais um ótimo filme para a
lista de cult-movies adorados por seus apreciadores, mas que mereciam um
reconhecimento muito mais amplo do público em geral.
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