Péssimo sinal acerca da pouca criatividade que
acomete Hollywood: Agora temos até mesmo a refilmagem da refilmagem!
Ainda que a maioria dos envolvidos, na produção
e no marketing, tenham agido como se o “Sete Homens e Um Destino” de 1960 fosse uma obra original e não uma adaptação para o gênero de faroeste da mesma
premissa básica do quintessencial “Os Sete Samurais”, de Akira Kurosawa,
entretanto, se repararmos, ainda ali, havia uma faísca de inventividade
(transpor a mesma trama para outra época, outro lugar e outro contexto
permitindo, quem sabe, a alteração de toda sua percepção), todavia, o quê se
tem aqui é, à princípio, uma repaginação passo a passo.
Contudo, em cerca de vinte minutos, o novo
filme já está a oferecer elementos de sobra para a satisfação do expectador,
tão escanteada por produções de péssima qualidade lançadas nesse ano de 2016
(e, talvez, por ser também um remake, quando penso nisso, é o catastrófico
“Ben-Hur”, de Timur Bekmanbetov, que me vem a mente).
O gênero do faroeste já oferece um grande
repertório de clássicos inestimáveis, conduzidos por verdadeiros mestres. Tais
filmes são exemplares o suficiente para que o diretor Antoine Fuqua (aqui em
sua terceira colaboração com o astro Denzel Washington) assista e observe como
se faz. Ele ainda tem a seu favor um roteiro composto por minúcias astutas
escrito por Nic Pizzollato (criador da série “True Detective”) que reinventa
situações e constrói sólidos e distintos personagens.
Entre eles, Sam Chisolm (Washington, ótimo,
dando continuidade à tradição dos faroestes de Quentin Tarantino, herdada dos
exemplares dos anos 1970, com protagonistas negros), um honrado caçador de
recompensas que coloca sua pistola a serviço dos apelos de uma viúva (a bela Haley
Bennett) cuja aldeia precisa se ver livre da opressão provocada por um hostil
comprador de terras (Peter Sarsgaard, esbaldando-se como vilão) que deseja
vê-los despossuídos.
E aí, nesse ponto de partida, já se vê a
pertinente referência que o roteiro deste filme faz com a atualidade: Não
apenas é lembrada a questão da representatividade (não somente com o gesto de
nomear o majestoso Denzel Washington como protagonista, mas ao dar grande peso
e sentido na trama à uma personagem feminina que Não se torna interesse amoroso
de nenhum dos heróis), como também o mote central –que nas versões pregressas
resumia-se à tentativa dos oprimidos em livrar-se dos opressores –gira em torno
da posse de terras, e do monopólio do
poder refletindo muitos aspectos da crise econômica que tem afligido os EUA e o
mundo.
É lógico que, no percurso para cumprir a tarefa
que resolve aceitar, Chisolm irá recrutar outros pistoleiros de aluguel como
ele: O hábil Josh Faraday (Chris Pratt, de “Guardiões da Galáxia”, uma boa
presença); o lendário atirador Goodnight Robicheaux (Ethan Hawke, fantástico
nessa reunião com o astro Washington e o diretor Antoine Fuqua, quinze anos
depois dos três realizarem “Dia de Treinamento”); assim como seu braço direito,
o oriental manuseador de facas Billy Rocks (Lee Byung-Hun); o fora-da-lei
mexicano Vasquez (Manuel Garcia-Rulfo); o truculento e implacável eremita Jack
Horne (Vincent D’ Onofrio, tão sensacional quanto em sua personificação como
Rei do Crime na série do “Demolidor”); e o pele-vermelha honrado e habilidoso
no arco e flecha Red Harvest (Martin Sensmeier). Um conjunto de carismáticos
personagens (como se pode ver) quase tão cativante quanto os divertidos e
impetuosos cowboys do filme de John Sturgess, porém composto por toda a
diversidade que os tempos politicamente corretos exigem numa produção deste
escopo.
É esse grupo que, conduzido
pela boa direção de Fuqua (talvez, seu melhor trabalho até então), ruma de
encontro ao apocalíptico confronto final, uma junção hábil de ritmo, atmosfera,
efeitos especiais, fotografia, montagem e trilha sonora (com um aproveitamento
digno e nada vulgar da trilha clássica de Elmer Bernstein) cuja exuberância o
cinemão hollywoodiano adora poder ostentar.
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