terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Sete Homens e Um Destino

Péssimo sinal acerca da pouca criatividade que acomete Hollywood: Agora temos até mesmo a refilmagem da refilmagem!
Ainda que a maioria dos envolvidos, na produção e no marketing, tenham agido como se o “Sete Homens e Um Destino” de 1960 fosse uma obra original e não uma adaptação para o gênero de faroeste da mesma premissa básica do quintessencial “Os Sete Samurais”, de Akira Kurosawa, entretanto, se repararmos, ainda ali, havia uma faísca de inventividade (transpor a mesma trama para outra época, outro lugar e outro contexto permitindo, quem sabe, a alteração de toda sua percepção), todavia, o quê se tem aqui é, à princípio, uma repaginação passo a passo.
Contudo, em cerca de vinte minutos, o novo filme já está a oferecer elementos de sobra para a satisfação do expectador, tão escanteada por produções de péssima qualidade lançadas nesse ano de 2016 (e, talvez, por ser também um remake, quando penso nisso, é o catastrófico “Ben-Hur”, de Timur Bekmanbetov, que me vem a mente).
O gênero do faroeste já oferece um grande repertório de clássicos inestimáveis, conduzidos por verdadeiros mestres. Tais filmes são exemplares o suficiente para que o diretor Antoine Fuqua (aqui em sua terceira colaboração com o astro Denzel Washington) assista e observe como se faz. Ele ainda tem a seu favor um roteiro composto por minúcias astutas escrito por Nic Pizzollato (criador da série “True Detective”) que reinventa situações e constrói sólidos e distintos personagens.
Entre eles, Sam Chisolm (Washington, ótimo, dando continuidade à tradição dos faroestes de Quentin Tarantino, herdada dos exemplares dos anos 1970, com protagonistas negros), um honrado caçador de recompensas que coloca sua pistola a serviço dos apelos de uma viúva (a bela Haley Bennett) cuja aldeia precisa se ver livre da opressão provocada por um hostil comprador de terras (Peter Sarsgaard, esbaldando-se como vilão) que deseja vê-los despossuídos.
E aí, nesse ponto de partida, já se vê a pertinente referência que o roteiro deste filme faz com a atualidade: Não apenas é lembrada a questão da representatividade (não somente com o gesto de nomear o majestoso Denzel Washington como protagonista, mas ao dar grande peso e sentido na trama à uma personagem feminina que Não se torna interesse amoroso de nenhum dos heróis), como também o mote central –que nas versões pregressas resumia-se à tentativa dos oprimidos em livrar-se dos opressores –gira em torno da posse de terras,  e do monopólio do poder refletindo muitos aspectos da crise econômica que tem afligido os EUA e o mundo.
É lógico que, no percurso para cumprir a tarefa que resolve aceitar, Chisolm irá recrutar outros pistoleiros de aluguel como ele: O hábil Josh Faraday (Chris Pratt, de “Guardiões da Galáxia”, uma boa presença); o lendário atirador Goodnight Robicheaux (Ethan Hawke, fantástico nessa reunião com o astro Washington e o diretor Antoine Fuqua, quinze anos depois dos três realizarem “Dia de Treinamento”); assim como seu braço direito, o oriental manuseador de facas Billy Rocks (Lee Byung-Hun); o fora-da-lei mexicano Vasquez (Manuel Garcia-Rulfo); o truculento e implacável eremita Jack Horne (Vincent D’ Onofrio, tão sensacional quanto em sua personificação como Rei do Crime na série do “Demolidor”); e o pele-vermelha honrado e habilidoso no arco e flecha Red Harvest (Martin Sensmeier). Um conjunto de carismáticos personagens (como se pode ver) quase tão cativante quanto os divertidos e impetuosos cowboys do filme de John Sturgess, porém composto por toda a diversidade que os tempos politicamente corretos exigem numa produção deste escopo.
É esse grupo que, conduzido pela boa direção de Fuqua (talvez, seu melhor trabalho até então), ruma de encontro ao apocalíptico confronto final, uma junção hábil de ritmo, atmosfera, efeitos especiais, fotografia, montagem e trilha sonora (com um aproveitamento digno e nada vulgar da trilha clássica de Elmer Bernstein) cuja exuberância o cinemão hollywoodiano adora poder ostentar.

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