Em 1969, no auge da desconstrução promovida nos valores e nos comportamentos pela contracultura, o diretor Donn Greer (em alguns sites seu nome surge erroneamente como John Donne) concebeu este média-metragem (dura cinquenta e quatro minutos), uma versão lisérgica, maliciosa e ocasionalmente precária de “Alice No País das Maravilhas”, ressaltando elementos subentendidos do conto de Lewis Carroll (mas que sempre estiveram lá, e que muitos realizadores souberam identificar) e usando-os, não sem um certo desleixo, como reflexos para a época em que pertenceu.
A jovem estudante universitária Alice Trempton
(Sheri Jackson) vive um cotidiano tranquilo e convencional num subúrbio
norte-americano, morando com seu pai viúvo. Entretanto, as transformações do
mundo e da sociedade (bem como o inerente aflorar dela mesma como mulher) não
tardarão à bater em sua porta, porém, da forma mais errada possível: Ela e sua
colega hippie Kathy (Janice Kelly)
são convidadas pela professora de francês, Frieda (Julia Blackburn), que não
oculta delas suas inclinações lésbicas (!), para uma festa à beira da piscina
envolvendo mais três rapazes –daquelas características festas que
invariavelmente terminam em orgia...
Sob efeito de alcool e alucinógenos, Alice é
levada à uma banheira por Frieda, onde é despida –em pouco tempo, as duas estão
nuas! –enquanto Kathy termina seduzida pelos rapazes. Assim, Frieda introduz na
vida de Alice o consumo de maconha e LSD –e o consequente efeito cíclico de
êxtase, transcendência, dependência e vício que provocam –e o sexo livre (uma
ideologia que alegremente mascarava a promiscuidade) quando passa a levá-la,
assim como Kathy, às suas saídas noturnas e em festas regadas à drogas que
culminam em sucessivas transas grupais.
Filmado em preto & branco (embora sua
fotografia adquira cores num momento psicodélico próximo do final), com uma
intermitente trilha sonora de jazz e uma narrativa em off quase onipresente do diretor Greer e, logo mais, da própria
Sheri Jackson (o que lhe enfatiza tanto a sensação de um filme mudo comentado
como o aspecto de ‘filme educacional’ daquela época, uma advertência aos jovens
contra os perigos do sexo e das drogas) “Alice Na Terra dos Ácidos” é uma obra incerta
entre o didaticamente alarmante e o comercialmente erótico, fruto daqueles
estranhos tempos de um cinema poeira underground
e exploitation –a despeito da
postura de evidente reprovação apontada, sobretudo, no trecho inicial, não
tarda ao filme de Donn Greer se restringir às desavergonhadas sequências de
sexo (em certo ponto, com as caras e bocas do elenco a quase lembrar uma
pornochanchada brasileira!) nas quais o interlúdio casual é mostrado, no
comportamento permissivo, relaxado e libertino dos personagens, como a mais
trivial das recreações.
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