Em 2015, o diretor australiano George Miller retomou a “Franquia Mad Max” ao trazer para o mundo uma verdadeira obra de arte chamada “Mad Max-Estrada da Fúria”. Sucesso avassalador e merecido de público e crítica, ganhador de seis prêmios Oscar, “Estrada da Fúria” reacendeu o interesse pela saga, outrora protagonizada por Mel Gibson (e que não ganhava um novo filme a pelo menos trinta anos), e com isso, muitos foram os que logo especularam a possibilidade de George Miller prontamente arregaçar as mangas e fazer um novo filme.
Nove anos depois, isso aconteceu. Contudo, ao
contrário do que poderia se imaginar, Miller não deu uma continuidade àqueles
eventos (e nem tampouco trouxe de volta o protagonista Max, agora vivido por
Tom Hardy), ele na verdade entregou uma prequel
(uma sequência que narra eventos anteriores) focada na personagem Furiosa,
vivida naquele filme por uma inspirada e sensacional Charlize Theron. Essencial
à trama, tanto ou até mais que o protagonista Max, Furiosa era uma personagem
intrigante, sólida e imediatamente cativante que respondia pelo coração
pulsante do filme.
Nesta espécie de origem que esclarece, explica
e justifica certos tópicos que eventualmente ficaram nebulosos naquele filme
(como a ambígua relação dela com o vilão Immortan Joe), acompanhamos a
trajetória de sofrimento, bravura e persistência de Furiosa, desde sua
infância, ao longo de anos (quinze, mais precisamente) até culminarmos no
trecho em que a trama de “Estrada da Fúria” se inicia –o que converte esse dois
filmes, unidos, numa única grande obra, completa e abrangente.
Ainda uma criança, Furiosa (então vivida pela
pequena mas competente Alyla Browne) por uma série de lamentáveis contratempos
acaba sequestrada do local onde nasceu, um oásis secreto administrado com
sigilo e ferocidade por um clã de guerreiras, por um grupo desgarrado de
motoqueiros do deserto. Esses motoqueiros compõem a gangue de maltrapilhos
selvagens e brutalizados liderados por Dementus (Chris Hemsworth, satisfeito
num exuberante papel de vilão), um líder sarcástico, cruel e desumano,
travestido de uma versão escatológica e non-sense
de Jesus Cristo (!).
Furiosa até é seguida por sua mãe, Mary Jabassy
(Charlee Fraser, de “Todos Menos Você”), que em vão tenta tirá-la das mãos
desses desordeiros, conseguindo apenas ser morta cruelmente no processo. Nos anos
por vir, Furiosa (que em algum momento passa a ser interpretada por Anya
Taylor-Joy, uma substituta formidável e impecável para Charlize Theron) procura
sobreviver estando próxima o suficiente de Dementus para que ele não a descarte
como muitas das vítimas que vão parar em suas mãos; mas distante e cautelosa o
bastante para que ele não deseje extrair dela o segredo de como regressar para
casa, e nem perceba seus planos de vingar-se dele, o assassino de sua mãe.
É dessa forma que Furiosa acaba se tornando uma
testemunha da inusitada guerra por poder que se desenrola no deserto, a
envolver as lideranças antagônicas de Dementos e Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne):
Dominando a chamada Cidade Gasolina (uma fortaleza que acomoda as refinarias de
combustível para as tantas máquinas de guerra, o único item tão precioso
naquele mundo-cão quanto a água), Dementus se torna uma potência a ser respeitada,
o que, com seu temperamento provocador e sua predisposição para traição, leva
seus oponentes a elaborar constantes estratégias para lhe derrotar.
É assim que Furiosa, no decurso de embates
árduos a envolver fogo, sangue e ferragens de carros em colisão, deve
compreender que existe uma diferença imprevisível entre a expectativa daquilo
que esperamos e a realidade que a vida termina por nos entregar.
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