Numa época em que comédias românticas já não são uma constante no circuito comercial, “Todos Menos Você” parece exalar um estranho desconforto por pertencer a esse gênero outrora tão difundido –e olha que o diretor, Will Gluck, pode ser enxergado como um especialista tendo realizado “A Mentira” e “Amizade Colorida”.
A verdade é que as intenções deste projeto
aparentam ser unir os elementos de gênero que tanto fizeram sucesso no passado
(com obras simbólicas como “Quatro Casamentos e Um Funeral”) com aspectos
sociais da atualidade, como a representatividade e o vocabulário
idiossincrático da modernidade, e executar uma espécie de releitura de William
Shakespeare para a nova geração, uma vez que o roteiro é vagamente inspirado na
farsa romântica “Muito Barulho Por Nada” –todavia, muito pouco do texto, do subtexto
ou da meticulosidade do Bardo se manteve na adaptação. O resultado é um filme
bastante desajeitado, convicto em relação a certos valores românticos que podem
soar antiquados ao público jovem, e insistente numa comédia hesitante, ora
disposta a ousar, ora restrita ao inofensivo.
O casalzinho em potencial, Ben e Bea (Glenn
Powell e Sydney Sweeney, em ótima sintonia), têm obviamente todos os motivos do
mundo para se estranharem; assim que se conhecem, até experimentam uma química
promissora juntos, mas uma sucessão de mal-entendidos deixa um gosto amargo em
seu primeiro e único encontro. Alguns meses depois, porém, o destino conspira
colocando-os numa mesma festa de casamento: A irmão de Bea, Halle (Hadley
Robinson, de “Adoráveis Mulheres”), vai se casar com Claudia (Alexandra Shipp,
de “X-Men Apocalypse”), cujo irmão, Pete (o rapper GaTa), vem a ser o melhor
amigo de Ben. O casamento será na Austrália, lar da família de Claudia, e
portanto, todos os convidados serão recepcionados na casa do pai da noiva
(Bryan Brown), incluindo Ben e Bea.
Temendo que a indisposição entre os dois estrague
o clima de comemoração geral, os demais convidados –agindo mais como
coadjuvantes conscientes desse romance do que convidados de um casamento normal
–tentam intervir, e a emenda sai muito pior que o soneto: Inicialmente, procuram
fazê-los gostar um do outro, o que só piora as coisas, em seguida, providenciam
a presença da ex-namorada de Ben, Margareth (a modelo Charlee Fraser), agora
namorando um surfista desmiolado (Joe Davidson), e do ex-namorado de Bea, o
ainda apaixonado Jonathan (Darren Barnet).
A fim de livrarem-se dessa espécie de marcação
cerrada de todos os demais, Ben e Bea resolvem que irão fingir, de fato, se
darem bem. Melhor: eles irão fingir que estão tendo um flerte durante das
festividades de casamento, o que talvez A) proporcione a Ben uma chance de reatar
com Margareth e B) convença Jonathan a largar de uma vez do pé de Bea.
É claro que, na cartilha um tanto quanto
maniqueísta das comédias românticas (e aqui, o maniqueísmo, por razões inúmeras
se mostra ainda mais evidente e inverossímil) esses arranjos e as situações
nascidas a partir dele irão levar os dois jovens e belos protagonistas a
perceber que, a despeitos de suas picuinhas, se amam de verdade.
Àqueles expectadores mais exigentes, menos
interessados nos reflexos condicionados de um gênero popular como a comédia
romântica, “Todos Menos Você” terá um apelo nada eficaz e servirá como um
verdadeiro teste de paciência: As circunstâncias esboçadas no roteiro fogem
demais da realidade para se deixar convencer por grande parte do enredo do
filme, e o turbilhão de referências que a narrativa traz (toda a ambientação do
casamento remete aos clássicos do gênero “O Casamento do Meu Melhor Amigo” e “Muito Bem Acompanhada” que, por sinal, têm ambos o ator Dermot Mulroney, que também
faz parte do elenco aqui) pouco faz, no fim das contas, para torná-la atraente
de fato para aqueles que não sejam os já aficcionados.
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