quinta-feira, 26 de maio de 2016

X-Men Apocalypse

Uma cena emblemática: Os jovens saem de um cinema após uma sessão de “O Retorno de Jedi” –o filme-sensação do ano, então 1983 –e já estão a discorrer sobre sua qualidade.
“O melhor é ‘O Império Contra-Ataca’” comenta a garota chamada Jubileu.
“Tudo começou com o primeiro filme” diz Scott, o Ciclope (Ty Sheridan) “não haveriam continuações se não fosse o primeiro filme!”
Até que Jean Grey (Sophie Turner) faz uma afirmação categórica:
“Vamos, pelo menos, concordar que o último filme é o pior da trilogia!”
Talvez, uma piada interna da produção, talvez, um acaso carregado de sarcasmo, porém o quê a personagem diz se aplica ao filme no qual estão presentes, “X-Men Apocalypse”.
Dizer que ele é o mais fraco da trilogia iniciada em “Primeira Classe” (cuja austeridade e noção de ritmo do diretor Mathew Vaughn, permanecem a fazer dele o melhor dentre todos os filmes da série) e continuada em “Dias de Um Futuro Esquecido”, contudo, não é desmerecê-lo: “Apocalypse” ainda é um divertimento de qualidade, com interessantes predicados, o problema é que Bryan Singer se despiu de muitos elementos que davam equilíbrio ao conceito e tornavam os X-men tão singulares entre a infinidade de super-heróis que começam a abarrotar as salas de cinema.
Passaram-se dez anos desde os acontecimentos do filme anterior (parece ser uma espécie de tradição nessa nova versão dos mutantes que seus filmes se passem com uma década de intervalo entre um e outro, embora seu elenco principal não demonstre nenhum sinal de envelhecimento), e a Escola Para Jovens Superdotados do Prof. Charles Xavier recebe a cada dia novos alunos, como o novato Scott, que descobriu a pouco as rajadas devastadoras que saem sem controle de seus olhos, ou a instável Jean, cujo poder de telepatia e telecinese parece esconder uma ameaça maior dentro dela.
Dos antigos companheiros de Xavier, Raven, ou Mística (Jennifer Lawrence, catalizando parte das atenções da trama), se encontra pelo mundo, ajudando mutantes à sua própria maneira: É assim que ela chega até o jovem Kurt Wagner, ou Noturno (Kodi Smit-McPhee, tão bom quanto sua versão mais velha vista em “X-Men 2”), um teleportador de corpo azul.
Já, Eric, ou Magneto (Michael Fassbender, em uma bela interpretação) após os eventos pregressos, refugiou-se na Polônia onde buscou começar vida nova.
Todas essas trajetórias colidem quando um mutante ancestral, o milenar En Sabah Nur, ou Apocalypse (Oscar Isaac, cuja atuação esmerada não escapa ao tom canhestro desse tipo de personagem bidimensional), desperta no Oriente Médio, trazendo consigo sua determinada ânsia para varrer os humanos da face da terra.
Com uma habilidade que lhe é inerente, Bryan Singer, concebeu esse recomeço da série “X-Men”, antecipando e, por vezes, alterando os eventos da série original, não apenas enfatizando a pertinente questão do preconceito, mas atrelando a trama de cada filme à um evento histórico ocorrido em cada década respectiva; se em “Primeira Classe” havia o sensacional aproveitamento da crise dos mísseis de Cuba, e “Dias de Um Futuro Esquecido” foi hábil em utilizar como cerne narrativo o final da Guerra do Vietnam, a década de 1980, na qual se ambienta “Apocalypse” não possui nenhum acontecimento histórico importante a ser abordado; e esse é só um dos problemas enfrentados pelo filme.
Ao eleger, o onipotente e cartunesco Apocalypse como seu vilão principal, Singer também desproveu seu filme de um de seus mais encantadores trunfos: As motivações e ideologias, tão pertinentes e atuais, que norteiam seus personagens, inclusive seus vilões, o quê valorizava a trama e suscitava uma discussão sempre interessante.
Não há, porém, muito o que comentar sobre Apocalypse em si: Ele é um vilão somente. Quer a destruição, e cabe aos heróis aplacá-lo, o quê reduz o filme de Singer a um mero filme de ação onde os bons combatem os maus, e as áreas cinzas da personalidade dos adversários são deixadas de lado.
Claro que, mesmo no comando das cenas de ação, Singer continua um artesão de admirável apuro e requinte visual, embora seu uso de efeitos visuais (bastante imodesto na comparação com os enxutos filmes anteriores) fique excessivo na parte final, assim como seu exorbitante hábito de dilatar o tempo além da conta nos momentos de suspense (que já havia ficado provado em “Superman-O Retorno” ser um de seus defeitos).

Talvez, o grande problema de “Apocalypse” seja a condição na qual chega aos cinemas (como terceiro e mais simplório de uma trilogia na qual os dois capítulos anteriores, sobretudo o primeiro, foram magistrais), e também o timing com o qual isso se dá (depois de um mediano “Batman Vs Superman” e de um espetacular “Capitão América-Guerra Civil”, quando uma parte do público e boa parte da crítica já começa a falar sobre a defasagem de superheróis nas salas de cinema). 

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