Uma cena emblemática: Os jovens saem de um
cinema após uma sessão de “O Retorno de Jedi” –o filme-sensação do ano, então
1983 –e já estão a discorrer sobre sua qualidade.
“O melhor é ‘O Império Contra-Ataca’” comenta a
garota chamada Jubileu.
“Tudo começou com o primeiro filme” diz Scott,
o Ciclope (Ty Sheridan) “não haveriam continuações se não fosse o primeiro
filme!”
Até que Jean Grey (Sophie Turner) faz uma
afirmação categórica:
“Vamos, pelo menos, concordar que o último filme
é o pior da trilogia!”
Talvez, uma piada interna da produção, talvez,
um acaso carregado de sarcasmo, porém o quê a personagem diz se aplica ao filme
no qual estão presentes, “X-Men Apocalypse”.
Dizer que ele é o mais fraco da trilogia
iniciada em “Primeira Classe” (cuja austeridade e noção de ritmo do diretor
Mathew Vaughn, permanecem a fazer dele o melhor dentre todos os filmes da
série) e continuada em “Dias de Um Futuro Esquecido”, contudo, não é
desmerecê-lo: “Apocalypse” ainda é um divertimento de qualidade, com
interessantes predicados, o problema é que Bryan Singer se despiu de muitos
elementos que davam equilíbrio ao conceito e tornavam os X-men tão singulares
entre a infinidade de super-heróis que começam a abarrotar as salas de cinema.
Passaram-se dez anos desde os acontecimentos do
filme anterior (parece ser uma espécie de tradição nessa nova versão dos
mutantes que seus filmes se passem com uma década de intervalo entre um e
outro, embora seu elenco principal não demonstre nenhum sinal de
envelhecimento), e a Escola Para Jovens Superdotados do Prof. Charles Xavier
recebe a cada dia novos alunos, como o novato Scott, que descobriu a pouco as rajadas
devastadoras que saem sem controle de seus olhos, ou a instável Jean, cujo
poder de telepatia e telecinese parece esconder uma ameaça maior dentro dela.
Dos antigos companheiros de Xavier, Raven, ou
Mística (Jennifer Lawrence, catalizando parte das atenções da trama), se
encontra pelo mundo, ajudando mutantes à sua própria maneira: É assim que ela
chega até o jovem Kurt Wagner, ou Noturno (Kodi Smit-McPhee, tão bom quanto sua
versão mais velha vista em “X-Men 2”), um teleportador de corpo azul.
Já, Eric, ou Magneto (Michael Fassbender, em
uma bela interpretação) após os eventos pregressos, refugiou-se na Polônia onde
buscou começar vida nova.
Todas essas trajetórias colidem quando um
mutante ancestral, o milenar En Sabah Nur, ou Apocalypse (Oscar Isaac, cuja
atuação esmerada não escapa ao tom canhestro desse tipo de personagem
bidimensional), desperta no Oriente Médio, trazendo consigo sua determinada
ânsia para varrer os humanos da face da terra.
Com uma habilidade que lhe é inerente, Bryan
Singer, concebeu esse recomeço da série “X-Men”, antecipando e, por vezes,
alterando os eventos da série original, não apenas enfatizando a pertinente
questão do preconceito, mas atrelando a trama de cada filme à um evento
histórico ocorrido em cada década respectiva; se em “Primeira Classe” havia o
sensacional aproveitamento da crise dos mísseis de Cuba, e “Dias de Um Futuro
Esquecido” foi hábil em utilizar como cerne narrativo o final da Guerra do
Vietnam, a década de 1980, na qual se ambienta “Apocalypse” não possui nenhum
acontecimento histórico importante a ser abordado; e esse é só um dos problemas
enfrentados pelo filme.
Ao eleger, o onipotente e
cartunesco Apocalypse como seu vilão principal, Singer também desproveu seu
filme de um de seus mais encantadores trunfos: As motivações e ideologias, tão
pertinentes e atuais, que norteiam seus personagens, inclusive seus vilões, o
quê valorizava a trama e suscitava uma discussão sempre interessante.
Não há, porém, muito o que comentar sobre
Apocalypse em si: Ele é um vilão somente. Quer a destruição, e cabe aos heróis
aplacá-lo, o quê reduz o filme de Singer a um mero filme de ação onde os bons
combatem os maus, e as áreas cinzas da personalidade dos adversários são
deixadas de lado.
Claro que, mesmo no comando das cenas de ação,
Singer continua um artesão de admirável apuro e requinte visual, embora seu uso
de efeitos visuais (bastante imodesto na comparação com os enxutos filmes
anteriores) fique excessivo na parte final, assim como seu exorbitante hábito
de dilatar o tempo além da conta nos momentos de suspense (que já havia ficado
provado em “Superman-O Retorno” ser um de seus defeitos).
Talvez, o grande problema de “Apocalypse” seja
a condição na qual chega aos cinemas (como terceiro e mais simplório de uma
trilogia na qual os dois capítulos anteriores, sobretudo o primeiro, foram magistrais),
e também o timing com o qual isso se dá (depois de um mediano “Batman Vs
Superman” e de um espetacular “Capitão América-Guerra Civil”, quando uma parte
do público e boa parte da crítica já começa a falar sobre a defasagem de
superheróis nas salas de cinema).
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