Eu, fã que sempre fui do trabalho do cartunista
Charles Schulz, e do singelo desenho animado que eles originaram, estava
ansioso por conferir esta versão em computação gráfica. Aflito com a
possibilidade dos realizadores ignorarem o elemento existencial que sempre fez
parte das histórias de Charlie Brown e sua turma, mas um bocado intrigado com o
modo como eles adaptariam os traços tão característicos e inconfundíveis de
Schultz às três dimensões.
É um prazer concluir que o resultado não apenas
é de encher os olhos, como consegue honrar a visão de Schultz, preservando em
Charlie Brown aquela melancolia que tão bem o define.
A trama não poderia ser outra, senão acompanhar
a rotina de desventuras e desilusão de Charlie Brown, garotinho por volta de
seus seis anos de idade que tem de conviver com o bullying, a rejeição e a sua
própria insegurança dia a dia.
Seus amiguinhos são, também eles, uma coleção
de personagens adoráveis e terrivelmente humanos: A implicante e incisiva Lucy;
a descolada, e às vezes avoada Patty Pimentinha; o solidário e metódico Linus;
o culto e indiferente Schoroeder; além do seu cachorrinho beagle, Snoopy, não
raro tão cheio de personalidade quanto os personagens humanos; assim como o
passarinho Woodstock, e muitos outros.
Com as férias de verão se aproximando, a classe
de Charlie Brown recebe uma nova aluna, por quem ele logo cai de amores.
Disposto a passar uma imagem de si mesmo muito melhor do que aquela que ele em
geral tem entre seus amiguinhos, o inseguro Charlie Brown se esmera para
apresentar um número de mágica decente para a apresentação escolar, para
mostrar-se um bom dançarino no baile anual, e por fim, para fazer um bom e
eficiente resumo de um livro no trabalho em sala de aula (no qual ele,
inadvertidamente, escolhe o volumoso “Guerra e Paz”!).
Charlie Brown, assim como seu cãozinho Snoopy
(que aqui também tem sua própria trama paralela) é um personagem extraordinário
justamente em sua normalidade, ratificando o gênio de Charles Schultz. O
diretor Steve Martino (um dos responsáveis por “A Era do Gelo”) teve o bom
senso de manter suas características pouco usuais, embora haja sim, nesta
animação, uma preocupação em dar certo respaldo comercial ao longa (as
desventuras do protagonista ainda que embaladas em melancolia encontram,
providencialmente um final feliz), certamente a fim de agradar as platéias
infantis de hoje que nunca ouviram falar de Charlie Brown.
Não faz mal. O quê de fato
importa continua tudo lá: O fato imprescindível e essencial de que Charlie
Brown e seus amigos são, em suma, todos nós, e que em suas alegrias e tristezas
eles conseguem refletir nossas próprias experiências e lembranças de infância.
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