sexta-feira, 27 de maio de 2016

Snoopy & Charlie Brown - O Filme

Eu, fã que sempre fui do trabalho do cartunista Charles Schulz, e do singelo desenho animado que eles originaram, estava ansioso por conferir esta versão em computação gráfica. Aflito com a possibilidade dos realizadores ignorarem o elemento existencial que sempre fez parte das histórias de Charlie Brown e sua turma, mas um bocado intrigado com o modo como eles adaptariam os traços tão característicos e inconfundíveis de Schultz às três dimensões.
É um prazer concluir que o resultado não apenas é de encher os olhos, como consegue honrar a visão de Schultz, preservando em Charlie Brown aquela melancolia que tão bem o define.
A trama não poderia ser outra, senão acompanhar a rotina de desventuras e desilusão de Charlie Brown, garotinho por volta de seus seis anos de idade que tem de conviver com o bullying, a rejeição e a sua própria insegurança dia a dia.
Seus amiguinhos são, também eles, uma coleção de personagens adoráveis e terrivelmente humanos: A implicante e incisiva Lucy; a descolada, e às vezes avoada Patty Pimentinha; o solidário e metódico Linus; o culto e indiferente Schoroeder; além do seu cachorrinho beagle, Snoopy, não raro tão cheio de personalidade quanto os personagens humanos; assim como o passarinho Woodstock, e muitos outros.
Com as férias de verão se aproximando, a classe de Charlie Brown recebe uma nova aluna, por quem ele logo cai de amores. Disposto a passar uma imagem de si mesmo muito melhor do que aquela que ele em geral tem entre seus amiguinhos, o inseguro Charlie Brown se esmera para apresentar um número de mágica decente para a apresentação escolar, para mostrar-se um bom dançarino no baile anual, e por fim, para fazer um bom e eficiente resumo de um livro no trabalho em sala de aula (no qual ele, inadvertidamente, escolhe o volumoso “Guerra e Paz”!).
Charlie Brown, assim como seu cãozinho Snoopy (que aqui também tem sua própria trama paralela) é um personagem extraordinário justamente em sua normalidade, ratificando o gênio de Charles Schultz. O diretor Steve Martino (um dos responsáveis por “A Era do Gelo”) teve o bom senso de manter suas características pouco usuais, embora haja sim, nesta animação, uma preocupação em dar certo respaldo comercial ao longa (as desventuras do protagonista ainda que embaladas em melancolia encontram, providencialmente um final feliz), certamente a fim de agradar as platéias infantis de hoje que nunca ouviram falar de Charlie Brown.
Não faz mal. O quê de fato importa continua tudo lá: O fato imprescindível e essencial de que Charlie Brown e seus amigos são, em suma, todos nós, e que em suas alegrias e tristezas eles conseguem refletir nossas próprias experiências e lembranças de infância.

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