sábado, 28 de maio de 2016

007 - A Fase Pierce Brosnan

Hoje há quem ame, e quem odeie a fase em que James Bond foi interpretado por Pierce Brosnan. Eu apreciei muito o trabalho do ator (um Bond com características das antigas, refinado e melindroso contrastando com a brutalidade trazida por Daniel Craig), embora seja avesso ao estilo formulaico que predominou em seus filmes, mas reconheço que eles foram necessários para lapidar o mito James Bond para os novos tempos (o quê levou aos notáveis filmes que vieram depois) e até imprescindíveis para apresentar 007 à uma nova audiência composta por filhos, ou até netos daqueles que assistiram no cinema as aventuras do James Bond original, Sean Connery.
007 Contra Goldeneye: Lançado em 1995, “Goldeneye” tinha como missão restabelecer o mito James Bond para as novas audiências. O intervalo entre este e o filme anterior da série (“007-Permissão Para Matar”, lançado em 1989 com o insosso Timothy Dalton) foi um dos maiores de toda a franquia (seis anos): Havia, portanto, quase toda uma nova geração que desconhecia 007, o quê jogava a pressão sobre os ombros do novo intérprete, Pierce Brosnan (vindo da bem-sucedida série de TV “Remington Steele”), nas alturas.
A trama (até bastante banal e genérica, uma característica negativa dos filmes encabeçados por Brosnan) mostra James Bond envolvido nos percalços de um agente do MI6 que tornou-se traidor.
A despeito da fragilidade de sua história, “Goldeneye” beneficiava-se da boa e dinâmica direção do inglês Martin Campbell (oriunda da TV britânica), cujo trabalho casou tão bem com os propósitos da franquia que ele foi recrutado novamente para dirigir “Cassino Royale” já no início da fase Daniel Craig. Quanto ao ator, Pierce Brosnan se mostrou a escolha ideal para personificar um novo e, por assim dizer, mais maleável Bond: Os tempos afinal eram outros, e muitas das características do personagem que o acompanhavam desde o tempo de Sean Connery (e que se mostraram prejudiciais nos filmes de Timothy Dalton) deveriam ser revistas, como o modo levemente misógino como a série sempre abordou as personagens femininas (tornando sintomática a escalação da excelente Judi Dench para interpretar a primeira “M” feminina) e as fortes referências à Guerra Fria.
O resultado foi um sucesso de bilheteria amplamente satisfatório, com um novo ator que consagrou-se como um novo 007 para toda uma geração.
007 O Amanhã Nunca Morre: Em sua segunda aventura interpretado por Pierce Brosnan, James Bond recebe a missão de deter os planos megalomaníacos de um magnata das comunicações que elabora uma série de complexos atentados na intenção de provocar a Terceira Guerra Mundial.
Já estabelecido e reconhecido pelo público como 007, Brosnan marcou presença num filme que podia se dar ao luxo de vôos mais ambiciosos. O novo diretor (Roger Spottiswoode, realizador do intenso drama de guerra “Sob Fogo Cerrado”, mas que no fim das contas era uma mero operário padrão) buscou agregar ainda mais ação ao produto, incorporando inclusive fortes elementos do cinema asiático de lutas marciais, o quê explica o entusiasmo com a presença da estrela chinesa Michelle Yeoh (que depois faria sucesso no mundo todo com “O Tigre e O Dragão”). Mais do que qualquer coisa, é neste filme que se percebe o quanto a vontade em ser um produto comercial que obedece a risca a cartilha hollywoodiana de filmes de ação oprimia a narrativa, tornando-o quase um espetáculo vazio. 
007 O Mundo Não É O Bastante: Tentando rastrear as atuações de um perigoso e poderoso "barão do crime", a fim de elucidar sua identidade, James Bond acaba incumbido de proteger uma ex-refém desse mesmo bandido. Sua relação com ela e com uma jovem cientista nuclear revelarão as verdadeiras intenções do vilão. No terceiro filme de James Bond protagonizado por Pierce Brosnan, quando então ele já gozava do fato de ser considerado um dos melhores intérpretes de Bond, ao lado de Sean Connery, após o excessivamente sério e empostado Timothy Dalton nos anos 1980 e o caricato Roger Moore nos anos 1970, o responsável por capitanear o filme foi Michael Apted, cuja escolha por parte dos produtores seguia muito a mesma lógica de Roger Spottiswoode no filme anterior: Um trabalhador obediente, acostumado com a indústria, sem maioridades características autorais e com pelo menos um filme de qualidade no currículo (o ótimo “Nas Montanhas dos Gorilas” com Sigourney Weaever). Tudo isso o tornava, do ponto de vista corporativo, uma escolha perfeita para dirigir o novo “Bond”, mas o produto final, embora tivesse uma profusão de elementos clássicos da franquia e de filmes comerciais em geral, pecava por não te alma. “O Mundo Não É O Bastante” entrou assim para o cânone de James Bond como o primeiro filme a incluir uma bond-girl (a deslumbrante francesa Sophie Marceau) que se revelava a vilã da história, mas foi lembrado mesmo como o mais fraco produto da “safra Pierce Brosnan”.
007 Um Novo Dia Para Morrer: O agente da coroa britânica, James Bond é capturado por governo inimigo durante uma missão relativamente fracassada. Após um ano como prisioneiro ele é libertado e, sob o descrédito do Serviço Secreto, decide ir atrás dos eventuais responsáveis por seu encarceramento. Seu inimigo, como de praxe, tem planos megalomaníacos para a dominação mundial. Este foi o 19º filme de James Bond, e o 4º com Pierce Brosnan no papel, além de ser, dentre todos, o mais austero e elaborado: Provavelmente devido à inclusão de um diretor mais jovem no comando, o neo-zelandês Lee Tamahori (de “O Amor e A Fúria”). Isso trouxe uma ligeira audácia no tratamento com a história, mas nada que comprometesse o objetivo restritamente comercial da obra. A inclusão de Halle Berry (vencedora do Oscar de Melhor Atriz por “A Última Ceia” em 2001, um ano antes), como uma agente secreta que refletia o próprio James Bond em versão feminina também foi um sopro de ar fresco, mas o patrimônio da série continuava a ser a presença acertada de Pierce Brosnan. O ator estava muito bem, exibindo charme e segurança como 007, embora já começasse a expressar seu cansaço com o personagem, mas o filme, tal qual os outros, era exagerado e caricato, fruto de anos em que a série vinha sendo realizada em cima das mesmas fórmulas.
Talvez fosse essa percepção que tenha levado a série, no episódio seguinte (o espetacular “Cassino Royale”), a dar um arrojado salto de sofisticação e optar por uma reformulação total, começando do zero com Daniel Graig.

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