Hoje há quem ame, e quem odeie a fase em que
James Bond foi interpretado por Pierce Brosnan. Eu apreciei muito o trabalho do
ator (um Bond com características das antigas, refinado e melindroso contrastando
com a brutalidade trazida por Daniel Craig), embora seja avesso ao estilo
formulaico que predominou em seus filmes, mas reconheço que eles foram
necessários para lapidar o mito James Bond para os novos tempos (o quê levou
aos notáveis filmes que vieram depois) e até imprescindíveis para apresentar
007 à uma nova audiência composta por filhos, ou até netos daqueles que assistiram no cinema as aventuras do James Bond original,
Sean Connery.
007 Contra Goldeneye: Lançado em 1995,
“Goldeneye” tinha como missão restabelecer o mito James Bond para as novas
audiências. O intervalo entre este e o filme anterior da série (“007-Permissão
Para Matar”, lançado em 1989 com o insosso Timothy Dalton) foi um dos maiores
de toda a franquia (seis anos): Havia, portanto, quase toda uma nova geração
que desconhecia 007, o quê jogava a pressão sobre os ombros do novo intérprete,
Pierce Brosnan (vindo da bem-sucedida série de TV “Remington Steele”), nas
alturas.
A trama (até bastante banal e genérica, uma
característica negativa dos filmes encabeçados por Brosnan) mostra James Bond
envolvido nos percalços de um agente do MI6 que tornou-se traidor.
A despeito da fragilidade de sua história,
“Goldeneye” beneficiava-se da boa e dinâmica direção do inglês Martin Campbell
(oriunda da TV britânica), cujo trabalho casou tão bem com os propósitos da
franquia que ele foi recrutado novamente para dirigir “Cassino Royale” já no
início da fase Daniel Craig. Quanto ao ator, Pierce Brosnan se mostrou a
escolha ideal para personificar um novo e, por assim dizer, mais maleável Bond:
Os tempos afinal eram outros, e muitas das características do personagem que o
acompanhavam desde o tempo de Sean Connery (e que se mostraram prejudiciais nos
filmes de Timothy Dalton) deveriam ser revistas, como o modo levemente misógino
como a série sempre abordou as personagens femininas (tornando sintomática a
escalação da excelente Judi Dench para interpretar a primeira “M” feminina) e
as fortes referências à Guerra Fria.
O resultado foi um sucesso de bilheteria
amplamente satisfatório, com um novo ator que consagrou-se como um novo 007
para toda uma geração.
007 O Amanhã Nunca Morre: Em sua segunda aventura
interpretado por Pierce Brosnan, James Bond recebe a missão de deter os planos
megalomaníacos de um magnata das comunicações que elabora uma série de
complexos atentados na intenção de provocar a Terceira Guerra Mundial.
Já estabelecido e reconhecido pelo público como
007, Brosnan marcou presença num filme que podia se dar ao luxo de vôos mais
ambiciosos. O novo diretor (Roger Spottiswoode, realizador do intenso drama de
guerra “Sob Fogo Cerrado”, mas que no fim das contas era uma mero operário padrão)
buscou agregar ainda mais ação ao produto, incorporando inclusive fortes
elementos do cinema asiático de lutas marciais, o quê explica o entusiasmo com
a presença da estrela chinesa Michelle Yeoh (que depois faria sucesso no mundo
todo com “O Tigre e O Dragão”). Mais do que qualquer coisa, é neste filme que
se percebe o quanto a vontade em ser um produto comercial que obedece a risca a
cartilha hollywoodiana de filmes de ação oprimia a narrativa, tornando-o quase
um espetáculo vazio.
007 O Mundo Não É O Bastante: Tentando rastrear
as atuações de um perigoso e poderoso "barão do crime", a fim de
elucidar sua identidade, James Bond acaba incumbido de proteger uma ex-refém
desse mesmo bandido. Sua relação com ela e com uma jovem cientista nuclear
revelarão as verdadeiras intenções do vilão. No terceiro filme de James Bond
protagonizado por Pierce Brosnan, quando então ele já gozava do fato de ser
considerado um dos melhores intérpretes de Bond, ao lado de Sean Connery, após
o excessivamente sério e empostado Timothy Dalton nos anos 1980 e o caricato
Roger Moore nos anos 1970, o responsável por capitanear o filme foi Michael
Apted, cuja escolha por parte dos produtores seguia muito a mesma lógica de
Roger Spottiswoode no filme anterior: Um trabalhador obediente, acostumado com
a indústria, sem maioridades características autorais e com pelo menos um filme
de qualidade no currículo (o ótimo “Nas Montanhas dos Gorilas” com Sigourney
Weaever). Tudo isso o tornava, do ponto de vista corporativo, uma escolha perfeita
para dirigir o novo “Bond”, mas o produto final, embora tivesse uma profusão de
elementos clássicos da franquia e de filmes comerciais em geral, pecava por não
te alma. “O Mundo Não É O Bastante” entrou assim para o cânone de James Bond
como o primeiro filme a incluir uma bond-girl (a deslumbrante francesa Sophie
Marceau) que se revelava a vilã da história, mas foi lembrado mesmo como o mais
fraco produto da “safra Pierce Brosnan”.
007 Um Novo Dia Para Morrer: O agente da coroa
britânica, James Bond é capturado por governo inimigo durante uma missão
relativamente fracassada. Após um ano como prisioneiro ele é libertado e, sob o
descrédito do Serviço Secreto, decide ir atrás dos eventuais responsáveis por
seu encarceramento. Seu inimigo, como de praxe, tem planos megalomaníacos para
a dominação mundial. Este foi o 19º filme de James Bond, e o 4º com Pierce
Brosnan no papel, além de ser, dentre todos, o mais austero e elaborado:
Provavelmente devido à inclusão de um diretor mais jovem no comando, o neo-zelandês
Lee Tamahori (de “O Amor e A Fúria”). Isso trouxe uma ligeira audácia no
tratamento com a história, mas nada que comprometesse o objetivo restritamente
comercial da obra. A inclusão de Halle Berry (vencedora do Oscar de Melhor
Atriz por “A Última Ceia” em 2001, um ano antes), como uma agente secreta que
refletia o próprio James Bond em versão feminina também foi um sopro de ar
fresco, mas o patrimônio da série continuava a ser a presença acertada de
Pierce Brosnan. O ator estava muito bem, exibindo charme e segurança como 007,
embora já começasse a expressar seu cansaço com o personagem, mas o filme, tal
qual os outros, era exagerado e caricato, fruto de anos em que a série vinha
sendo realizada em cima das mesmas fórmulas.
Talvez fosse essa percepção
que tenha levado a série, no episódio seguinte (o espetacular “Cassino
Royale”), a dar um arrojado salto de sofisticação e optar por uma reformulação
total, começando do zero com Daniel Graig.
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