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terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Vizinhos 2


 Dois anos após “Vizinhos” ter se tornado um sucesso –sobretudo, por seu desempenho em homevideo –o ator Seth Rogen (também roteirista e produtor) e o diretor Nicholas Stoller retomaram os mesmos personagens para uma nova história. Diante do fato de que o primeiro filme quase mal se sustentava por si, a pergunta que fica é: Por que?

E “Vizinhos 2” se esforça de todas as maneiras tentando respondê-la com dignidade, reaproveitando parte do mote do filme anterior, esbanjando (em alguns momentos até demais) a inclinação de seu elenco ao improviso, e introduzindo a não tão pertinente personagem de Chloe Grace Moretz, a fim de dar um elemento representativo à trama –no caso, o respaldo feminista que faltou ao primeiro filme.

Desta vez, o casal Mac e Kelly (Seth Rogen e Rose Byrne) esperam mais um bebê. Com a segunda filha a caminho, a decisão deles é vender a casa e adquirir uma outra, melhor e mais espaçosa para o aumento da família.

Entretanto, a venda será sob o sistema de caução, ou seja, seus compradores têm trinta dias para avaliar o lugar e mudar de ideia até que o acordo seja fechado. No mesmo período, uma celeuma inesperada ocupa a casa ao lado, que no filme anterior abrigou as festas de arromba da fraternidade Delta Psi: Agora, tal casa será ocupada pela fraternidade Kappa Nu, presidida pela jovem Shelby (Chloe Grace Moretz), desejosa de criar sua própria fraternidade ao descobrir que as confrarias femininas, diferente das masculinas, não podem dar festas.

Para Shelby, é uma questão de honra que garotas tenham tanto direito de festejar quanto garotos –e de promover as festas que quiserem em seus próprios termos, sem sexualização.

O problema é que, apesar das boas intenções, Shelby e suas amigas não fazem ideia de como administrar uma fraternidade. Entra em cena então o garotão Teddy Sanders (Zac Efron) que, como referendaram os acontecimentos mostrados no primeiro filme, não evoluiu muito: Enquanto seus amigos se formaram e arrumaram empregos adultos, Teddy –cuja aptidão eram mesmo as festas espetaculares –seguiu em sub-empregos, sem muito lugar onde morar (era hóspede do amigo gay vivido por Dave Franco), numa espécie de crise de meia idade prematura. Quando seu amigo resolve se casar com o namorado, Teddy recebe um ultimato: Procurar outro lugar para morar. E é assim que seu caminho se cruza com o das garotas Kappa Nu.

Agora, como ‘consultor administrativo’ das garotas, Teddy retoma a mesma dinâmica do filme original, em que elaborava festas e mais festas de um lado, enquanto de outro, Mac e Kelly bolavam suas abiloladas sabotagens.

Tudo neste segundo filme é mais idiota, mais raso e mais irritante que no filme anterior –síndrome de sequência da qual este filme mais padece.

E todas as ideias (até que promissoras) para torná-lo melhor não encontram um resultado à altura: Caso do, digamos, idealismo igualitário da personagem de Chloe Grace Moretz, um discurso muito bonito no papel e que, em teoria, engrandeceria o filme, mas, cujo roteiro é incapaz de aprofundar essa circunstância, e a personagem Shelby, que poderia acrescentar camadas ao filme, acaba completamente desperdiçada.

O mesmo vale para a repentina homossexualidade do personagem de Dave Franco (condição inexistente no filme anterior e que aqui soa arbitrária e nada relevante) e para a discussão em torno da eterna imaturidade de Teddy, seu grande elemento de vulnerabilidade do filme anterior (e também lá um pouco negligenciado) que afasta-o do papel óbvio de vilão para lhe conferir uma química inesperada e válida com o personagem de Seth Rogen –se no primeiro filme a sensação de desperdício para com essa possibilidade interessante já assombrava o trabalho dos atores que o diga neste daqui, mais interessado nas gags sucessivas, de humor ocasionalmente grosseiro, que fracassam justamente naquilo que uma comédia não deveria fracassar: Ter graça.

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Extermínio 2

Para a continuação de seu ‘filme de zumbis que não são exatamente zumbis’, “Extermínio”, o diretor Danny Boyle abriu mão da cadeira de diretor para só ocupar a função de produtor executivo. Ainda assim, foi criterioso na escolha de seu substituto: O espanhol Juan Carlos Fresnadillo, realizador de um excelente trabalho em “Intacto”.
E “Extermínio 2”, de fato, revela inteligência promissora para uma continuação: Seu prólogo nos leva num refúgio dividido por meia-dúzia de pessoas, entre eles, Don (Robert Carlyle, presença ironicamente comum nos filmes de Boyle) e Alice (Catherine McCormack, de “Coração Valente” e “A Sombra do Vampiro”), casal que será pivô da trama em torno da qual este segundo filme se movimenta.
Tal e qual o filme anterior –e como todos os filmes e séries de zumbi que se prezam –o grupo se esconde numa casa dos infectados que devastaram a Grã-Bretanha.
Algo, porém, dá errado e, na necessidade de fuga que segue, podemos ver enfatizadas as características um tanto egoístas e acovardadas de Don, que não pestaneja ao deixar a própria esposa à mercê dos infectados para salvar a própria pele.
Findo o prólogo, somos assim informados do contexto em que a continuação se passa: Após os eventos do primeiro filme, todos os infectados pelo vírus morreram de fome nas semanas seguintes; logo depois, as Forças-Armadas dos EUA interviram ocupando Londres e montando uma zona de segurança a fim de dar início ao processo de recuperação da cidade.
É nesse cenário, 28 semanas depois (“28 weeks later” o título original), que os jovens Tammy (a lindíssima Imogen Poots) e Andy (Mackintosh Muggleton) chegam à Londres, vindos de uma excursão que, por sorte, os afastou do ponto crítico da epidemia.
Lá, está o pai deles os esperando, e qual não é a surpresa quando descobrimos que o pai é Don, que conseguiu chegar em Londres e juntou-se aos refugiados da zona de segurança.
Tudo parece bem e todos parecem em segurança.
Mas, Tammy e Andy não estão satisfeitos com a vaga explicação de Don para o paradeiro de sua mãe, e –numa manobra típica de personagens de filme de terror que deflagram toda a confusão com seus atos impensados –os dois fogem da barreira de contenção para a área de perigo; onde revemos os cenários característicos do primeiro filme, com bairros londrinos completamente desertos flagrados numa impressionante desolação.
As duas crianças, para surpresa de todos (até de Don), reencontram sua mãe (!) que continua viva apesar do ataque dos infectados.
A explicação: Quando é trazida à zona de segurança, a especialista em epidemiologia Oficial Ross (Rose Byrne) descobre que Alice tem uma raríssima imunidade ao vírus, o que pode ser a chave para uma cura.
Contudo, ela ainda tem o vírus em seu organismo e, quando se reencontra com Don, acaba infectando-o trazendo a praga que assolou o primeiro filme para dentro da zona de segurança.
Quando é iniciado o protocolo do Código Vermelho já é tarde demais: Os infectados já tomaram todo o Centro Médico e de lá para o restante do complexo.
Resta à Oficial Ross tentar proteger Tammy e Andy, prováveis portadores da cura, com o auxílio do Sgt. Doyle (Jeremy Renner, antes da consagração por “Guerra Ao Terror” e de virar o Gavião Arqueiro da Marvel), levando-os a um lugar seguros onde poderão ser resgatados.
Não tão referencial ao cinema de George Romero como o primeiro filme –tendo aproveitado dele somente o princípio básico de não repetir os protagonistas nas continuações de seus filmes de zumbi –este “Extermínio 2” apresenta um notável ponto de partida, recusando-se a ser um mero prosseguimento do filme anterior, construindo uma nova premissa de fato, e ainda fornecendo novos aspectos a esse mundo pós-apocalíptico antes esboçado. Ele só não consegue se fazer tão antológico quando o original em sua relevância porque seu roteiro insiste numa nem sempre apropriada valorização de um infectado específico (Don, o pai das crianças) como o ‘grande vilão do filme’, o que confere à um zumbi –uma criatura, por definição acéfala, irracional e incontrolável –uma série de atos e comportamentos mais inteligíveis que, quando se acumulam até o final, despertam alguma descrença no expectador.
Mas é um problema bem pequeno numa continuação que prima por se mostrar tão envolvente, arrojada e eletrizante quanto sua ótima produção original.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Vizinhos

Mais um exemplar do humor particular e idiossincrático de Seth Rogen –que atua como produtor –“Vizinhos” é uma de suas empreitadas mais bem-sucedidas, dirigido por Nicholas Stoller que também realizou “Ressaca de Amor” e “Sim, Senhor”, com Jim Carrey.
Seu tema gira em torno das lendárias festas das irmandades universitárias norte-americanas que também serviam ao mote de “Dias Incríveis” e de incontáveis comédias adolescentes dos anos 1980, como “A Vingança dos Nerds” e afins.
Seth Rogen interpreta Mac, um cidadão comum que ao lado da esposa Kelly (a bela Rose Byrne) busca convencer a si mesmo que é um homem realizado e feliz, naquele discurso motivacional de reafirmação que os americanos empurram goela abaixo uns dos outros.
A crise de meia-idade de Mac –e a nostalgia natural dos tempos de farra –ganham, dessa forma, uma personificação viva quando muda-se para a casa ao lado uma irmandade universitária presidida pelo jovem Teddy (Zac Efron), um líder atlético, carismático, descontraído e festeiro –tudo o que Mac não é, ou em última instância, o que ele reprimiu dentro de si em prol da vida adulta.
Entretanto, a reflexão no filme de Stoller não se estende para tanto: O que Teddy proporciona aos seus vizinhos (após o trivial período da adaptação onde tentativas de conciliação são tentadas e superadas) são noites mal dormidas e aborrecimentos com o som alto que logo progridem para incômodos ainda mais diretos.
De sua parte, o casal de adultos não se esforça para ser mais responsável: Mac e Kelly inventam os planos mais mirabolantes para minar a credibilidade de Teddy, inclusive, uma tentativa de fazê-lo romper os laços com seu braço direito e melhor amigo, Pete (Dave Franco).
É quando o filme revela uma imprevista compreensão de seus personagens: Se a primeira parte explorava as incongruências crescentes entre os jovens e os (um pouco) mais velhos, sob o prisma de uma sufocada crise de meia idade, na segunda, são as inseguranças de Teddy que ganham expressão na narrativa, ao descobrirmos que, em sua inaptidão intelectual, ela busca se fazer imprescindível através das festas de arromba que promove, enquanto é obrigado a ver, um amigo seguido do outro, se afastar rumo a uma vida adulta que para ele parece inacessível.
O lapso neste filme, contudo, é possuir esse detalhe sempre proeminente em sua premissa (o de uma profundidade inesperada em seus personagens assim revelada), mas nunca dele tirar o devido proveito.
O diretor Stoller –que, em “Ressaca de Amor” soube tão bem trabalhar as inseguranças masculinas com seriedade e ternura em contraste com um humor beirando ao chulo –aqui parece se contentar com as gafes e confusões eventuais de estratagemas sucessivos engendrados por meros antagonistas declarados. Acaba que até mesmo a química e a camaradagem genuína que se percebe entre os personagens de Rogen e Efron –que leva o expectador a deduzir que eventualmente ficarão amigos –não se mostra devidamente explorada na trama, que segue por um desfecho abrupto, banal e pouco memorável.
Ainda assim, “Vizinhos” fez lá seu sucesso graças aos improvisos constantes –uma característica de Seth Rogen e sua turma –que nele geraram um humor desigual e as impagáveis situações construídas nas tais festas universitárias que o cinema americano sempre soube mostrar num viés folclórico que certamente não corresponde à realidade.

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Sunshine - Alerta Solar

Existem filmes que são verdadeiras assombrações para aqueles que desejam aventurar-se em algum gênero cinematográfico específico.
Quando o versátil diretor escocês Danny Boyle –vindo da ótima reformulação de filmes de zumbi, “Extermínio" –resolveu enveredar pelo terreno da ficção científica, certamente, os fantasmas com os quais ele se deparou foram “Alien”, de Ridley Scott, “2001-Uma Odisséia NoEspaço”, de Stanley Kubrick e “Solaris”, de Andrei Tarkovski; obras essenciais e passíveis de comparação para qualquer filme cujo cenário é uma espaçonave.
À esses títulos é possível também incluir mais um: “O Enigma do Horizonte”, de Paul Anderson, cuja trama guarda algumas grandes semelhanças com esta daqui.
O grande diferencial de “Sunshine”, pode-se dizer, é o próprio Danny Boyle –sua direção inteligente, elegante e paulatinamente compenetrada jamais deixa que a premissa (ocasionalmente absurda) despenque para suas facetas mais banais e redundantes.
A trama se passa no futuro.
Longe do planeta Terra, a bordo da nave Icarus 2.
Após a missão fracassada da Icarus 1, essa segunda nave parte em direção ao sol deixando para trás um planeta terra a beira de um inverno solar. O astro-rei está morrendo, sua energia se acabando (numa probabilidade científica real vislumbrada pelo roteiro) e quando isso terminar por acontecer todo o sistema solar morrerá, engolido por uma supernova.
Para deter isso, a tripulação da Icarus 2 leva consigo uma bomba nuclear que ao ser detonada, supõe-se, reacenderá o sol e salvará a humanidade da extinção.
O grupo reunido a bordo da nave é, ele próprio, um conjunto bastante interessante de personagens e interpretes: Robert Capa, o especialista em fusão atômica –e protagonista –interpretado por Cillian Murphy (que protagonizou também “Extermínio”); o piloto Mace (Chris Evans, num papel sensacional bem antes do Capitão América); o honrado capitão Kaneda (o ótimo Hiroyuki Sanada, de “O Samurai do Entardecer”); a botânica Corazon (Michelle Yeoh, de "O Tigre e O Dragão"); a cientista Cassie (Rose Byrne); o psicólogo Searle (Cliff Curtis), e ainda os astronautas vividos por Troy Garity e Benedict Wong.
Até que todos eles cheguem lá, partindo do princípio surreal de que uma nave tripulada seja capaz de ir em direção ao sol (ainda que isso seja tratado, na narrativa, com verossimilhança e seriedade), a tripulação da Icarus 2 descobrirá as conseqüências imprevisíveis que o ser humano pode sofrer ao tentar se opor a sua própria extinção.
Danny Boyle não perde o pulso em nenhum momento sequer neste instigante conto de ficção científica amparado em conceitos existenciais tal qual "Solaris" de Tarkovski, mas com ritmo e acabamento de filme comercial.

quinta-feira, 4 de maio de 2017

O Lugar Onde Tudo Termina

Um personagem. Um motociclista. De índole tão inconseqüente e auto-destrutiva que, de início, sabemos que ganha a vida arriscando-se em apresentações num globo da morte. Esse é o estopim narrativo que principia este trabalho do diretor Derek Cianfrance, mais ambicioso do que o elogiado “Namorados Para Sempre” –ou “Blue Valentine” –tornando aqui a trabalhar com o ator Ryan Gosling, intérprete justamente desse personagem, Handsome Luke, e dele arrancando uma notável atuação.
Na interpretação de Gosling, Luke desafia o público: Dentre os vários personagens é, de longe, aquele que mais monopoliza o expectador, apesar de tudo que ainda virá, ele obtém facilmente sua afeição, embora cometa o tempo todo atos que não o fazem merecedor.
Que o diga Romina (interpretada por Eva Mendes) uma antiga aventura que Luke descobriu carregar um filho seu.
Disposto a arcar com a paternidade, Luke entra em atrito com o então marido de Romina, Kofi (Mahershala Ali, de “Moonlight-Sob A Luz do Luar”), e termina associando-se ao escuso Robin (Ben Mendelsohn, de "Rogue One”) com quem envereda para o crime, assaltando bancos.
Por sua personalidade e por sua necessidade, esses serão atos que ele não será capaz de interromper.
Em algum momento, portanto, o caminho de Luke cruza-se com o do policial Avery Cross (Bradley Cooper, ótimo) e então o filme o abandona, por assim dizer.
Num recurso bastante inesperado, é Avery quem assume o centro da trama quando o filme já abandona seu primeiro ato e, embora os elementos do plot anterior jamais sejam esquecidos, a obra de Cianfrance, em alguns momentos, parece ter se metamorfoseado num outro filme, desta vez acerca das aflições de um jovem policial ambicioso cercado de corrupção por todos os lados.
Mais a frente, com habilidade inata, também essa premissa irá se modificar, restabelecendo o caráter humano de sua história.
Dito isso, é realmente notável como a narrativa transfere com surpreendente naturalidade o protagonismo de um personagem para o outro (primeiro, Ryan Gosling, uma lembrança que persiste por todo o filme; depois, Bradley Cooper; e, por fim, o jovem Dane Deehan) numa trama sobre culpa, destinos que se entrecruzam e conseqüências do passado, que se estende por décadas.
Neste filme, assim como no anterior “Blue Valentine” e no posterior “A Luz Entre Os Oceanos”, o diretor Derek Cianfrance demonstra grande interesse por laços familiares que se formam por caminhos tortos, bem como o sinuoso e corrosivo efeito que eles desenvolvem nas vidas dos envolvidos ao longo dos anos.
A maneira hábil com que ele consegue compreender tais desdobramentos dramáticos e a forma certeira e talentosa como os expressa em cena é o grande brilho deste filme.

domingo, 25 de setembro de 2016

Maria Antonieta

A carreira cinematográfica de Sofia Coppola recebeu grande ajuda e incentivo de seu pai, o ilustre Francis Ford. Mesmo antes quando (ainda bem jovem) Sofia experimentou alçar vôos como atriz, seu pai a ajudou –ele deu a ela um papel fundamental em “O Poderoso Chefão Parte 3”, com resultados insatisfatórios.
Depois que ela decidiu tornar-se diretora, ele produziu todos os seus filmes, de “As Virgens Suicidas” até o mais recente “Bling Ring-A Gangue de Hollywood”, deixando bem claro, para o pai e para o mundo, o estilo que ela adotaria para contar histórias.
Em algum momento dessa filmografia notável que Sofia construiu, Coppola, o pai, tentou colocá-la num projeto que tivesse mais a sua cara.
Leia-se: Um trabalho suntuoso, com tinturas épicas. Mais clássico do que alternativo.
O resultado foi “Maria Antonieta” que, polarizado entre os estilos bastante díspares do pai (produtor) e da filha (diretora) transfigurou-se não em uma cinebiografia da célebre rainha da França, mas em um esforço de tentar entender sua personalidade, estranhamente localizado numa área nebulosa entre o intimista e o espalhafatoso.
Com uma carreira que já a gabaritava como veterana no cinema, a relativamente jovem atriz Kirsten Dunst (que ganhou muita fama como Mary Jane nos filmes do “Homem-Aranha”, de Sam Raimi, e já havia trabalhado com Sofia em “As Virgens Suicidas”) entregou uma interpretação engajada e rica em minúcias, bem ao gosto de sua diretora, para a princesa austríaca, Maria Antonieta, que num casamento arranjado, aos 14 anos, é arrancada do seu ambiente familiar e arremessada na corte francesa, como esposa do reticente e infantil rei Louis XVI (Jason Schwartzman) –que, à propósito, ela mal conhecia!
A narrativa de Sofia Coppola, assim, a acompanhará dos 14 aos 27 anos, mostrando muito do período em que ela teve de aprender a lidar com as complicadas exigências sociais e políticas de um posto de monarca, dando à trajetória de Maria Antonieta uma ótica que a aproxima das meninas sem perspectiva de “As Virgens Suicidas” e da deslocação e do vazio existencial experimentado pelos personagens de “Encontros e Desencontros”.
Uma visão que, é bom lembrar, atribui certa simpatia à ela, o quê contraria bastante a idéia que a França, em geral, faz dela, sempre lembrando-a com aversão.
Nesse ensejo, Sofia também cria um painel de afresco da própria realeza do período ao qual essa jovem rainha pertenceu, retratando-a como um grupo de pessoas sem muito que fazer a não ser mergulhar no hedonismo e na futilidade, algo possível só pela riqueza e ostentação da classe em que se encontravam. Elementos da narrativa que Sofia parece sublimar no que diz respeito à superficialidade, mas que revelam-se cruciais para os rumos que a trama toma –inclusive em termos históricos.
De quebra, ainda tirou, do cotado como favorito "Diabo Veste Prada", o Oscar de Melhor Figurino em 2007.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

X-Men Apocalypse

Uma cena emblemática: Os jovens saem de um cinema após uma sessão de “O Retorno de Jedi” –o filme-sensação do ano, então 1983 –e já estão a discorrer sobre sua qualidade.
“O melhor é ‘O Império Contra-Ataca’” comenta a garota chamada Jubileu.
“Tudo começou com o primeiro filme” diz Scott, o Ciclope (Ty Sheridan) “não haveriam continuações se não fosse o primeiro filme!”
Até que Jean Grey (Sophie Turner) faz uma afirmação categórica:
“Vamos, pelo menos, concordar que o último filme é o pior da trilogia!”
Talvez, uma piada interna da produção, talvez, um acaso carregado de sarcasmo, porém o quê a personagem diz se aplica ao filme no qual estão presentes, “X-Men Apocalypse”.
Dizer que ele é o mais fraco da trilogia iniciada em “Primeira Classe” (cuja austeridade e noção de ritmo do diretor Mathew Vaughn, permanecem a fazer dele o melhor dentre todos os filmes da série) e continuada em “Dias de Um Futuro Esquecido”, contudo, não é desmerecê-lo: “Apocalypse” ainda é um divertimento de qualidade, com interessantes predicados, o problema é que Bryan Singer se despiu de muitos elementos que davam equilíbrio ao conceito e tornavam os X-men tão singulares entre a infinidade de super-heróis que começam a abarrotar as salas de cinema.
Passaram-se dez anos desde os acontecimentos do filme anterior (parece ser uma espécie de tradição nessa nova versão dos mutantes que seus filmes se passem com uma década de intervalo entre um e outro, embora seu elenco principal não demonstre nenhum sinal de envelhecimento), e a Escola Para Jovens Superdotados do Prof. Charles Xavier recebe a cada dia novos alunos, como o novato Scott, que descobriu a pouco as rajadas devastadoras que saem sem controle de seus olhos, ou a instável Jean, cujo poder de telepatia e telecinese parece esconder uma ameaça maior dentro dela.
Dos antigos companheiros de Xavier, Raven, ou Mística (Jennifer Lawrence, catalizando parte das atenções da trama), se encontra pelo mundo, ajudando mutantes à sua própria maneira: É assim que ela chega até o jovem Kurt Wagner, ou Noturno (Kodi Smit-McPhee, tão bom quanto sua versão mais velha vista em “X-Men 2”), um teleportador de corpo azul.
Já, Eric, ou Magneto (Michael Fassbender, em uma bela interpretação) após os eventos pregressos, refugiou-se na Polônia onde buscou começar vida nova.
Todas essas trajetórias colidem quando um mutante ancestral, o milenar En Sabah Nur, ou Apocalypse (Oscar Isaac, cuja atuação esmerada não escapa ao tom canhestro desse tipo de personagem bidimensional), desperta no Oriente Médio, trazendo consigo sua determinada ânsia para varrer os humanos da face da terra.
Com uma habilidade que lhe é inerente, Bryan Singer, concebeu esse recomeço da série “X-Men”, antecipando e, por vezes, alterando os eventos da série original, não apenas enfatizando a pertinente questão do preconceito, mas atrelando a trama de cada filme à um evento histórico ocorrido em cada década respectiva; se em “Primeira Classe” havia o sensacional aproveitamento da crise dos mísseis de Cuba, e “Dias de Um Futuro Esquecido” foi hábil em utilizar como cerne narrativo o final da Guerra do Vietnam, a década de 1980, na qual se ambienta “Apocalypse” não possui nenhum acontecimento histórico importante a ser abordado; e esse é só um dos problemas enfrentados pelo filme.
Ao eleger, o onipotente e cartunesco Apocalypse como seu vilão principal, Singer também desproveu seu filme de um de seus mais encantadores trunfos: As motivações e ideologias, tão pertinentes e atuais, que norteiam seus personagens, inclusive seus vilões, o quê valorizava a trama e suscitava uma discussão sempre interessante.
Não há, porém, muito o que comentar sobre Apocalypse em si: Ele é um vilão somente. Quer a destruição, e cabe aos heróis aplacá-lo, o quê reduz o filme de Singer a um mero filme de ação onde os bons combatem os maus, e as áreas cinzas da personalidade dos adversários são deixadas de lado.
Claro que, mesmo no comando das cenas de ação, Singer continua um artesão de admirável apuro e requinte visual, embora seu uso de efeitos visuais (bastante imodesto na comparação com os enxutos filmes anteriores) fique excessivo na parte final, assim como seu exorbitante hábito de dilatar o tempo além da conta nos momentos de suspense (que já havia ficado provado em “Superman-O Retorno” ser um de seus defeitos).

Talvez, o grande problema de “Apocalypse” seja a condição na qual chega aos cinemas (como terceiro e mais simplório de uma trilogia na qual os dois capítulos anteriores, sobretudo o primeiro, foram magistrais), e também o timing com o qual isso se dá (depois de um mediano “Batman Vs Superman” e de um espetacular “Capitão América-Guerra Civil”, quando uma parte do público e boa parte da crítica já começa a falar sobre a defasagem de superheróis nas salas de cinema). 

segunda-feira, 9 de maio de 2016

X-Men Primeira Classe

Ao se conhecerem, o jovem sobrevivente dos campos de concentração Erik Lensherr e o aristocrata Charles Xavier imediatamente percebem uma conexão que os torna melhores amigos, unidos no ideal de encontrar e recrutar as pessoas oriundas da proeminente raça dos mutantes (pessoas que nascem com assombrosos e diferenciados poderes, o que os tornam vítimas de discriminação por parte dos humanos comuns) que surgem no mundo em meados dos anos 1960 de então. Mas um inimigo poderoso surgirá na forma de Sebastian Shaw, que usará desses mesmos mutantes para arremessar o mundo numa Terceira Guerra Mundial, valendo-se do episódio da Crise dos Mísseis de Cuba, o quê, entre outras coisas, levará Erik e Charles a um rompimento irreversível.
Após o fiasco não só em termos de bilheteria, mas de crítica também, do filme solo do Wolverine as coisas rapidamente mudaram nos estúdios da Fox: Um novo projeto envolvendo os mutantes rapidamente foi iniciado, com toda a cara de reformulação da série (um elenco de novos atores –Michael Fassbender, James MacAvoy e Jennifer Lawrence, em destaque –incorporando uma versão mais jovem dos personagens Magneto, Charles Xavier e Mística, e um retrocesso no tempo para contar o início da história), e mais uma vez Bryan Singer estava envolvido (agora como roteirista e produtor), além da bem-vinda euforia cinética que o novo diretor, o talentoso Matthew Vaughn (de “Kick Ass”), trouxe para a narrativa.
O resultado foi “X-Men Primeira Classe”, um filme vibrante que excedeu expectativas e não apenas devolveu o brilho aos mutantes no cinema, resgatando a profundidade de suas histórias e do pertinente estudo sobre o preconceito, mas cuja qualidade cinematográfica obtida praticamente em todas as áreas técnicas e artísticas logo o colocou como o melhor filme da série (posto que ele ocupa até hoje).
Um novo e promissor futuro aguardava os mutantes, mas a grande questão era: Será que a saga sofreria uma reinvenção, ou este era tão somente o passado dos filmes originais?