terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Vizinhos 2


 Dois anos após “Vizinhos” ter se tornado um sucesso –sobretudo, por seu desempenho em homevideo –o ator Seth Rogen (também roteirista e produtor) e o diretor Nicholas Stoller retomaram os mesmos personagens para uma nova história. Diante do fato de que o primeiro filme quase mal se sustentava por si, a pergunta que fica é: Por que?

E “Vizinhos 2” se esforça de todas as maneiras tentando respondê-la com dignidade, reaproveitando parte do mote do filme anterior, esbanjando (em alguns momentos até demais) a inclinação de seu elenco ao improviso, e introduzindo a não tão pertinente personagem de Chloe Grace Moretz, a fim de dar um elemento representativo à trama –no caso, o respaldo feminista que faltou ao primeiro filme.

Desta vez, o casal Mac e Kelly (Seth Rogen e Rose Byrne) esperam mais um bebê. Com a segunda filha a caminho, a decisão deles é vender a casa e adquirir uma outra, melhor e mais espaçosa para o aumento da família.

Entretanto, a venda será sob o sistema de caução, ou seja, seus compradores têm trinta dias para avaliar o lugar e mudar de ideia até que o acordo seja fechado. No mesmo período, uma celeuma inesperada ocupa a casa ao lado, que no filme anterior abrigou as festas de arromba da fraternidade Delta Psi: Agora, tal casa será ocupada pela fraternidade Kappa Nu, presidida pela jovem Shelby (Chloe Grace Moretz), desejosa de criar sua própria fraternidade ao descobrir que as confrarias femininas, diferente das masculinas, não podem dar festas.

Para Shelby, é uma questão de honra que garotas tenham tanto direito de festejar quanto garotos –e de promover as festas que quiserem em seus próprios termos, sem sexualização.

O problema é que, apesar das boas intenções, Shelby e suas amigas não fazem ideia de como administrar uma fraternidade. Entra em cena então o garotão Teddy Sanders (Zac Efron) que, como referendaram os acontecimentos mostrados no primeiro filme, não evoluiu muito: Enquanto seus amigos se formaram e arrumaram empregos adultos, Teddy –cuja aptidão eram mesmo as festas espetaculares –seguiu em sub-empregos, sem muito lugar onde morar (era hóspede do amigo gay vivido por Dave Franco), numa espécie de crise de meia idade prematura. Quando seu amigo resolve se casar com o namorado, Teddy recebe um ultimato: Procurar outro lugar para morar. E é assim que seu caminho se cruza com o das garotas Kappa Nu.

Agora, como ‘consultor administrativo’ das garotas, Teddy retoma a mesma dinâmica do filme original, em que elaborava festas e mais festas de um lado, enquanto de outro, Mac e Kelly bolavam suas abiloladas sabotagens.

Tudo neste segundo filme é mais idiota, mais raso e mais irritante que no filme anterior –síndrome de sequência da qual este filme mais padece.

E todas as ideias (até que promissoras) para torná-lo melhor não encontram um resultado à altura: Caso do, digamos, idealismo igualitário da personagem de Chloe Grace Moretz, um discurso muito bonito no papel e que, em teoria, engrandeceria o filme, mas, cujo roteiro é incapaz de aprofundar essa circunstância, e a personagem Shelby, que poderia acrescentar camadas ao filme, acaba completamente desperdiçada.

O mesmo vale para a repentina homossexualidade do personagem de Dave Franco (condição inexistente no filme anterior e que aqui soa arbitrária e nada relevante) e para a discussão em torno da eterna imaturidade de Teddy, seu grande elemento de vulnerabilidade do filme anterior (e também lá um pouco negligenciado) que afasta-o do papel óbvio de vilão para lhe conferir uma química inesperada e válida com o personagem de Seth Rogen –se no primeiro filme a sensação de desperdício para com essa possibilidade interessante já assombrava o trabalho dos atores que o diga neste daqui, mais interessado nas gags sucessivas, de humor ocasionalmente grosseiro, que fracassam justamente naquilo que uma comédia não deveria fracassar: Ter graça.

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