A carreira de astro de Mel Gibson ia muito bem
nos anos 1990, e ele definitivamente não precisava passar por nenhum tipo de
reinvenção, contudo, havia nele um desejo incontrolável de criar e de se
expressar –o quê se percebia nas escolhas criteriosas de filmes dos quais
participava.
Ele estreou na direção, de maneira um tanto
quanto promissora, no sensível drama “O Homem Sem Face” para logo em seguida
realizar um assombroso salto de escopo e habilidade com a superprodução
intitulada “Coração Valente”.
Nota-se, neste grandioso filme épico, as
características que sempre definiram Gibson: A paixão por histórias
transcorridas na Antiguidade (nos projetos seguintes, ele foi regressando cada
vez mais no tempo em obras como “Apocalypto” e “A Paixão de Cristo”) e uma
espécie de empolgação com os elementos tão realistas quanto brutais (um fator
fundamental na qualidade hiperlativa das cenas de batalha) e com a ausência de
características fantasiosas.
Assim sendo, ao acumular as funções de direção
(revelando muito talento para a elaboração das seqüências) e ator principal
(conduzindo com seu habitual carisma a história verídica deste célebre herói
escocês), Gibson conta a trajetória romantizada de William Wallace que, após
ficar órfão, retorna a sua Escócia natal depois de muitos anos recebendo
educação na Europa. É a era medieval e a Escócia, então colônia da Inglaterra
tem seus moradores oprimidos pelo Tirânico Rei Eduardo I (Patrick McGorman,
maquiavélico), cujas leis visavam esmagar qualquer ímpeto de auto-respeito do
povo escocês, como a famigerada Lei da Primeira Noite, pela qual, um nobre
inglês teria direito a deitar-se com uma noiva escocesa em sua noite de núpcias
no lugar do marido.
Apaixonado por uma amiga de infância (Catherine
McCormack, em breve, porém, bonita participação), Wallace casa-se com ela em
segredo, só para mais tarde vê-la morrer pelas mãos de soldados ingleses.
Implacável, mata a todos, o que o transforma num inesperado líder a frente de
um inevitável levante.
Usando muitos de seus conhecimentos de homem
culto em meio aos bárbaros, Wallace acaba por liderar toda uma rebelião que une
a oprimida Escócia contra seus opressores ingleses, valendo-se de sucessivas
estratégias de batalha que os fazem adquirir uma inesperada vantagem sobre seus
esmagadores inimigos.
Gibson não busca inventar a roda neste seu
segundo trabalho na direção; e, por isso mesmo, o filme resulta tão belo quanto
tradicional, um exemplar clássico das produções épicas do passado que fizeram a
fama de diretores como David Lean, William Wyler ou Anthony Mann.
A Academia de Artes
Cinematográficas não viu mal algum nisso, pelo contrário, concedeu ao filme
cinco estatuetas (entre elas as de Melhor Filme e Melhor Diretor) comprovando
um certo fascínio que seus membros têm em enaltecer atores que se arriscam –com
bons resultados –a atuarem atrás das câmeras: Fazia poucos anos que Kevin
Costner, em sua estréia como diretor, viu seu “Dança Com Lobos” ser agraciado,
e naquele mesmo ano (1996) a atriz Emma Thompson havia levado o prêmio de
Melhor Roteiro Adaptado por “Razão e Sensibilidade”.
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