terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Coração Valente

A carreira de astro de Mel Gibson ia muito bem nos anos 1990, e ele definitivamente não precisava passar por nenhum tipo de reinvenção, contudo, havia nele um desejo incontrolável de criar e de se expressar –o quê se percebia nas escolhas criteriosas de filmes dos quais participava.
Ele estreou na direção, de maneira um tanto quanto promissora, no sensível drama “O Homem Sem Face” para logo em seguida realizar um assombroso salto de escopo e habilidade com a superprodução intitulada “Coração Valente”.
Nota-se, neste grandioso filme épico, as características que sempre definiram Gibson: A paixão por histórias transcorridas na Antiguidade (nos projetos seguintes, ele foi regressando cada vez mais no tempo em obras como “Apocalypto” e “A Paixão de Cristo”) e uma espécie de empolgação com os elementos tão realistas quanto brutais (um fator fundamental na qualidade hiperlativa das cenas de batalha) e com a ausência de características fantasiosas.
Assim sendo, ao acumular as funções de direção (revelando muito talento para a elaboração das seqüências) e ator principal (conduzindo com seu habitual carisma a história verídica deste célebre herói escocês), Gibson conta a trajetória romantizada de William Wallace que, após ficar órfão, retorna a sua Escócia natal depois de muitos anos recebendo educação na Europa. É a era medieval e a Escócia, então colônia da Inglaterra tem seus moradores oprimidos pelo Tirânico Rei Eduardo I (Patrick McGorman, maquiavélico), cujas leis visavam esmagar qualquer ímpeto de auto-respeito do povo escocês, como a famigerada Lei da Primeira Noite, pela qual, um nobre inglês teria direito a deitar-se com uma noiva escocesa em sua noite de núpcias no lugar do marido.
Apaixonado por uma amiga de infância (Catherine McCormack, em breve, porém, bonita participação), Wallace casa-se com ela em segredo, só para mais tarde vê-la morrer pelas mãos de soldados ingleses. Implacável, mata a todos, o que o transforma num inesperado líder a frente de um inevitável levante.
Usando muitos de seus conhecimentos de homem culto em meio aos bárbaros, Wallace acaba por liderar toda uma rebelião que une a oprimida Escócia contra seus opressores ingleses, valendo-se de sucessivas estratégias de batalha que os fazem adquirir uma inesperada vantagem sobre seus esmagadores inimigos.
Gibson não busca inventar a roda neste seu segundo trabalho na direção; e, por isso mesmo, o filme resulta tão belo quanto tradicional, um exemplar clássico das produções épicas do passado que fizeram a fama de diretores como David Lean, William Wyler ou Anthony Mann.
A Academia de Artes Cinematográficas não viu mal algum nisso, pelo contrário, concedeu ao filme cinco estatuetas (entre elas as de Melhor Filme e Melhor Diretor) comprovando um certo fascínio que seus membros têm em enaltecer atores que se arriscam –com bons resultados –a atuarem atrás das câmeras: Fazia poucos anos que Kevin Costner, em sua estréia como diretor, viu seu “Dança Com Lobos” ser agraciado, e naquele mesmo ano (1996) a atriz Emma Thompson havia levado o prêmio de Melhor Roteiro Adaptado por “Razão e Sensibilidade”.

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