terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Rock'N Roll - Por Trás da Fama

Ao notarmos que o ator e diretor Guillaume Canet interpreta Guillaume Canet num filme dirigido e estrelado por si mesmo, podemos concluir que não estamos diante de uma produção comum.
Mais conhecido por ser o felizardo marido de Marion Cotillard (que também aparece no filme interpretando a si mesma), Canet é um profissional ativo e reconhecido na França tendo uma longa e notável carreira, inclusive como cineasta.
Da forma como se apresenta, “Rock’N Roll” ludibria o expectador inicialmente fazendo-o crer que o filme propõe uma espiada na tão interessante vida íntima das celebridades, mas não é bem isso; ainda que, na comédia deslavada que se assume, o filme acabe entregando exatamente a percepção que se tem (ou se espera) de um artista em sua vaidade plena, ou do quão assustadoramente longe podem chegar as conseqüências de sua busca por atenção e relevância. Tais observações demonstram o quanto Canet, como ator e como diretor, é inteligente, espirituoso e até mesmo corajoso: Assolado pela típica crise de meia-idade (tem 40 anos), ele se descobre insatisfeito com o atual papel de pai de uma moça (a deliciosa Camille Rowe) num filme dirigido por um amigo seu. A atriz em questão comenta casualmente que ele, Guillaume Canet, caiu para a última posição numa lista de “atores maduros pegáveis” –e isso mexe com seus brios.
Logo se seguem as situações constrangedoras de praxe: Ele dá chiliques, muda seu figurino, começa a freqüentar baladas, a tomar drogas que antes não consumia (particularmente hilariante é a cena da paralisia facial) e, numa seqüência sensacional, pede conselhos à Johnny Holliday em pessoa (outra presença que representa no filme uma incisiva caricatura de si mesmo). Até almejar o absurdo de fazer testes para personagens de vinte e poucos anos de idade (!), num momento que proporciona a ótima participação especial do ator Ben Foster.
A partir desse ponto –lá pela metade do filme –quando a predisposição do protagonista para continuar aparentando juventude o leva a intervenções na própria imagem (como injeções de botox) o filme de Guillaume Canet engata uma marcha gradativamente mais mirabolante, embora esse absurdo nunca deixe o âmbito da probabilidade real. Ele literalmente leva seu personagem (e fica claro que, ainda que leve seu nome e seja sugestivamente ele próprio, este protagonista é, deveras, somente um personagem) às últimas conseqüências.

Provavelmente um conhecedor profundo das imbricações da fama e do escrutínio voraz do público, Canet faz de “Rock’N Roll” uma declaração divertida, autodepreciativa, engajada e implacável sobre as inquietações de um artista.

Nenhum comentário:

Postar um comentário