Ao notarmos que o ator e diretor Guillaume Canet
interpreta Guillaume Canet num filme dirigido e estrelado por si mesmo, podemos
concluir que não estamos diante de uma produção comum.
Mais conhecido por ser o felizardo marido de
Marion Cotillard (que também aparece no filme interpretando a si mesma), Canet
é um profissional ativo e reconhecido na França tendo uma longa e notável
carreira, inclusive como cineasta.
Da forma como se apresenta, “Rock’N Roll”
ludibria o expectador inicialmente fazendo-o crer que o filme propõe uma
espiada na tão interessante vida íntima das celebridades, mas não é bem isso;
ainda que, na comédia deslavada que se assume, o filme acabe entregando
exatamente a percepção que se tem (ou se espera) de um artista em sua vaidade
plena, ou do quão assustadoramente longe podem chegar as conseqüências de sua
busca por atenção e relevância. Tais observações demonstram o quanto Canet,
como ator e como diretor, é inteligente, espirituoso e até mesmo corajoso: Assolado
pela típica crise de meia-idade (tem 40 anos), ele se descobre insatisfeito com
o atual papel de pai de uma moça (a deliciosa Camille Rowe) num filme dirigido
por um amigo seu. A atriz em questão comenta casualmente que ele, Guillaume
Canet, caiu para a última posição numa lista de “atores maduros pegáveis” –e
isso mexe com seus brios.
Logo se seguem as situações constrangedoras de
praxe: Ele dá chiliques, muda seu figurino, começa a freqüentar baladas, a
tomar drogas que antes não consumia (particularmente hilariante é a cena da
paralisia facial) e, numa seqüência sensacional, pede conselhos à Johnny
Holliday em pessoa (outra presença que representa no filme uma incisiva
caricatura de si mesmo). Até almejar o absurdo de fazer testes para personagens
de vinte e poucos anos de idade (!), num momento que proporciona a ótima
participação especial do ator Ben Foster.
A partir desse ponto –lá pela metade do filme
–quando a predisposição do protagonista para continuar aparentando juventude o
leva a intervenções na própria imagem (como injeções de botox) o filme de
Guillaume Canet engata uma marcha gradativamente mais mirabolante, embora esse
absurdo nunca deixe o âmbito da probabilidade real. Ele literalmente leva seu
personagem (e fica claro que, ainda que leve seu nome e seja sugestivamente ele
próprio, este protagonista é, deveras, somente um personagem) às últimas
conseqüências.
Provavelmente um conhecedor profundo das
imbricações da fama e do escrutínio voraz do público, Canet faz de “Rock’N
Roll” uma declaração divertida, autodepreciativa, engajada e implacável sobre
as inquietações de um artista.
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