Num de seus inúmeros títulos quase a beira do
esquecimento lançado nos anos 1990, o diretor Woody Allen realiza uma elegia às
tragédias gregas pontuadas por ironias do destino –e por isso, introduz na
narrativa um engraçado coro de narradores da Grécia antiga liderados por F.
Murray Abrahams –embora, no fim das contas, esta seja apenas mais uma de suas
habituais e habilidosas comédias cheias de gracejos e galhofas.
Nela, Lenny (vivido pelo próprio Allen) é um
nova-iorquino casado com a séria e perdulária Amanda (Helena Bonham Carter)
que, num rompante de curiosidade decide um dia que quer conhecer a mãe
biológica de seu filhinho adotivo, garotinho extremamente esperto e
inteligente. Após sucessivas confusões ele encontra a tal moça, Ash (Mira
Sorvino, a grande revelação deste filme) que embora seja atriz pornô e garota
de programa, é belíssima e tem um coração de ouro, bem como uma voz das mais
esganiçadas! Ele torna-se uma espécie de "amigo" dela, e tenta
ajudá-la a melhorar de vida, inclusive tentando fazer com que ela encontre o
"homem certo", providenciando encontros que culminam nas ocasionais
gafes cômicas do diretor.
Lenny não percebe, nesse processo, que começa a
apaixonar-se por Ash.
Se há uma referência plena
a ser observada nesta obra menor de Woody Allen, ela diz respeito ao felliniano
“As Noite de Cabíria”, e sua protagonista, a prostituta pura de coração, o
otimismo em pessoa, vivida por Julietta Massina. Ela é, sem dúvidas, a grande
inspiração para a concepção da personagem Ash, cuja atuação cheia de trejeitos
estudados e bem aplicados da ótima Mira Sorvino (filha do ator Paul Sorvino)
–ganhadora à propósito do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante –ajuda a tornar uma
personagem toda singular e diferenciada na ampla galeria de personagens
antológicos já criada por Woody Allen, ainda que o filme ligeiro, engraçado e
intelectualizado ao qual ela pertença no entanto seja desprovido dos aspectos
geniais que Allen mostrou em seus mais marcantes trabalhos.
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