sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Extermínio 2

Para a continuação de seu ‘filme de zumbis que não são exatamente zumbis’, “Extermínio”, o diretor Danny Boyle abriu mão da cadeira de diretor para só ocupar a função de produtor executivo. Ainda assim, foi criterioso na escolha de seu substituto: O espanhol Juan Carlos Fresnadillo, realizador de um excelente trabalho em “Intacto”.
E “Extermínio 2”, de fato, revela inteligência promissora para uma continuação: Seu prólogo nos leva num refúgio dividido por meia-dúzia de pessoas, entre eles, Don (Robert Carlyle, presença ironicamente comum nos filmes de Boyle) e Alice (Catherine McCormack, de “Coração Valente” e “A Sombra do Vampiro”), casal que será pivô da trama em torno da qual este segundo filme se movimenta.
Tal e qual o filme anterior –e como todos os filmes e séries de zumbi que se prezam –o grupo se esconde numa casa dos infectados que devastaram a Grã-Bretanha.
Algo, porém, dá errado e, na necessidade de fuga que segue, podemos ver enfatizadas as características um tanto egoístas e acovardadas de Don, que não pestaneja ao deixar a própria esposa à mercê dos infectados para salvar a própria pele.
Findo o prólogo, somos assim informados do contexto em que a continuação se passa: Após os eventos do primeiro filme, todos os infectados pelo vírus morreram de fome nas semanas seguintes; logo depois, as Forças-Armadas dos EUA interviram ocupando Londres e montando uma zona de segurança a fim de dar início ao processo de recuperação da cidade.
É nesse cenário, 28 semanas depois (“28 weeks later” o título original), que os jovens Tammy (a lindíssima Imogen Poots) e Andy (Mackintosh Muggleton) chegam à Londres, vindos de uma excursão que, por sorte, os afastou do ponto crítico da epidemia.
Lá, está o pai deles os esperando, e qual não é a surpresa quando descobrimos que o pai é Don, que conseguiu chegar em Londres e juntou-se aos refugiados da zona de segurança.
Tudo parece bem e todos parecem em segurança.
Mas, Tammy e Andy não estão satisfeitos com a vaga explicação de Don para o paradeiro de sua mãe, e –numa manobra típica de personagens de filme de terror que deflagram toda a confusão com seus atos impensados –os dois fogem da barreira de contenção para a área de perigo; onde revemos os cenários característicos do primeiro filme, com bairros londrinos completamente desertos flagrados numa impressionante desolação.
As duas crianças, para surpresa de todos (até de Don), reencontram sua mãe (!) que continua viva apesar do ataque dos infectados.
A explicação: Quando é trazida à zona de segurança, a especialista em epidemiologia Oficial Ross (Rose Byrne) descobre que Alice tem uma raríssima imunidade ao vírus, o que pode ser a chave para uma cura.
Contudo, ela ainda tem o vírus em seu organismo e, quando se reencontra com Don, acaba infectando-o trazendo a praga que assolou o primeiro filme para dentro da zona de segurança.
Quando é iniciado o protocolo do Código Vermelho já é tarde demais: Os infectados já tomaram todo o Centro Médico e de lá para o restante do complexo.
Resta à Oficial Ross tentar proteger Tammy e Andy, prováveis portadores da cura, com o auxílio do Sgt. Doyle (Jeremy Renner, antes da consagração por “Guerra Ao Terror” e de virar o Gavião Arqueiro da Marvel), levando-os a um lugar seguros onde poderão ser resgatados.
Não tão referencial ao cinema de George Romero como o primeiro filme –tendo aproveitado dele somente o princípio básico de não repetir os protagonistas nas continuações de seus filmes de zumbi –este “Extermínio 2” apresenta um notável ponto de partida, recusando-se a ser um mero prosseguimento do filme anterior, construindo uma nova premissa de fato, e ainda fornecendo novos aspectos a esse mundo pós-apocalíptico antes esboçado. Ele só não consegue se fazer tão antológico quando o original em sua relevância porque seu roteiro insiste numa nem sempre apropriada valorização de um infectado específico (Don, o pai das crianças) como o ‘grande vilão do filme’, o que confere à um zumbi –uma criatura, por definição acéfala, irracional e incontrolável –uma série de atos e comportamentos mais inteligíveis que, quando se acumulam até o final, despertam alguma descrença no expectador.
Mas é um problema bem pequeno numa continuação que prima por se mostrar tão envolvente, arrojada e eletrizante quanto sua ótima produção original.

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