quinta-feira, 3 de setembro de 2020

O Céu de Outubro

Um ótimo esteta, o diretor Joe Johnston sempre provou que foi –é dele a premiada direção de arte de “Os Caçadores da Arca Perdida”, além de ter dirigido “Querida, Encolhi As Crianças”, “Rocketeer” e “Jumanji”, excelentes exemplos de filmes visualmente elaborados –faltava, no entanto, sedimentar sua eficácia quanto ao drama humano.
E a história real de Homer Hickam veio bem a calhar.
Um adolescente no fim dos anos 1950, morador da cidadezinha de Coalwood, província mineradora do estado da Virgínia, Homer (vivido com competência surpreendente pelo jovem Jake Gyllenhaal, antes mesmo da revelação em “Donnie Darko”) é um dos muitos norte-americanos surpreendidos pela notícia de que os russos colocaram um satélite no espaço, o “Sputnik”.
Basta identificar seu pontinho luminoso no céu noturno, e Homer já sabe o que quer da vida: Ele quer ser um dos engenheiros que colaboraram na Corrida Espacial, e projetar foguetes em Cabo Canaveral.
No entanto, na mentalidade de seu pai, John (Chris Cooper), tal feito é um sonho impossível; bem mais provável e acessível é trabalhar ganhando a vida como mineiro, herdando assim o ofício do qual se ocupa todo homem nascido e crescido em Coalwood.
Aliado à dois amigos Roy Lee (William Lee Scott, de “Pearl Harbor” e “Gattaca-A Experiência Genética”) e O’Dell (Chad Lindberg, de “Velozes e Furiosos” e “Doce Vingança”), ambos destinados à ocupação proletariada das minas como ele, Homer resolve que este não será o seu destino. Ele faz amizade com o inteligente nerd desprezado da escola Quentin (Chris Owen, de “American Pie”) e com ele termina integrando o quarteto de ‘fogueteiros’ que desenvolvem, a partir de planejamentos matemáticos calculados na raça por eles mesmos, formas de criar foguetes e fazê-los voar para o céu.
Os garotos insistem na tarefa usando erro e tentativa: Seus primeiros foguetes explodem como bombas de fogos de artifício. Eles aprendem a resistência necessária ao aço da confecção do projétil (e que esse aço não é nada barato), descobrem regras científicas de aerodinâmica e aprendem uma série de equações matemáticas por conta própria.
Suas tentativas sistemáticas de lançar foguetes atraem a atenção da cidade inteira que passa a fazer dos lançamentos um evento onde todos se reúnem para assistir.
Como na melhor tradição dos dramas sobre juventude em choque contra o patriarcado, o diretor Johnston leva seu protagonista a colidir com as pressões do meio familiar: Seu pai ressente-se do filho não escolher a mina como herança para sua vida adulta.
Não só ele: O diretor da escola (Chris Ellis, de “A Ilha”, “Armageddon” e “Meu Primo Vinny”) não vê com bons olhos os alunos sonhando com algo que não seja o usual –esses e outros obstáculos vão sendo superados por Homer com o encorajamento de sua professora, Srta. Riley (Laura Dern) que sugere aos ‘fogueteiros’ uma inscrição na feira de ciências; se conseguirem ganhar, eles poderão concorrer ao primeiro prêmio na Feira de Ciências Nacional de Indianápolis, através da qual poderão conseguir bolsas de estudo para as grandes faculdades do país, e com isso, passagem direta para a realização de suas ambições.
Ao encarar um projeto corajosamente voltado para a manejo de emoções  e respaldado no rendimento da atuação do elenco –na contramão das orientações técnicas que definiram seus filmes anteriores –Joe Johnston entregou um trabalho emotivo e significativo de sua capacidade como contador de histórias; seu estilo continua lá –no esmero técnico focado na reconstituição de época, por exemplo, e na observação apaixonada de valores norte-americanos, essenciais à sua narrativa, com uma referência à famoso foto dos soldados em Iwo Jima, central à duologia de guerra de Clint Eastwood (afinal, Johhston dirigiu “Capitão América”!) e num novo ângulo por meio do qual a Corrida Espacial é vista, distinto de “Os Eleitos” –no entanto, aqui a afiada conjugação do diretor, de um cinema à moda antiga aliado à tecnologia de ponta para moldá-lo, serve a uma trama real e autêntica, sem retoques que escondam, ou substituam, as emoções humanas com as quais o público invariavelmente vem a se conectar.
E é belíssimo o resultado de tal atrevimento.

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