sexta-feira, 28 de julho de 2017

Doce Vingança

O filme “A Vingança de Jennifer” era um clássico maldito dos anos 1970 que, à exemplo de outras obras daquele período como “O Massacre da Serra Elétrica”, flertava com o extremismo de cenas gráfica e de violência incontida, numa postura oriunda do cinema exploitation de então. Sua execução visava transgressão e um acesso ao sadismo subconsciente da platéia, gerando um apelo de público a partir do lado mais torpe do expectador. E como nos anos 1970, a contracultura –e, por conseqüência, o rompimento das regras vigentes –estava em voga, esses filmes proliferaram, auxiliados pela abolição do Código Hays que, décadas antes, estabeleceu rígidos limites para o que se podia realizar, fazer e mostrar no circuito comercial.
Alguns exemplares tiveram sua repercussão, nenhum deles, no entanto, era capaz de escapar à definição que todos tinham: Expressões ousadas da mais asquerosa realidade.
O grande problema é a forma como esses produtos passaram a ser encarados hoje, sem que muitos tenham notado essa nova percepção: Refilmado com este “Doce Vingança”, o filme “A Vingança de Jennifer” se torna, portanto, material para blockbuster; o que na década de 1970 era transgressivo, agora é exibido em cinema multiplex.
E engana-se quem pensar que a premissa se encontra atenuada (na verdade, com as melhorias estéticas do recurso de fotografia dos dias atuais, os realizadores têm a oportunidade de acentuar seu grafismo, sua violência e seu espanto): Na tentativa de se isolar para escrever um livro, moça da cidade se instala num chalé afastado no interior, no qual ela acaba acuada por violentos agressores. Ela é violentada e, nos dias que se seguem é tida como morta pelos criminosos. Mas ela planeja uma vingança tão brutal quanto.
Desprovido de qualquer postura ideológica com relação ao ato praticado de justiça com as próprias mãos –assim como o filme original –esta obra francamente desestabilizadora parece jogar nem tanto com o sadismo do público em contemplar a violência, mas sim com um certo viés de masoquismo (!): A narrativa do filme afinal assume sempre o ponto de vista das vítimas, sejam elas a jovem escritora na primeira parte (acuada em sua casa e, durante boa parte da trama, com uma ameaça indefinida a se desenhar ao seu redor), sejam os criminosos prestes a pagar por seu delito na segunda metade (quando a personagem, antes protagonista, assume uma característica que a transforma numa espécie de ‘vingadora das sombras’, aparecendo do nada com seus planos já elaborados –o roteiro parece deliberadamente, manter esse mistério, sobre como ela se recuperou ou obteve recursos para o quê está fazendo, como se convertesse ela em um novo tipo de “ameaça sobrenatural”).
Embora essa postura buscasse uma bilheteria nos moldes dos blockbusters atuais, seu conceito acabou encaixando o filme nos “torture porns” de hoje, trazendo cenas de agressão, violência e estupro filmadas com empenho pelo seu elenco e realizadas de modo naturalista, com câmera na mão, o quê só reforça a crueza das situações.
O resultado é um filme inquietante, sujo, abusivo, e sangrento.

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