O filme “A Vingança de Jennifer” era um clássico
maldito dos anos 1970 que, à exemplo de outras obras daquele período como “O
Massacre da Serra Elétrica”, flertava com o extremismo de cenas gráfica e de
violência incontida, numa postura oriunda do cinema exploitation de então. Sua
execução visava transgressão e um acesso ao sadismo subconsciente da platéia,
gerando um apelo de público a partir do lado mais torpe do expectador. E como
nos anos 1970, a contracultura –e, por conseqüência, o rompimento das regras
vigentes –estava em voga, esses filmes proliferaram, auxiliados pela abolição
do Código Hays que, décadas antes, estabeleceu rígidos limites para o que se
podia realizar, fazer e mostrar no circuito comercial.
Alguns exemplares tiveram sua repercussão,
nenhum deles, no entanto, era capaz de escapar à definição que todos tinham:
Expressões ousadas da mais asquerosa realidade.
O grande problema é a forma como esses produtos
passaram a ser encarados hoje, sem que muitos tenham notado essa nova
percepção: Refilmado com este “Doce Vingança”, o filme “A Vingança de Jennifer”
se torna, portanto, material para blockbuster; o que na década de 1970 era
transgressivo, agora é exibido em cinema multiplex.
E engana-se quem pensar que a premissa se
encontra atenuada (na verdade, com as melhorias estéticas do recurso de
fotografia dos dias atuais, os realizadores têm a oportunidade de acentuar seu
grafismo, sua violência e seu espanto): Na tentativa de se isolar para escrever
um livro, moça da cidade se instala num chalé afastado no interior, no qual ela
acaba acuada por violentos agressores. Ela é violentada e, nos dias que se
seguem é tida como morta pelos criminosos. Mas ela planeja uma vingança tão
brutal quanto.
Desprovido de qualquer postura ideológica com
relação ao ato praticado de justiça com as próprias mãos –assim como o filme
original –esta obra francamente desestabilizadora parece jogar nem tanto com o
sadismo do público em contemplar a violência, mas sim com um certo viés de
masoquismo (!): A narrativa do filme afinal assume sempre o ponto de vista das
vítimas, sejam elas a jovem escritora na primeira parte (acuada em sua casa e,
durante boa parte da trama, com uma ameaça indefinida a se desenhar ao seu
redor), sejam os criminosos prestes a pagar por seu delito na segunda metade
(quando a personagem, antes protagonista, assume uma característica que a
transforma numa espécie de ‘vingadora das sombras’, aparecendo do nada com seus
planos já elaborados –o roteiro parece deliberadamente, manter esse mistério,
sobre como ela se recuperou ou obteve recursos para o quê está fazendo, como se
convertesse ela em um novo tipo de “ameaça sobrenatural”).
Embora essa postura buscasse uma bilheteria nos
moldes dos blockbusters atuais, seu conceito acabou encaixando o filme nos “torture
porns” de hoje, trazendo cenas de agressão, violência e estupro filmadas com
empenho pelo seu elenco e realizadas de modo naturalista, com câmera na mão, o
quê só reforça a crueza das situações.
O resultado é um filme
inquietante, sujo, abusivo, e sangrento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário