sexta-feira, 24 de julho de 2020

Armageddon

Quando foi lançado no final da década de 1990, a trama de “Armageddon” mostrou-se um primor do absurdo: Perfuradores de petróleo norte-americanos eram selecionados para uma missão espacial (!) onde teriam de introduzir uma bomba nuclear num asteróide prestes a colidir com a Terra (!).
O filme, na verdade, representava uma espécie de reafirmação do estilo extravagante do diretor Michael Bay que havia entregado pérolas inacreditáveis da ação ininterrupta em “Bad Boys” e “A Rocha”, mas criou seu verdadeiro cartão de visitas aqui.
Bruce Wiilis, num papel que parece moldado para ele, é Harry Stamper, líder de uma equipe texana de perfuração –e tal equipe inclui figuras como Steve Buscemi, Michael Clarke Duncan, Ben Affleck, Will Patton e Owen Wilson.
Veja bem: Dizer qe Bruce Willis foi moldado para o papel, deveras, não significa que ele entrega uma boa atuação –fator que passa longe das obras de Michael Bay –significa, na realidade, que o papel foi pensado e escrito para ele; e à ele se encaixa em suas canastrices e limitações dramáticas.
O governo dos EUA identifica o grande asteróide que, sem sombra de dúvidas, colocará fim à vida no planeta Terra, e põe em prática um plano para salvar a raça humana: Enviar uma equipe ao espaço, com escalas entre diversas estações internacionais para chegar em tempo ao meteoro e nele implantar uma bomba capaz de reduzi-lo a fragmentos menores –mas, que ainda proporcionam as insanas sequências de destruição do filme.
Os homens selecionados para tal missão terminam sendo o grupo peculiar e grosseiro de Stamper que, nas inserções cômicas inapropriadas que também caracterizam o estilo de Bay, não se adequam de modo algum ao bom senso esperado dos astronautas.
Como o destino da humanidade depende deles –como se não existissem no planeta Terra alternativas melhores do que os norte-americanos! –o programa espacial os aceita mesmo assim; e lá vão eles em direção do espaço, aprontar lá as mesmas presepadas que aprontam na Terra: Heróis de ação, supinos, irônicos e patriotas, que passam todo o filme enfrentando os perigos indizíveis e improváveis do espaço –além da truculência e falta de visão dos militares (é claro!) capazes de pôr em risco a missão e a vida na Terra porque são obtusos o bastante para insistir nas próprias ideias fixas.
Uma obra irredutível nos altos níveis de decibéis que se propõe a entregar, “Armageddon” representou, com seus ostensivos clichês, o cinema comercial em estado bruto, em contraponto a um cinema mais autoral que, naquele ano de 1998, começou a aflorar no circuito comercial: De repente, obras barulhentas como esta começaram a dar espaço para trabalhos construídos com inteligência (como o suspense “Irresistível Paixão”) ou sensibilidade (o inesperado sucesso de bilheteria “Encantador de Cavalos”). Entretanto, o público afoito de filmes de ação ao qual se dirigia ficou satisfeito (e até hoje ainda se satisfaz) com essa receita tão formulaica, da qual Michael Bay costuma ser um dos mais célebres manejadores.

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