Quando foi lançado no final da década de 1990,
a trama de “Armageddon” mostrou-se um primor do absurdo: Perfuradores de
petróleo norte-americanos eram selecionados para uma missão espacial (!) onde
teriam de introduzir uma bomba nuclear num asteróide prestes a colidir com a
Terra (!).
O filme, na verdade, representava uma espécie
de reafirmação do estilo extravagante do diretor Michael Bay que havia
entregado pérolas inacreditáveis da ação ininterrupta em “Bad Boys” e “A
Rocha”, mas criou seu verdadeiro cartão de visitas aqui.
Bruce Wiilis, num papel que parece moldado para
ele, é Harry Stamper, líder de uma equipe texana de perfuração –e tal equipe
inclui figuras como Steve Buscemi, Michael Clarke Duncan, Ben Affleck, Will
Patton e Owen Wilson.
Veja bem: Dizer qe Bruce Willis foi moldado
para o papel, deveras, não significa que ele entrega uma boa atuação –fator que
passa longe das obras de Michael Bay –significa, na realidade, que o papel foi
pensado e escrito para ele; e à ele se encaixa em suas canastrices e limitações
dramáticas.
O governo dos EUA identifica o grande asteróide
que, sem sombra de dúvidas, colocará fim à vida no planeta Terra, e põe em
prática um plano para salvar a raça humana: Enviar uma equipe ao espaço, com
escalas entre diversas estações internacionais para chegar em tempo ao meteoro
e nele implantar uma bomba capaz de reduzi-lo a fragmentos menores –mas, que
ainda proporcionam as insanas sequências de destruição do filme.
Os homens selecionados para tal missão terminam
sendo o grupo peculiar e grosseiro de Stamper que, nas inserções cômicas
inapropriadas que também caracterizam o estilo de Bay, não se adequam de modo
algum ao bom senso esperado dos astronautas.
Como o destino da humanidade depende deles
–como se não existissem no planeta Terra alternativas melhores do que os
norte-americanos! –o programa espacial os aceita mesmo assim; e lá vão eles em
direção do espaço, aprontar lá as mesmas presepadas que aprontam na Terra:
Heróis de ação, supinos, irônicos e patriotas, que passam todo o filme
enfrentando os perigos indizíveis e improváveis do espaço –além da truculência
e falta de visão dos militares (é claro!) capazes de pôr em risco a missão e a
vida na Terra porque são obtusos o bastante para insistir nas próprias ideias fixas.
Uma obra irredutível nos
altos níveis de decibéis que se propõe a entregar, “Armageddon” representou,
com seus ostensivos clichês, o cinema comercial em estado bruto, em contraponto
a um cinema mais autoral que, naquele ano de 1998, começou a aflorar no
circuito comercial: De repente, obras barulhentas como esta começaram a dar
espaço para trabalhos construídos com inteligência (como o suspense
“Irresistível Paixão”) ou sensibilidade (o inesperado sucesso de bilheteria
“Encantador de Cavalos”). Entretanto, o público afoito de filmes de ação ao
qual se dirigia ficou satisfeito (e até hoje ainda se satisfaz) com essa
receita tão formulaica, da qual Michael Bay costuma ser um dos mais célebres
manejadores.
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