quinta-feira, 23 de julho de 2020

Capitão Kronos - O Caçador de Vampiros

Na primeira vez que assisti “Capitão Kronos” ele não me desceu muito bem: Não consegui comprar sua premissa, não me envolvi por sua narrativa, a postura do protagonista me soou prepotente e sem carisma e seu visual frio e verdejante –algo meio contraditório num filme de vampiros –me pareceu pouco adequado.
Na segunda vez todas essas coisas deixaram de importar: Como alguns notórios cult movies, “Capitão Kronos” cresce, e muito, em uma revisão; os detalhes em torno de sua história –e do que, de fato, ela irá se constituir –vão chegando aos poucos, exigindo relativa paciência do expectador; o trabalho de direção de Brian Clemens (roteirista do cult “Mil Séculos Antes de Cristo”) não planeja conquistar o público de imediato (ele dispõe suas peças com parcimônia); o Capitão Kronos, vivido com altivez e fleuma por Horst Janson, é um herói marrento e taciturno, cujas motivações vão sendo desvendadas a medida que a trama caminha; e a ambientação rural oferece o lúdico na sua primeira metade, para intoxicá-lo com o macabro no seu rumo ao clímax.
Basicamente, acompanhamos lado a lado a trajetória do já constituído e inabalável personagem principal, Capitão Kronos, bravo soldado das tropas imperiais (que eu julgo ser da Inglaterra) que, finda a guerra, se dedica assim à outra batalha: Junto de seu auxiliar corcunda Grost (John Cater, de “O Abominável Dr. Phibes”), que faz as vezes de cérebro enquanto ele é os músculos, Kronos singra a Europa Medieval à caça de vampiros, criaturas tão perigosas quanto melindrosas cujo conhecimento profundo é necessário para saber como identificá-los e de que jeito matá-los.
No seu percurso, Kronos salva da guilhotina uma camponesa acusada injustamente de heresia, Carla (a bela Caroline Munro, de “007-O Espião Que Me Amava”), que junta-se à sua comitiva. Carla é, assim, os olhos do público: É ela quem obtém as respostas mais razoáveis que oferecem um mínimo de textura do protagonista, de seu passado e da metodologia de sua tarefa –todas as outras explicações mais surgem, quando muito, em meio às cenas transcorridas num trabalho curioso que mescla o desenvolvimento ao avanço folhetinesco. Pois, “Capitão Kronos” lança mão de diversos personagens, uns plantados para gerar pistas falsas no esclarecimento das intrigas, outros para fazer volume à narrativa de tensão.
No vilarejo para onde segue, Kronos vai atender ao chamado de um velho amigo, Dr. Marcus (John Carson), aflito com curiosos ataques às jovens camponesas da região que subitamente aparecem fracas e envelhecidas (!). Kronos e Grost dão de pronto o diagnóstico: É um vampiro!
Quem ele é (dentre tantos moradores potencialmente suspeitos) e como pegá-lo é a questão.
E o filme de Clemens ampara-se justamente nisso: No suspense oriundo da pura exaltação do clima, nos inúmeros suspeitos que vão se enfileirando com suas próprias sub-tramas, e nas pistas (falsas ou não) com as quais os protagonistas trabalham, em meio às descobertas das quais o filme vai avançando.
“Capitão Kronos” foi um filme incompreendido em sua época. Embora bem realizado, bem conduzido e, no fim das contas, seja de fato um grande filme, o diretor Clemens opta por uma evocação do estilo tradicional dos filmes da produtora Hammer de duas décadas atrás (o que certamente não fez o gosto das plateias mais novas de então); além disso, ele entrega um filme de vampiro atípico, onde durante a maior parte do tempo, roteiro e direção se dedicam menos aos chupadores de sangue propriamente ditos e muito mais à contextualização do herói, sua relação com Carla (que progride para um romance), sua interação divertida com Grost, sua amizade com Marcus e a maneira com que se impõe aos aldeões e aos contratempos que aparecem. A ameaça vampira, por assim dizer, e seu background (de onde vieram, quem são e por que fazem aquilo que fazem) é um mistério que permanece omisso no filme pelo menos até seu apoteótico desfecho.
Pode não ter encontrado seu público justamente por conta dessa originalidade revisionista para com os códigos de seu gênero, mas, não há como negar que o resultado é, em si, cheio de predicados e de qualidade.

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