segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

A Ilha

Antes de ter seu nome atrelado à série cinematográfico em live-action dos “Transformers”, o diretor Michael Bay estava muito bem cuidado de seus projetos individuais.
Estava longe do reconhecimento de um James Cameron, era bem verdade, mas o público sempre abalizava trabalhos comerciais como “Armageddon”, “Bad Boys” e até mesmo “Pearl Harbor” –mesmo que seus detratores não economizassem nas críticas.
“A Ilha” representa assim uma tentativa de experimentar novos gêneros (a ficção científica distópica, neste caso) que nunca seguiu em frente –logo depois, ele foi convidado, pelo produtor Steven Spielberg, a dirigir o primeiro filme dos robôs que se transformam em carros.
A trama guarda ecos de “THX 1138”, de George Lucas, assim como de diversos outros filmes sobre um mundo futurista condicionado nos quais, na maioria das vezes, o realizador almeja uma discussão reflexiva acerca de algum tópico. Esse, contudo, não parece ser o objetivo de Bay, ou pelo menos, deixa de ser seu objetivo tão logo as perseguições e explosões inerentes ao seu cinema contaminam a tela.
Tudo começa num enorme complexo onde pessoas que lá vivem reclusas integram uma sociedade estética e estéril, com proibição do contato físico e da diferenciação –e nesse ponto, o roteiro já se debruça em cima da referência a inúmeros trabalhos como o já citado “THX 1138”, “Gattaca-A Experiência Genética”, “Fuga do Século 23” e outros.
Naquele lugar constituído de vidros e superfícies esterilizadas, onde as máquinas ultramodernas dizem o quê fazer, como comer e como proceder, todos têm como único divertimento a espera de uma loteria que sorteia ocasionalmente indivíduos a serem enviados à "Ilha", o último lugar do planeta ainda livre da radioatividade (que, segundo a história que lhes é paulatinamente contada, devastou todo o mundo exterior).
É aí que surge sintomaticamente o personagem questionador, na forma de Lincoln Six-Echo (Ewan McGregor), que dará o ponto de partida às transformações. Melhor amigo da linda Jordan Two-Delta (Scarlett Johansson, na crista da onda devido ao recente “Encontros de Desencontros” e à “Match Point” de Woody Allen, lançado naquele mesmo ano), ele se mostra insatisfeito ao ter de seguir ordens de computadores que controlam sua saúde física, mental e alimentar.
À esse ímpeto de inconformismo com o estado das coisas logo se seguem pequenos atos de contravenção –como escapar ora ou outra para os níveis superiores, habitados por trabalhadores sujos como James McCord (Steve Buscemi, um dos coadjuvantes preferidos de Bay) para conversar –quando então ele começa a descobrir muito mais do que deveria: Todos eles estão sendo ludibriados, e sua sociedade é monitorada por uma empresa que cria uma ilusão para enganá-los. Todos eles são, na verdade, clones de pessoas do mundo lá fora.
Ao lado de Jordan, Lincoln inicia uma audaz, acidental e inacreditavelmente bem sucedida fuga do lugar e, completamente desinformados do mundo exterior, são perseguidos por agentes de contenção liderados por Albert Laurent (Djimon Hounsou, um grande ator, em geral, sub-aproveitado).
É então a partir desse ponto que “A Ilha” deixa de ser a notável ficção científica que ameaçava ser, para tornar-se algo inerente ao tipo de produção que Michael Bay dirige: Um filme descerebrado de ação, com direito até mesmo aos habituais lapsos de inverossimilhanças de quando a tal ação se desdobra com tamanha empolgação que às vezes despreza a lógica.
O fato de Michael Bay, aqui, arriscar-se em um filme amparado numa história mais complexa lhe conta alguns pontos, ainda que esse objetivo seja claramente abandonado a partir de sua metade –fazendo-o parecer que toda a premissa interessante não era outra coisa senão um pretexto para a pirotecnia.

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