Antes de ter seu nome atrelado à série
cinematográfico em live-action dos “Transformers”, o diretor Michael Bay estava
muito bem cuidado de seus projetos individuais.
Estava longe do reconhecimento de um James
Cameron, era bem verdade, mas o público sempre abalizava trabalhos comerciais
como “Armageddon”, “Bad Boys” e até mesmo “Pearl Harbor” –mesmo que seus
detratores não economizassem nas críticas.
“A Ilha” representa assim uma tentativa de
experimentar novos gêneros (a ficção científica distópica, neste caso) que
nunca seguiu em frente –logo depois, ele foi convidado, pelo produtor Steven
Spielberg, a dirigir o primeiro filme dos robôs que se transformam em carros.
A trama guarda ecos de “THX 1138”, de George
Lucas, assim como de diversos outros filmes sobre um mundo futurista
condicionado nos quais, na maioria das vezes, o realizador almeja uma discussão
reflexiva acerca de algum tópico. Esse, contudo, não parece ser o objetivo de
Bay, ou pelo menos, deixa de ser seu objetivo tão logo as perseguições e
explosões inerentes ao seu cinema contaminam a tela.
Tudo começa num enorme complexo onde pessoas
que lá vivem reclusas integram uma sociedade estética e estéril, com proibição
do contato físico e da diferenciação –e nesse ponto, o roteiro já se debruça em
cima da referência a inúmeros trabalhos como o já citado “THX 1138”, “Gattaca-A
Experiência Genética”, “Fuga do Século 23” e outros.
Naquele lugar constituído de vidros e
superfícies esterilizadas, onde as máquinas ultramodernas dizem o quê fazer, como
comer e como proceder, todos têm como único divertimento a espera de uma
loteria que sorteia ocasionalmente indivíduos a serem enviados à
"Ilha", o último lugar do planeta ainda livre da radioatividade (que,
segundo a história que lhes é paulatinamente contada, devastou todo o mundo
exterior).
É aí que surge sintomaticamente o personagem
questionador, na forma de Lincoln Six-Echo (Ewan McGregor), que dará o ponto de
partida às transformações. Melhor amigo da linda Jordan Two-Delta (Scarlett
Johansson, na crista da onda devido ao recente “Encontros de Desencontros” e à
“Match Point” de Woody Allen, lançado naquele mesmo ano), ele se mostra
insatisfeito ao ter de seguir ordens de computadores que controlam sua saúde
física, mental e alimentar.
À esse ímpeto de inconformismo com o estado das
coisas logo se seguem pequenos atos de contravenção –como escapar ora ou outra
para os níveis superiores, habitados por trabalhadores sujos como James McCord
(Steve Buscemi, um dos coadjuvantes preferidos de Bay) para conversar –quando
então ele começa a descobrir muito mais do que deveria: Todos eles estão sendo
ludibriados, e sua sociedade é monitorada por uma empresa que cria uma ilusão
para enganá-los. Todos eles são, na verdade, clones de pessoas do mundo lá
fora.
Ao lado de Jordan, Lincoln inicia uma audaz,
acidental e inacreditavelmente bem sucedida fuga do lugar e, completamente
desinformados do mundo exterior, são perseguidos por agentes de contenção liderados
por Albert Laurent (Djimon Hounsou, um grande ator, em geral, sub-aproveitado).
É então a partir desse ponto que “A Ilha” deixa
de ser a notável ficção científica que ameaçava ser, para tornar-se algo
inerente ao tipo de produção que Michael Bay dirige: Um filme descerebrado de
ação, com direito até mesmo aos habituais lapsos de inverossimilhanças de
quando a tal ação se desdobra com tamanha empolgação que às vezes despreza a
lógica.
O fato de Michael Bay,
aqui, arriscar-se em um filme amparado numa história mais complexa lhe conta
alguns pontos, ainda que esse objetivo seja claramente abandonado a partir de
sua metade –fazendo-o parecer que toda a premissa interessante não era outra
coisa senão um pretexto para a pirotecnia.
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