segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Louca Obsessão

A atriz Kathy Bates alterna momentos de insuspeita amabilidade com rompantes inesperados de fúria num interessante trabalho que em 1990 lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz.
A vilania inesperada de sua personagem é um dos trunfos desta interessantíssima adaptação de um conto de Stephen King, concebida pelo mesmo Rob Reiner que dirigiu o tão cultuado “Conta Comigo” –também de King.
A história é um pesadelo improvável, porém, não implausível como muitos que saem da mente de seu autor e que exploram muitos de seus temores íntimos. Só assim para explicar o imenso número de protagonistas que são, eles próprios, escritores, como o deste filme, Paul Sheldon (James Caan).
Ele tem o infortúnio de capotar seu carro quando voltava das montanhas com o manuscrito pronto de seu mais novo romance, e o infortúnio ainda maior de ser salvo por Annie (Kathy) uma ex-enfermeira moradora da região. De início, claro, isso não fica evidente, visto que Annie se declara sua fã número 1 –ela, inclusive, ama “Misery” exatamente a mesma saga literária cujo capítulo final ele acabou por escrever! –por isso que, debilitado pelo acidente e preso à cama da casa dela Paul, agradecido, permite que Annie leia seu novo livro. Contudo, a mulher transforma-se numa maluca psicótica ao perceber que ele matou justamente a protagonista Misery. Imobilizado numa cama e com as duas pernas quebradas, ele agora é alvo das torturas físicas e psicológicas que ela, cada vez mais insana, lhe inflige.
Antes que a escala de loucura e psicopatia dela se torne realmente prejudicial para sua vida, ele precisa planejar um meio de fugir.
Quem conhece o trabalho do diretor Reiner exclusivamente baseado em “Conta Comigo” ou na famosa comédia romântica “Harry & Sally-Feitos Um Para O Outro” pode até subestimar o filme que ele entrega aqui, porém, isso só dura até que a atmosfera de tensão realmente se inicie: Valendo-se de um minucioso e cuidadoso trabalho de câmera (o diretor de fotografia é Barry Sonnenfeld que depois se tornaria o bem-sucedido diretor de “A Família Adams” e “Homens de Preto”), o filme simula, por meio de cortes objetivos e econômicos e enquadramentos específicos, a condição restrita e imobilizada do vulnerável protagonista, cujos limitados recursos de que dispõe o tornam um verdadeiro prisioneiro da imprevisível ex-enfermeira.
Ajuda muito, o fato de Kathy Bates moldar uma das mais sensacionais vilãs de sua carreira e de James Caan, seu parceiro em cena, também estar muito bem nesta obra tensa, aflitiva e, por que não, divertida.

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