Após um início quase lúdico, onde podem ser
vistos registrados os duros percalços da tentativa (bem-sucedida) do piloto
aéreo Chuck Yeager (Sam Sheppard) em quebrar a barreira do som em 1947, este
épico do diretor Philip Kaufman adota uma irônica narrativa hiper-realista (com
notável aproveitamento de imagens documentais da época em sua edição) para
acompanhar os primórdios tortuosos –e inacreditavelmente precários –do Programa
Mercury, a primeira iniciativa norte-americana na Corrida Espacial disputada
com os russos, e que levou (após uma longa bateria de testes sobre-humanos)
alguns dos primeiros astronautas ao espaço, culminando com a seleção de sete
homens predispostos a serem os primeiros americanos a aventurar-se para além do
planeta.
Eram eles: Donald Slayton (Scott Paulin), Scott
Carpenter (Charles Frank), Walter Schirra (Lance Henriksen), Alan Sheppard
(Scott Glenn), enviado na primeira espaçonave a decolar com um cidadão
americano em direção ao espaço, Gus Grisson (Fred Ward), piloto do vôo
seguinte, John Glenn (Ed Harris), o primeiro a realizar um vôo espacial
tripulado, e Gordon Cooper (Dennis Quaid), o último vôo solitário em órbita ao
planeta, que marcou o encerramento do Programa Mercury em 1963, substituído
pelo Programa Apollo.
Apesar do exuberante aparato técnico –que
poderia perfeitamente ter sido sobrepujado por filmes que vieram depois, como
“Apollo 13”, mas, não foi –o grande achado deste filme belíssimo é a maneira à
um só tempo terna e sarcástica com que consegue elaborar um amplo painel do quê
foi a Corrida Espacial Norte-Americana, com ênfase em percalços humanos e
mundanos, vaidades, disputas e expectativas; inclusive jogando uma luz justa e
emocionante sobre as esposas e famílias dos astronautas, e suas aflições
íntimas dos mais diferentes níveis (como a esposa de John Glenn, que
recusava-se a dar entrevistas para indignação da mídia que desconhecia o fato
dela ser gaga!).
Há ainda espaço para as manobras políticas
freqüentemente mesquinhas e tacanhas –as duas participações do então
vice-presidente Lyndon B. Johnson (Donald Moffat) são tão patéticas quanto
memoráveis! –para os engenheiros e operários da NASA e suas inúmeras
deliberações e confusões e até mesmo para os funcionários encarregados do
marketing, insuflados e ao mesmo tempo perplexos com sua extenuante disputa
velada com os russos.
Por isso, e pela decisão genial em conceder
carinho a cada uma dessas facetas do filme, esta produção maravilhosa atinge
três horas de duração –que, eu lhe garanto, vão passar como se fosse uma brisa!
Phillip Kaufman faz uma
bela síntese entre a mitologia altiva e reluzente que cerca os astronautas –em
muitos aspectos, igualados aos cowboys do Velho Oeste –e as perplexidades do
homem comum, num trabalho pontuado por divertido humanismo e irrestrita
excelência técnica.
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