A primeira trilogia de filmes de Indiana Jones
é de um primor raro de ser igualado no cinema –por isso mesmo, não incluo nesse
comentário o quarto filme, realizado muitos anos depois...
Isso se deve porque Steven Spielberg foi
extremamente cuidadoso na realização do terceiro filme: Ao mesmo tempo em que
ele enxergava com singular admiração o resultado obtido pelo primeiro filme,
“Caçadores da Arca Perdida”, no panorama de sua filmografia, ele também
lamentava sua insatisfação pessoal para com o resultado final do segundo filme,
“Indiana Jones e o Templo da Perdição” (embora muitos fãs também o apreciem).
Assim sendo, quando iniciou, em 1988, os
preparativos para a realização do terceiro filme estrelado pelo arqueólogo aventureiro,
Spielberg não poupou esforços para aproximar-se mais do tom, ritmo e atmosfera
do primeiro filme, evitando ao máximo o clima sombrio e pesado do segundo:
Retornou o personagem de Denholm Elliot, aqui quase um alívio cômico, e
retornaram também os nazistas como vilões principais, entre outras
similaridades.
O prólogo do novo filme também trazia o esboço
de uma “origem do herói” e, a partir disso, uma melhor ilustração de sua vida
familiar (mais precisamente o pai de Indiana Jones), o que abriu espaço para a
referência primordial de Spielberg: O pai de Indiana, Prof. Henry Jones, foi
interpretado por Sean Connery, primeiro intérprete de James Bond, justamente a
reconhecida inspiração de Spielberg para criar o arqueólogo.
Sean Connery vive assim o pai de Indiana Jones
tanto em termos figurativos como em termos literais.
O começo de “A Última Cruzada” é delicioso,
quando vemos um Indiana ainda adolescente (e escoteiro!) dando os primeiros
passos em direção ao aventureiro que viria a ser –e, neste trecho,
magnificamente interpretado pelo saudoso River Phoenix, que viveu o filho de
Harrison Ford em “A Costa do Mosquito”.
Esse início, diga-se, serviu de inspiração para
que o produtor George Lucas fizesse uma experiência televisiva com a série “O
Jovem Indiana Jones” –que não chegou a vingar.
Passado esse sensacional prólogo, a narrativa
salta para o ano de 1938. O arqueólogo Dr. Henry Jones Jr. (mais uma vez
Harrison Ford), conhecido como Indiana Jones, auxiliado pela bela e misteriosa
Dra. Elsa Schneider (Alison Doody, uma beldade e que –veja só –foi bondgirl em
“007-Na Mira dos Assassinos”!) e pelo velho colega Prof. Marcus Brody (Denholm
Elliot), parte em busca do Santo Graal –um novo ‘mcguffin’ que não consegue ser
tão preciso quanto a Arca da Aliança, mas cumpre seu objetivo.
Primeiro, contudo, Indiana tem que resgatar seu
pai, o Prof. Henry Jones (Sean Connery, divertidíssimo em sua fleuma britânica)
das mãos dos nazistas, também sequiosos pelo mítico objeto, pois, na condição
de respeitado estudioso da época medieval (desempenho que por vezes levou-o a
negligenciar seu filho na infância), ele
possui os instintos mais capazes para levá-los até os indícios sobre o
paradeiro do cálice sagrado.
E pronto: Como tornou-se habitual nesta
trilogia, Spielberg elabora sucessivas cenas magistrais onde entrega uma
combinação rara de ação bem conduzida e bem filmada, registro cinematográfico
de caráter artístico e espetáculo carismático –a seqüência em que Jones, pai e
filho, fogem em disparada de soldados alemães montados numa moto; a perseguição
insana de Indiana e seu pai pelos nazistas, começando num dirigível, indo para
um aviãozinho b-17, e terminando nas rodovias européias a bordo de um conversível
(!); a espetacular cena sobre um tanque alemão que atravessa todo o deserto; e,
por fim, a genial resolução dos três desafios que Indiana Jones deve encarar
para obter o Santo Graal, todas elas de uma criatividade incomum no cinema
comercial norte-americano.
“A Última Cruzada” foi
claramente concebido como uma despedida do personagem (não foi, como muitos
anos depois pudemos conferir...), e coroou a “Trilogia Indiana Jones” com mais
um exemplo impecável de filme de aventura.
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