Seu projeto, a partir do roteiro de Randall
Wallace (de “Coração Valente”) almejava uma espécie de junção entre esses dois
fenômenos cinematográficos.
Obedecendo as demarcações de um cinema à moda
antiga –mesmo aquelas que a modernidade permitiu superar –o filme de Bay
acompanha, antes de tudo, a amizade indissolúvel entre Rafe McCawley (Ben
Affleck) e Danny Walker (Josh Hartnett). Amigos criados juntos. Irmãos na
afinidade pelo fascínio de voar. A narrativa salta de uma fase para outra
(infância numa fazenda, a juventude em meio ao sonho de ser piloto, a vida adulta)
sem sutileza –ele o faz apenas porque milhões de filmes antes dele também o
fizeram. Logo, os dois amigos estão servindo na Base Aérea de Pearl Harbor, no
Hawaí.
Rafe se engraça com Evelyn (Kate Beckinsale),
uma das enfermeiras locais, e Bay entrega cenas açucaradas o bastante para
sabermos que esse romance será o pivô de toda a trama do filme –interessante
notar também o quanto Bay confunde profundidade dramática com ênfase cômica
(quando seu filme não é estupidamente romântico ou solenemente épico, ele
adquire ares de comédia!).
Rafe é dado como morto durante um vôo à serviço
dos ingleses.
Danny, que já tinha lá sua queda por Evelyn lhe
presta mais do que apenas consolo.
E eis que, quando Evelyn se descobre grávida de
Danny, vem a revelação de que Rafe não morreu –numa guinada digna de novela das
oito! Quando o filme já está por atingir suas três horas de duração e Michael
Bay introduziu o que ele supõe ser o grande conflito dramático do filme –não é,
pois isso nunca chega a ser um triângulo amoroso, ficando claro desde o começo
que Rafe e Evelyn serão o ‘casalzinho do filme’ –ele entrega então a grande
vedete da produção: A seqüência extensa, ininterrupta e barulhenta do ataque
japonês à Pearl Harbor, que ingressou em definitivo os EUA na Segunda Guerra Mundial
–há até uma participação desnecessário e vexaminosa de Jon Voight como o
presidente Theodore Roosevelt.
Até que chegar nesse ponto, o filme de Michael
Bay já deixou bem claro o tipo de filme que quer ser –e também o tipo de filme
que ele não consegue ser!
As cenas do ataque são bem editadas, frenéticas
e envolventes o suficiente para justificar o interesse do expectador até ali,
mas mesmo elas não vão além de um espetáculo filmado com o esmero técnico de
sempre pelo cinema hollywodiano –se “Titanic” e “Soldado Ryan” eram as
aspirações de Bay para seu projeto, então faltou ao realizador compreender que
Cameron e Spielberg não amparavam suas grandes obras em meras exibições de
pirotecnia: Seus trabalhos elevavam a sinergia da ação à uma arte maior pelo
simples fato de forçarem os limites do que já foi feito em busca de ineditismo.
E não há qualquer ineditismo em “Pearl Harbor”,
pelo contrário, há nele um esforço contumaz para se emular um cinema
conservador, tradicional e, quem sabe, que viesse a falar junto à mentalidade
da Academia de Artes Cinematográficas...
Mais do que um épico
histórico sobre o episódio abordado, mais do que um romance hollywodiano com
intenções suntuosas, porém, “Pearl Harbor” termina sendo mesmo um indicativo de
todas as abissais deficiências de Michael Bay como diretor.
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