quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Pearl Harbor

Uma coisa é querer igualar o resultado de uma produção como “Titanic”, outra, bem diferente é obter sucesso com essa meta. E as pretensões de Michael Bay em “Pearl Harbor” iam até para além disso! Ele vislumbrava uma reedição do épico de James Cameron e, ao mesmo tempo, uma mescla com o mesmo cinema bélico com o qual Steven Spielberg tinha moldado seu “O Resgate do Soldado Ryan”.
Seu projeto, a partir do roteiro de Randall Wallace (de “Coração Valente”) almejava uma espécie de junção entre esses dois fenômenos cinematográficos.
Obedecendo as demarcações de um cinema à moda antiga –mesmo aquelas que a modernidade permitiu superar –o filme de Bay acompanha, antes de tudo, a amizade indissolúvel entre Rafe McCawley (Ben Affleck) e Danny Walker (Josh Hartnett). Amigos criados juntos. Irmãos na afinidade pelo fascínio de voar. A narrativa salta de uma fase para outra (infância numa fazenda, a juventude em meio ao sonho de ser piloto, a vida adulta) sem sutileza –ele o faz apenas porque milhões de filmes antes dele também o fizeram. Logo, os dois amigos estão servindo na Base Aérea de Pearl Harbor, no Hawaí.
Rafe se engraça com Evelyn (Kate Beckinsale), uma das enfermeiras locais, e Bay entrega cenas açucaradas o bastante para sabermos que esse romance será o pivô de toda a trama do filme –interessante notar também o quanto Bay confunde profundidade dramática com ênfase cômica (quando seu filme não é estupidamente romântico ou solenemente épico, ele adquire ares de comédia!).
Rafe é dado como morto durante um vôo à serviço dos ingleses.
Danny, que já tinha lá sua queda por Evelyn lhe presta mais do que apenas consolo.
E eis que, quando Evelyn se descobre grávida de Danny, vem a revelação de que Rafe não morreu –numa guinada digna de novela das oito! Quando o filme já está por atingir suas três horas de duração e Michael Bay introduziu o que ele supõe ser o grande conflito dramático do filme –não é, pois isso nunca chega a ser um triângulo amoroso, ficando claro desde o começo que Rafe e Evelyn serão o ‘casalzinho do filme’ –ele entrega então a grande vedete da produção: A seqüência extensa, ininterrupta e barulhenta do ataque japonês à Pearl Harbor, que ingressou em definitivo os EUA na Segunda Guerra Mundial –há até uma participação desnecessário e vexaminosa de Jon Voight como o presidente Theodore Roosevelt.
Até que chegar nesse ponto, o filme de Michael Bay já deixou bem claro o tipo de filme que quer ser –e também o tipo de filme que ele não consegue ser!
As cenas do ataque são bem editadas, frenéticas e envolventes o suficiente para justificar o interesse do expectador até ali, mas mesmo elas não vão além de um espetáculo filmado com o esmero técnico de sempre pelo cinema hollywodiano –se “Titanic” e “Soldado Ryan” eram as aspirações de Bay para seu projeto, então faltou ao realizador compreender que Cameron e Spielberg não amparavam suas grandes obras em meras exibições de pirotecnia: Seus trabalhos elevavam a sinergia da ação à uma arte maior pelo simples fato de forçarem os limites do que já foi feito em busca de ineditismo.
E não há qualquer ineditismo em “Pearl Harbor”, pelo contrário, há nele um esforço contumaz para se emular um cinema conservador, tradicional e, quem sabe, que viesse a falar junto à mentalidade da Academia de Artes Cinematográficas...
Mais do que um épico histórico sobre o episódio abordado, mais do que um romance hollywodiano com intenções suntuosas, porém, “Pearl Harbor” termina sendo mesmo um indicativo de todas as abissais deficiências de Michael Bay como diretor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário