quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Crônicas dos Shinsengumi - Quero Morrer Como Samurai

Em determinados exemplares é possível identificar os códigos que tão bem relacionam os filmes de samurais aos filmes de faroeste. Em ambos os casos, personagens são confrontados, não raro, com seus protocolos de honra postos a prova por circunstâncias selvagens e que culminam em duelos de vida ou morte. Em ambos os gêneros, o ambiente antiquado molda homens que precisam emergir da selvageria para aprender, num ensaio de civilização que representam, separar o joio do trigo.
Em “Crônicas dos Shinsengumi” essa similaridade é de um primor que jamais escapa à habilidade do diretor Kenji Misumi.
Os Shinsengumi são uma guarda de samurais montada pelo xogunato (mostrados também na obra-prima “A Última Espada”) para assegurar sua autonomia nas cidades que integram o feudo. Nesse período antigo em que discussões políticas acaloradas se resolviam na lâmina da espada, a cidade de Kyoto é assolada por conspirações contumazes de imperialistas e separatistas, opositores descontentes com o regime do xogum. Não ajuda em nada o líder local dos Shinsengumi ser um homem imprudente, fútil e arrogante.
A entrada do jovem e idealista Yamazaki (Raizo Ichikawa) para os Shinsengumi coincide com a primeira tentativa bem-sucedida do segundo em comando, o filho de camponês Kondo (Tomisaburo Wakayama, de “Lobo Solitário”) em tomar o poder por baixo dos panos. Entrentanto, tal ato arranha profundamente a admiração de Yamazaki pela honradez rígida dos samurais.
Os transtornos, contudo, não acabaram, os separatistas preparam uma intervenção que consumirá Kyoto nas chamas, e no momento, seu maior aliado por obter sucesso, são as complicações de ordem política que afligem a união dos Shinsengumi.

Neste formidável épico sobre retidão moral e desilusão, o diretor Kenji Misumi (também ele, de “Lobo Solitário”) não se acanha em aprofundar-se nas questões complexas e arbitrárias que enevoam a hierarquia, nem nas emoções conflitantes que dificultam o cumprimento do dever, ao contrário do que fariam nove dentre dez diretores de ‘chambara’. Misumi investiga o investimento emocional e ético de ser um samurai com a mesma ênfase e voltagem que observa o sangue fluir nas batalhas de espada e, desse esforço, consegue extrair um filme poderoso, envolvente e absolutamente bem equilibrado entre uma trama de intrincadas ramificações políticas e um admirável filme de aventura.

Nenhum comentário:

Postar um comentário