quarta-feira, 25 de outubro de 2017

O Leitor

O maior mérito do filme de Stephen Daldry –que em “Billy Elliot” entregou obra muito mais satisfatória –foi ter possibilitado à Kate Winslet o papel pelo qual ela enfim conquistou o Oscar de Melhor Atriz, após anos recebendo indicações por grandes trabalhos e, não raro, vendo ganhar outras atrizes menos competentes e marcantes para o cinema do que ela.
No papel de Hanna, Kate é, de fato, a grande força por trás de “O Leitor”, embora seu protagonista, por assim dizer, seja o jovem Michael (vivido pelo jovem David Kross, de “Cavalo de Guerra”).
1958. Alemanha. Com apenas 15 anos de idade, Michael aos poucos envolve-se com Hanna, uma mulher mais velha, bela funcionária do carro do bonde, que parece ter um estranho fascínio em escutá-lo ler seus livros escolares. Marcado por sexo e por silêncio, o relacionamento é definido pela personalidade rude e impenetrável dela em contraponto a submissão do menino.
Após um verão inteiro juntos, ela o abandona e desaparece. Oito anos mais tarde, prestes a se formar em direito, Michael volta a reencontrá-la, agora acusada de crimes de guerra durante o Holocausto quando trabalhou em Auschwitz –segredo a respeito de Hanna que ele jamais ficou sabendo antes. Durante o processo (em meio ao qual o filme deslinda, na forma de flashbacks providenciais, o relacionamento entre Michael e Hanna), ele descobre um segredo que ela parece querer esconder de todo o mundo –inclusive dele próprio –mas, que representa também um dado fundamental para que ela seja inocentada.
Há uma outra linha temporal, transcorrida anos a frente, que coloca Michael já adulto (e interpretado por Ralph Fiennes) às voltas com as marcas poderosas que o envolvimento com Hanna deixou nele. Essas e outras facetas do filme de Daldry, contudo, soam acréscimos obsoletos diante do elemento que o torna válido de fato: A grande atuação de Kate Winslet capaz de equilibrar e alternar impressões distintas e até contraditórias numa personagem difícil, resignada, dura e humana, que recebe desta grande atriz um tratamento sensível e refinado.
Um filme emotivo, por vezes teatral demais, mas cheio de qualidades.

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