domingo, 25 de outubro de 2015

21 Gramas

Quando o corpo humano morre, ele perde 21 gramas. 
O que se vai com esse peso?A alma humana? 
Por meio de três histórias que se entrelaçam através de uma tragédia o diretor Alejandro Gonzales-Iñaritu tenta responder a essa pergunta, em sua primeira produção norte-americana após a premiada carreira de seu trágico e corrosivo "Amores Brutos"; que só não levou o Oscar 2001 de Melhor Filme Estrangeiro porque tinha pela frente "O Tigre e O Dragão", de Ang Lee.
Por meio de um pungente roteiro de Guilhermo Arriaga (que, durante algum tempo, compreendeu como ninguém as inquietações do diretor), Iñaritu conta a história de Paul Rivers (Sean Penn), um matemático que tem um problema cardíaco e definha enquanto está a espera de um coração para transplante, com baixíssimas chances de sucesso.
No outro lado do espectro narrativo (cuja cronologia embaralhada nos desafia a organizar mentalmente os eventos) está Christina Peck (Naomi Watts, fantástica) outrora esposa dedicada e mãe de família que agora sofre com a perda de seus entes queridos e é uma ex-viciada em drogas.
Há também Jack Jordan (Benicio Del Toro), um ex-presidiário que agora busca seu caminho pela religião, mas vive com a sombra do seu passado.
Em todos esses casos, testemunhamos essas pessoas numa espécie de 'antes' e 'depois', e é esse contraste que dá corpo não apenas ao drama superlativo que Iñaritu conduz tão bem, mas nos leva a questionar o rumo que tais pessoas tomaram para chegarem em desenlaces tão aflitivos: A grande sacada no cinema de Iñaritu e Arriaga, portanto, não está em cultivar surpresas almejadas pela grande maioria dos cineastas convencionais, mas sim ostentar ao público uma jornada tortuosa e certamente dilacerante cujos rumos ele já sabe, mas não os percalços que até lá conduziram. 
Todos os personagens aqui mostrados terão em algum momento seus destinos entrecruzados na construção deste impactante drama, e assim sendo não é nenhuma novidade o fato de sua estrutura narrativa muito se assemelhar ao trabalho anterior (e aclamado) de Iñaritu (o próprio "Amores Brutos") e vir a ser mais uma vez aproveitada no seu filme seguinte, "Babel".
Enquanto foram colaboradores, Iñaritu e Arriaga estabeleceram para si uma fórmula dramatúrgica que, durante o tempo que puderam, utilizaram para forjar dramas de altíssimo nível.
É provável que este possa ser considerado assim, o seu melhor exemplar.

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